quarta-feira, 28 de fevereiro de 2018

Deuses e desertos



Deserto, meu deserto sem Deus
Deserto, meu Deus, meu deserto
Deserto, meu Deus, sem deserto
Deserto, sem deserto, meu Deus
Deserto, sem Deus, sem deserto
Deserto, sem Deus, meu deserto

Deus, meu Deus sem deserto
Deus, meu deserto, meu Deus
Deus, meu deserto sem Deus
Deus, sem Deus, meu deserto
Deus, sem deserto, sem Deus
Deus, sem deserto, meu Deus

Talvez, Deus mesmo, não tenha feito nada
Nada além de sua brilhante criação
E distribuiu suas obras sobre o tabuleiro do mundo
E continua descansando desde o primeiro sétimo dia

Talvez, tantas palavras foram colocadas em seu nome
Por aqueles que encontraram no poder sua forma de sobrevivência
E desejaram controlar essa obra criacional e dominar esse mundo
E então, se sentiram como deuses de seu Deus

Talvez, Deus mesmo, esteja preso em seu próprio deserto
Feito refém de sua tão amada obra
Sem forças para remanejar suas crias
Entristecido no vale de lágrimas dos seus

Talvez, seja o deserto, o único lugar sem vida que Ele habita
Escondido, desarmado, amargurado com tanto sangue derramado
Tão calado quanto culpado em sua própria história 
Onipotente mas ciente de que o mundo quer ser deus

Talvez, tudo seja apenas um deserto de imaginações
Sonhos e lutas, utopias e emoções
Talvez, a razão seja o deserto e mais do que certo
Somos areia em sua memória, ou, meros peões

terça-feira, 27 de fevereiro de 2018

Girando o mundo pelo mundo



Graça e beleza, seus auges já tiveram
Para alguns sobreviventes deste mundo
O melhor padrão ainda o são
Graça e beleza, que em si carregam
Significados mais que profundos
Inteligência, ousadia, e coração

A sociedade requer padrões
De moda, luxo e etiqueta
Cria passarela em campo de batalha
A sociedade prega ostentações
Estipula metas e silhuetas
Impõe conquistas ao sangue de quem trabalha

A sociedade religiosa impõe a moral
Prosperidade que Deus concede 
Aos que são fiéis à instituição
Leis arcaicas dribladas pelos religiosos do mal
As mesmas regras não lhes competem
Pois eles, acima das leis, estão

Saudosos tempos idos de minha infância
Felicidade no quintal de terra
Simplicidade e boa imaginação
Inocência minha com a sábia ignorância
Meus soldadinhos e apaches faziam a guerra
E ao final dormiam na mesma caixa, sem arrogância

Fim de tarde na minha rua
Pés descalços na calçada
Riscos de pedra no asfalto
Brincadeiras sob a lua
Rodinhas de piadas
Com desmedidos risos altos

Não sei mais em que mundo estamos
Muitas graças sem beleza 
Muitas belezas sem graça, todo dia
Regras sem moral nos cerceando
Moralistas sem regras, a realeza
Ainda prefiro a loucura à hipocrisia

Crises - Parte I - Do conforto ao impacto



Que a fé ainda é objeto de estudos e de especulações, tamanha sua capacidade de alterar o estado emocional e motivacional de uma pessoa e, consequentemente, sua maneira de encarar a própria realidade, não há o que questionar. A fé no sagrado pode ser considerada um meio eficaz para a pessoa em busca de mudanças em seu próprio ser bem como o único "meio" para depositar sua esperança diante das variadas impossibilidades que surgem em sua vida. Infelizmente ela tornou-se também alvo de exploração por parte das grandes instituições religiosas sobre as pessoas de baixa renda.

Somos criados, na maioria dos casos, sob uma estrutura religiosa que é passada de geração em geração. Somos batizados enquanto crianças sem a opção de fazer a livre escolha, no caso dos católicos, ou, no caso dos evangélicos, após uma certa maturidade que lhe permita escolher, porém, não é uma escolha totalmente livre, uma vez que o ambiente familiar e os vários círculos religiosos influenciam sumariamente tal decisão. E é óbvio que o batismo ocorrerá.

Mas o fato de ser batizado para estar devidamente inserido na comunidade religiosa e assim fazer parte desse "grande corpo espiritual" e poder crescer sob a tutela institucional da moral religiosa não é o objeto da discussão. Amadurecer sob os pilares religiosos é, de certa forma, crescer numa zona de conforto e o problema real que levará às mais diversas crises, principalmente a de fé, será quando for necessário direcionar os passos para além desse reduto de conforto. E é fora do alcance das sombras religiosas que as regras básicas institucionais, que envolvem fé e moral, serão testadas. Esta será então uma nova zona, a zona de impacto.

