segunda-feira, 31 de outubro de 2022

Alienação, hipocrisia, desrespeito: CHEGA!



Hoje, após compartilhar uma mensagem em diversos grupos que faço parte, falando sobre pessoas de opiniões políticas diferentes e que nem por isso sua índole e caráter são duvidosos, alguém postou em seguida, num determinado grupo, a imagem de uma "enxada" com os dizeres "Varinha mágica pra trazer cerveja e picanha". 

Refleti muito sobre a minha postagem antes de responder, se havia algo provocativo da minha parte, mas não. Foi uma mensagem encaminhada e de autor desconhecido. Segue: 
- "Aprendi que existem pessoas maravilhosas que votam no Bolsonaro e existem pessoas maravilhosas que votam no Lula. Há extremistas dos dois lados. A escolha por um desses candidatos não define o caráter de alguém. Ela é baseada nos conhecimentos e experiências de vida e sobretudo como cada indivíduo significou tudo isso. Isso não faz das pessoas melhores ou piores, são apenas pontos de vista e expectativas diferentes. No entanto, a forma grosseira de lidar, julgar e acusar o outro porque ele pensa diferente, supor que você é mais inteligente, vivido, esclarecido... enquanto o outro é alienado, ignorante, manipulado, isso sim diz MUITO sobre você! Cuidado com as projeções pessoais, elas tem mais a ver com a gente do que com o outro" (autor desconhecido).

Me senti não apenas no direito mas na obrigação de responder de forma clara, simples e sem perder a noção e limite do meu espaço. Minha resposta: 
- "Isso é lindooooo!!! Vejo com bons olhos e orgulhoso da minha origem. Meus pais e avós são da roça, da terra. Mas, teologicamente falando, sendo o crucificado alguém que veio das mazelas da pobreza, e teve ao seu lado todo o tipo de excluídos e pobres (ladrões, prostitutas) me sinto duas vezes abençoado."

Tentei refletir sobre essa imagem a partir de várias ópticas mas, em nenhuma eu consegui ver algo que não fosse pejorativo; foi apenas no sentido de debochar. E, debochar de quem é simples e usa de trabalho braçal e pesado para sobreviver, tal como pessoas que trabalham no campo, na lavoura, na roça soa estranho demais para quem se julga "do bem", "cristão" e "patriota". Me questiono se o que se passa em certas cabeças seria que "uma pessoa da classe dos trabalhadores braçais não poderia então tomar sua cerveja e comer uma carne melhor"? 

Sem muitos questionamentos, me apego em três pontos: a minha origem e ou minhas raízes; os trabalhadores braçais, em especial os que utilizam da enxada, defendendo a premissa de que todo trabalho é abençoado e digno; o olhar teológico que, numa simples passada de olho pelos diversos livros sagrados, em especial a Bíblia cristã, todos falam sobre amor ao próximo, falam em especial sobre os excluídos, as minorias rejeitadas pelo sistema, pelos doutores da lei, pelos homens do poder, pelos abastados que se encontram no topo da pirâmide. 

Sem trabalhar ninguém se mantém, ninguém sobrevive. A injustiça está em todo canto, em todo campo. Trabalho escravo ainda existe em pleno século 21. Meus avós não tinham boa escolaridade mas eram sábios em seus ensinamentos, lições e exemplos. A classe trabalhadora, operária, braçal, não pode ser resumida a isso. Enxada, foice, martelo são ferramentas e símbolos de quem trabalha de forma pesada, de sol a sol, em sua maioria com um salário de fome; têm suas mãos calejadas, rachadas, cheias de bolhas de sangue; suas peles são queimadas pelo sol e muitas pessoas aparentam mais idade que de fato tem. 

O dito "cidadão de bem" faz o bem para quem? O "patriota" usa seu patriotismo para defender qual tipo de valor? O "cristão" usa o "seu deus" pra acolher ou pra julgar e sentenciar? Usa sua religião pra libertar ou pra alienar? Usa sua oratória pra trazer amor e paz ou pra esbanjar ódio, intolerância, discriminação, guerra e morte? 

Seguindo os valores do evangelho cristão, prefiro estar com os loucos do que com os falsos; falsos esses que na expressão de Jesus eram os hipócritas do templo e da sociedade que batiam no peito mas era verdadeiros sepulcros caiados. Prefiro estar com os excluídos, os pobres, as putas, as LGBTQIA+ do que com a cristeirada hipócrita de armas na mão. A diferença entre os lados é que os bandidos da elite se vestem bem e são protegidos pelo sistema. 

terça-feira, 25 de outubro de 2022

Manoel de Barros por ele mesmo: frases e pensamentos

Fonte: "Só dez por cento é verdade" - Documentário - Netflix


Há várias maneiras sérias de não dizer nada, mas só a poesia é a verdadeira.

