sábado, 22 de junho de 2013

21 anos e um fim antecipado



21 anos. O caminho escolhido por opção ou falta dela chegou ao fim. Refém das armadilhas contidas nessa escolha, a morte veio certeira, como que um pagamento antecipado. O corpo fora encontrado nas imediações do bairro. Segundo comentários a morte fora encomendada por alguém de dentro do presídio: o chefão. Com o chefe do tráfico não se brinca. 


Não conheço a pessoa em questão. Tive a oportunidade de ouvir parte do relato do irmão que carrega agora a dor da perda. Não bastasse, sofre também com a dor da mãe que com certeza deixará no caixão que se encerra parte de seu corpo, de seu coração, de sua vida. A família se quebra. Os cacos serão eternamente juntados. A lembrança do que foi bom ficará guardada. Independente do caminho tortuoso do filho, ela o lembrará carinhosamente como menino. 

A mãe carregará no peito não só a dor da perda mas também da decepção por não ter dado mais atenção ao filho ou por não ter percebido mais cedo que os passos do menino eram para direções erradas. Ela imaginou o melhor para sua cria. Jamais passou por sua cabeça que um dia, quando sua criança crescesse, se envolveria com gente perigosa e se perderia em caminhos de morte. A morte anda mais perto dos que se enveredam no submundo do crime. Tráfico é crime. A lealdade nesse meio dura pouco. A carreira tem uma ascensão rápida e o risco de queda é iminentemente maior. 

Muita gente ainda afirma que bandido bom é bandido morto. Não estamos em tempo de guerra. Não dá simplesmente para assistirmos inertes a estatística de baixas no contingente jovem aumentar gradativamente. E a quem culpar? Precisamos estabelecer um culpado. Óbvio. A família talvez! Especificamente na pessoa da mãe! Sim e não. Somos frutos de nossas escolhas. Somos reféns de uma engrenagem desproporcional e excludente. Na medida que o tempo passa, passamos a ser coadjuvantes desse sistema pelo simples fato de nos aquietarmos. Melhor: de nos omitirmos. 

Mocinhos e bandidos têm seus heróis. Depende da óptica. Depende muito mais de quem está no sofrimento pela dor da perda. Esse jovem poderia fazer parte de nossa família... As lágrimas poderiam ser nossas... Poderia ser eu ou você a enterrar parte de nossa vida, sem nenhuma chance de refazer a história de uma forma diferente e melhor. Nesse momento me compadeço das famílias que sofreram por perdas semelhantes, principalmente das mães que têm essa cruz para carregar nesse caminho de calvário que lhe resta em dias de sobrevida.

segunda-feira, 17 de junho de 2013

Romeu e Julieta, eternamente...


De ti nada quero
apenas te beijar
sem nada exigir
silenciar-me no teu olhar
e dos teu beijos extrair
o gosto em te amar
sem amar...

De ti nada espero
apenas que se entregue
mas que não se apegue
pra que não soframos
e assim sobrevivamos
e um dia então possamos 
viver e amar
ou nunca amar...

De ti nada tolero
apenas tua ausência suporto
pois o que há de se fazer?
adentro um mundo de mortos
para sem ti sobreviver
em sonhos sempre hei de te roubar
eternamente, minha, há de ser
mesmo que não possamos nem nos olhar
ainda assim haverei de te querer
e em teus beijos me entregar
sem jamais poder te amar...

In-versus


Ah,
Se a vida começasse ao contrário.
Se nascêssemos grande, se nascêssemos com experiência...
Como seria?
Seria louca?
Nasceríamos cientes, conscientes
Inteiros, intelectos, intactos,
Cidadãos formados, m
ais civilizados,
Mais... bem mais...

Seria como ver o mar se transformar em rios
Rios em riachos, riachos em córregos
Que mapeariam as terras mais longínquas
Que levariam suas águas por todos os cantos
Que saciariam a todas as bocas
Não haveria infertilidade
Não haveria desigualdade...
Não haveria escassez...

Seria como ver o fruto se transformar em flor
Seria ...
Seria a experiência de um adulto
Compactando-se na regressão do tempo
O tempo transformando a essência sólida
Em pureza de criança
E como criança, carregada de amor e esperança...

O tempo não se contaria mais...
O relógio não precisaria girar ao contrário
Bastaria a despreocupação das horas marcadas
Bastaria apenas saber que era preciso viver
Bastaria a vida: absoluta, prêmio, amor...

A morte não seria tão incógnita
Tão tenebrosa, tão traiçoeira
Misteriosa...
Não seria motivo de tanto medo, incertezas
Viver não seria sobreviver
Viver não seria preciso temer
Viver não seria preciso em si morrer
Viver não seria preciso pisar
Viver não seria disputar
Viver não seria derrubar
Viver não seria só vencer
Viver, seria...viver!

Mas a vida não é inversa
Nem avessa,
Travessa sim
Vida sem vida é fim
Fim é para quem não viveu
Vida sem vida é morte em vida!
Vida, vida, vida minha,
Louca vida
Varrida
Traquina
Vida é única, em linha contínua 
No tempo que se tem e se vive...

Talvez, se começasse ao contrário
Não haveriam tantos erros...

"Toda pessoa morre
Mas nem toda pessoa vive..."