As instituições de fé, de maneira geral, tendem a podar o ser humano com regras por vezes exageradas. Algumas dessas regras são datadas anterior à idade média, portanto, arcaicas. Uma grande dificuldade para o "fiel" pode ser a de ter que carregar uma enciclopédia de leis e coloca-las em prática em pleno século XXI, exigência essa totalmente institucional. Há uma disparidade que permeia a distância entre o berço de fé do indivíduo e o seu atual espaço de convívio e nesse vácuo surgem os conflitos de fé.

Quem nunca se sentiu um animal com tapa olhos quando, diante de novos entendimentos e compreensões sobre determinados assuntos, percebe que muito do que foi dito e imposto no ambiente religioso e familiar era um mero engano e um exagero em nome da fé? Claro que há alternativas para se compreender melhor uma vez que tais enganos e exageros podem ser frutos de uma consciência inocente ou ignorante tanto por parte de quem expõe como de quem interpreta.



Buscas pelo tempo



Eternas buscas 
Rebuscadas pelo tempo
De solidão, deserto e devassidão
De mansidão, inquietude e gratidão
Buscas constantes por objetivos fugazes
Que no findar das metas, a ausência é certa
E tão certa que uma outra meta se concretiza
São ciclos, para acalentar o espírito ou o ego
Ou melhor, para não sucumbir ao silêncio
E evitar o confronto eterno dos deuses 
De sua insana (in)consciência
Rebuscado pelas buscas
Eterno tempo
Se vai

terça-feira, 20 de fevereiro de 2018

"Meo Deos"


"Porque o meeeo Deos é um Deos de prosperidade! Porque o meeeo Deos é um Deos de fartura! Porque o meeeo Deos... é o Deos."

Bom, primeiramente, se existisse um deos para cada pregador, seja este um carismático católico, evangélico tradicional, pentecostal ou neopentecostal, que teima em exaltar o seo deos como se somente ele tivesse acesso direto a esse deos, nesse exato momento haveria uma superlotação de deoses no Céu ou no Olimpo. Engraçado é que esses discursantes se gabam e se colocam num pedestal diante da plateia hipnotizada, esta que compra a ideia de milagres imediatos providenciados com o deos do falastrão. Consideram eles, bem confortáveis de seu diferenciado patamar, que são canais únicos e que possuem um contato restrito com o seo deos, o que a maioria dos mortais não alcançam. Diga-me, ó sábio guru, de onde vem esse ópio que você utiliza?

O discursante, o discurso e o discursado, três partes de um contexto real e atual que compõem uma espécie de trama religiosa alá novela mexicana, que não muda em nada de uma para outra, uma vez que os adjetivos são sempre os mesmos, em suma pura água de batata. Hipocrisia, exagero falacioso e ignorância ou inocência, esses são os adjetivos encontrados em cada uma das partes simultaneamente.

A questão é simples, os discursantes (palestrantes, pregadores ou melhor ainda, discurseiros sem graça), por não terem mais o que inventar em seus falatórios exagerados ao seu público fiel, estão fazendo um caminho regresso à idade média, prometendo absurdos futuros e cobrando um preço caro e imediato. Discursos regados de entonações desafinadas, gritarias, línguas estranhas formam o esboço de um espetáculo da fé, e que através da mídia, é capaz de arrastar e alienar os desajuizados. Os discursantes, a grande massa, o alvo predileto das bandeiras religiosas, pois é essa maioria, ora inocente, ora ignorante ou ainda, se faz de cega-surda-muda, que sustenta os detentores da grande moral, diga-se de passagem, cristã.

Não há que se poupar nenhuma bandeira religiosa. Todas carregam não apenas o rastro de seu passado mas uma série de eventos atuais que contribuem para a o retrocesso do ser humano. O ser humano, em si, ainda não se sente à vontade para questionar os pilares institucionais da fé. O medo de blasfemar contra o um pseudo-sagrado e ser condenado ao inferno ainda assombra suas mentes.

Enquanto isso, cada um vai criando o deos que lhe convém...

quarta-feira, 14 de fevereiro de 2018

Otariano Bour-Scariotes



Otariano era um cara mediano nas convicções. Usava de modéstia para destilar uma simplicidade forçosamente teatral. Culto e intelectual eram os adjetivos que gostava de ouvir na boca dos alunos. Ah, atuava como professor. Suas aulas teatrais eram uma mistura de pensamentos modernos e antigos, regados de boas palavras e repetidas poesias. Nada de novo ou anormal para quem entendia e compreendia a pseudoemoção entre os tons e subtons de suas prosas, que se tornaram meras falácias. Tinha o dom de manipular o clima do ambiente, mas não por muito tempo. Tornara-se cansativo o assistir numa espécie de palco e holofotes que ele se dava ao luxo de produzir e se sentir o maestro da vez. Tolo! Não passou de um indivíduo cheio de manias, uma escória deprimente de um ser que denigre uma classe. Não merecia tantas considerações, tampouco estar ali. Um lobo bem disfarçado. Um judas moderno. Um falso ser escondido entre olhos, boca, ouvidos e casca. Um cara repugnante digno de todo o asco. E tamanha eram suas falcatruas que Otariano simplesmente se fodeu de verde-amarelo, num desfecho hilariante que ao mesmo tempo lavou a alma de muita gente. A ele, o meu total desprezo. 