Me procurei a vida toda e não me achei.
- pelo que me fui salvo.

A palavra oral não tem rascunho.

Não saio de mim nem pra pescar.

Poesia é a virtude do inútil.

Poesia é o belo trabalhando.

Imagens são palavras que nos faltaram.

As coisas não querem mais ser vistas por pessoas razoáveis.

Eu não amava que botassem data na minha existência.
Nossa data maior era o quando.

Sou poeta em tempo integral.

O poeta tem o dom de transformar: alquimista.

Poesia que é explicada deixa de ser poesia.

Des-herói: o vagabundo do Charles Chaplin é o herói.

Poesia se dirige à sensibilidade.

Eu quero usar encantamento.

Já tenho árvores, flores e pensamentos.

Bernardo desregula a natureza.
Seu olho aumenta o poente.

Pode um homem enriquecer a natureza 
com sua completude?

Palavra de um artista tem que escorrer substância escura dele.

A criança erra na gramática e acerta na poesia.

Repetir-repetir, até ficar diferente.
Repetir é um dom do estilo. 

Eu tenho uma ânsia de não fazer lugar-comum.

Coisificação do humano.
Humanificação das coisas.

Divagando inutilezas...

Eu tenho muito orgulho de ser lido.

Tudo o que não é inventado, é falso.

Fonte: "Só dez por cento é verdade" - Documentário - Netflix

segunda-feira, 24 de outubro de 2022

Carta para minha irmã - Parte 1 do infinito



Eu não sei o que dizer
Porque nunca aprendi a dizer adeus
Cultivar a proximidade é o que eu aprendi a fazer
Não significa não saber cortar o cordão
Está além disso
Eu não seria eu se não te apoiasse
Mas também não seria eu pra deixar de te dizer "não vá"
Meu coração bate assim, pulsando pra que você não vá
Para que vocês não vão
Porque metade da minha vida aqui é vocês
Meus sobrinhos... 
Ainda não assimilei
Ver vocês crescendo e conquistando as coisas aqui
É motivo de muita satisfação e orgulho
Sabe que isso é de coração
Porque eu sempre te quis o melhor
E sou orgulhoso de você e por vocês
O meu lugar de fala sempre se manterá assim
No cuidar de perto
E cuidar, na maioria das vezes, é só estar perto
Mesmo sem precisar falar, nem ouvir, nem ver
Apenas saber que está ali
Penso que nunca quis sair do lugar, do meu lugar
Não queria sair de Piraju, mas me vi obrigado
Foi necessário
Tive meus arrependimentos
Mas tenho também meus motivos pra sorrir diante da escolha
Hoje é só o começo de uma longa jornada até a partida
Ou melhor, até a despedida...
"A vida se dá é no meio da travessia"
Nunca se esqueça disso
O melhor da vida não é apenas a festa, a conquista, o topo...
Toda a vivência e experiência adquirida nessa travessia
Faz parte, e temos que aproveitar ao máximo
Eu sempre estarei aqui
Eu apenas não sei o que dizer...
Minha eterna "Companheira"

sexta-feira, 14 de outubro de 2022

Um lugar chamado saudade



Hoje eu tô navegando num lugar chamado "saudade"

minha alma veleja pelas águas do pensamento

em oásis inexplorados de sentimentos

cercado de solidão

mas que em algum lugar do paraíso chamado vida

habita uma alma que me espera

habita você, que eu sei, é de verdade

Estou num lugar chamado saudade

te esperando e aqui eu vivo

entre a criança que sonhou

e o futuro que virá

no tempo desse presente

eu me entrego em tempo

mas se por uma desventura

suas mãos não mais puderem me tocar

adentrarei na próxima estação

embarcarei sem destino

e soltarei ao céu

o meu coração 

rumo ao infinito

para que ele possa voar

e te encontrar

no céu dos meus sonhos

O sequestro de Deus


As ciências que discorrem sobre a fé. A fé que atesta a ciência. Assim deveria ser, mas não é. Há mais que uma disputa de devotos e torcidas entre os opostos e divergentes. A briga é por uma verdade que ninguém detém. Verdade empurrada, à força, que soa mais como necessidade de impor e mostrar poder. Ganância pelo próprio poder. O poder que proporciona status. E para se impor, com poder, é necessário causar medo. E o medo aliena. E quando se aliena, qualquer mazela dita como "verdade", mesmo que não o seja, acaba sendo única, seja ela religiosa ou científica. Uma verdadeira deturpação de valores. 

Quando a necessidade de mostrar poder e força estão acima do bem comum, há no contexto um grande sinal de desvio de finalidade e, nos porta-vozes da alienação, um medo maior de perder o controle, o poder, e todas as regalias que o mesmo proporciona. 