terça-feira, 13 de fevereiro de 2018

O meu amor te deixou eterna


Eu já te amava sem te conhecer

Eu já te esperava sem saber

Foi um olhar que só o seu enxerguei

Um encontro de almas que tanto desejei

 

Ah o espelho me disse

Refletindo seus olhos em mim

Tudo nessa vida 

Tem seu começo, tem meio e fim

 

Mas se existe uma exceção

Com certeza é o que vale a pena

Que segue as regras do coração

E do sentimento que te fez eterna

 

O meu amor nasceu

Entre as pedras do caminho

O nosso amor cresceu

Entre leitos de sonho e carinho

 

O meu amor te deixou eterna


sexta-feira, 9 de fevereiro de 2018

Tempo: solidão e utopia

Já faz tempo...

Tanto tempo faz que as cores desbotaram
Naquela praça já não tem mais crianças
As escadarias foram cercadas com grade
Ali, onde se entoavam cantos 
Nas noites de céu estrelado
Hoje apenas o vazio mórbido
Como sinal de novos tempos
O que sobreviveu está apenas nas lembranças
Nas fotografias recortadas
A utopia, a inocência e a saudade

Já faz tempo... 

Tanto tempo faz que finquei raízes no mundo
Em busca desses novos tempos
Cortei meus sonhos de quintal
Voei de verdade rumo à capital
Mudei de casa, de cidade e de sonhos
Desacreditei dos discursos prontos
E valorizei a simplicidade da inteligência
Mudei meus mundos, meus risos
E senti na pele que tudo enfim muda
Os valores, os conceitos, os amigos
As dores, os amores, e as passadas

Já faz tempo 
Que o tempo não para
Tanto tempo faz
Que para o mundo parar
Meus sonhos tiveram de acordar


sexta-feira, 2 de fevereiro de 2018

Inquietações do mundo, desconstruções em mim


Em alguns instantes de puro devaneio várias questões me tiraram a leveza do descomprometimento universal. Sim, universal, pois esforcei-me para passar despercebido ao mesmo tempo em que nada quis enxergar. Tolo engano. Não tenho essa frieza viral dos donos do jogo sistêmico. Eles detêm as regras além do controle do tempo de jogo, bem como as cartas, os jogadores, a torcida, os juízes e tudo o mais que possam comprar ou usurpar. Esse tanto faz não me pertence.

Meus velhos fantasmas guerreiros ressurgiram e se rebelaram na fronteira do vácuo de meus pensamentos. Teimam eles em me interrogar sobre o sentido de estar aqui e agora. De modo massivo, questionam-me sobre o tipo de legado que estaríamos deixando, serão valores ou apenas instinto de sobrevivência que repassamos aos nossos? Dúvidas, incertezas, questionamentos, inquietudes...

Onde o ser humano existe irradia-se ambição, ganância, poder e destruição. Fato. E, à proporção com que isso se alastra, é descomunal e desproporcional ao se comparar com os poucos insurgentes que combatem o sistema armados apenas de esperança. Religiões de moral desvirtuadas e instituídas à base do sacrifício e da miséria humana formaram um verdadeiro império financeiro à custa da fé alheia. O resultado pode ser visto de algumas formas: para a massa, que tem sua fé manipulada e construída sem embasamento, custará o livre arbítrio e sua desobediência acarretará o castigo eterno (inferno); para os vendilhões e show-man's, que orquestram em seus palcos, altares ou púlpitos como instigadores do radicalismo institucional e do moralismo religioso, o resultado divide-se em poder, status, dinheiro e só.

E se elas (as religiões) continuam assim, o que se esperar de outros seguimentos como a política, por exemplo? Sim, as religiões não apenas "estão assim", elas "continuam assim" pois, desde os primórdios, sempre fizeram parte de algum golpe, alguma tragédia histórica, aconchavada com a política e com a elite interessada em poder, status e progresso, mesmo que tais ambições custem a vida e o sangue alheio.


Poucos são os que se revoltam com o que está imposto. Raros são os que ainda acreditam. Desapegar das instituições é um caminho não apenas de desconstrução que requer coragem, bom senso e, no mínimo, um pouco de esperança, mas não recear a solidão da estrada por onde andam todos os que se indispõem a conformar-se e a calar-se.

Acredito que, sendo devaneio, não tem começo nem fim. Não precisa ter uma resposta precisa diante de uma pergunta que nem sei qual é. Pouco me importa se a ala católica vai me excomungar por pensamentos que criticam o fanatismo doente da RCC, CN e outros afins, ou se ainda me indisponho e contrario os excessos moralistas incutidos nas entrelinhas dos documentos medievais... pouco me importa. Na verdade, foda-se! Aproveitando o gatilho, foda-se também os empresários da fé, de alas pentecostais, neopentecostais (primos mais velhos dos carismáticos católicos)...

Mais alguém? Vai um "foda-se" aí???