Falamos aqui não apenas do sequestro de Deus através da religião, da fé ou mesmo da teologia que tem "Deus" como objeto de estudo mas, de todo os deuses pré-fabricados por quem deveria usar o "poder" para libertar e não alienar. As ciências, as políticas e todo tipo de radicalização que produz cegueira coletiva, alienação, polarização, extremismos inconsequentes, fanatismo, os quais geram vítimas. O Deus das religiões, o deus das ciências e por mais que a política seja uma ciência ou, em sua mais resoluta e simples tradução como sendo a "arte do bem comum", também produz o seu deus e este talvez seja o mais perigoso de todos, pois consegue manipular tanto as mentes "religiosas" quanto "científicas.


A religião deveria ser aquela que liberta a mente, que cura a alma. A ciência deveria ser aquela que liberta o corpo, que cura a matéria. A política deveria ser aquela que cuida de todos, sem distinção. Mas cada força desse tripé é controlado por pessoas que deturpam o objetivo real, e promovem "verdades" conforme sua própria intenção, necessidade, proteção de seus asseclas e no fim, o que deveria ser para todos torna-se uma megaprodução para poucos e uma retaliação para os que divergirem. 


Deus foi sequestrado em nome do deus do poder. A ciência foi prejudicada em nome do deus do poder. A política há muito deixou de ser a arte do bem comum para ser fonte de autoritarismo de quem está no poder que, como tal, usa o mesmo poder para proteger os comparsas à sua volta. Uma guerra de interesses onde a tirania assume um papel de mocinho e salvador, aliciando para si os deuses do poder.


Deus mesmo, continua sendo esquecido, encarcerado, morrendo nas esquinas, nas favelas, marginalizado. Deus, sendo amor, está deturpado até mesmo nos altares dos vendilhões e "mestres da lei". Vendem por aí os milagres da fé tanto quanto os da ciência, mas o milagre do amor ao próximo, muito mais real e necessário, já não existe nem nas tábuas dos mandamentos desses senhorios. 



segunda-feira, 10 de outubro de 2022

Potência e Autonomia de si



Nasce sob holofotes de silêncio, dor e solidão

O menino do reflexo no espelho que sorria

De um novo eu que já fora inteiro, 

Partiu em pedaços, tornou-se sobras

E que agora renasce entre escombros de castelos de areia

E paisagens desconhecidas e inabitadas rumo ao topo da montanha

Estações de travessias que registraram sentimentos

Ajuntando cacos, curando feridas e guardando cicatrizes

A dor do renascimento é maior que a do próprio parto

O medo da infância não supera o medo do desconhecido na experiência

Dentro dessa cela que me aprisiona em vidas

Esse novo eu é capaz de suportar traído e traidor, inocente e culpado

A luta é para permanecer vivo para alguém

Por amor, pelo amor, para o amor

Quero ser especialista de mim, desse eu de travessias

Desse eu transformado, marcado, dedicado

Que a beleza da tristeza seja sinônimo de força e sensibilidade

Coragem para as lutas

Em minhas pegadas pelas trilhas dessa jornada

Ficaram marcas vermelhas pelo caminho

Hora de amor, hora de sangue

As lágrimas do choro a só 

Era o mais puro e límpido que jorrava

Os meus inimigos sempre foram meus maiores mestres

E dentre estes, estava também o meu eu, 

O que ignorava minha realidade e sentimentos

Busco, luto, me derramo pela potência e autonomia de si

Numa espécie de libertação constante das prisões por onde passei

Meu ponto de desembarque final será tão somente

Quando não houver mais amor...

Enquanto isso...

"Ninguém deve deixar essa vida sem uma sensação de completude." (Sherlock Holmes)


Crítica: "Dahmer"



"Dahmer"... Respirar fundo é preciso...

Uma pausa para analisar a história recontada nessa série. É macabro, surreal, triste, carregado de angústia, dor, crueldade e ao mesmo tempo, com ausência de empatia, de sentimentos, de humanidade... Se é angustiante assistir, tento imaginar como deve ter sido a sobrevivência dos familiares das vítimas. Tento imaginar como cada uma delas passou suas últimas horas nas mãos de Jeffrey Dahmer. Porém, me abstenho de comentar o que já está bem explicitado em cada um dos 10 episódios da série da Netflix.

Em termos de estudo, para o aprendizado através das ciências que investigam comportamentos como o de Dahmer, vale a pena se atentar. Não dá para olhar com olhos clínicos somente sem se comover pelo lado humano. É um mix de sentimentos que envolvem ao telespectador. 

Da história em si guardo apenas o memorial de fotos das vítimas exposto no final do último episódio. 17 vidas ceifadas, carregadas de sonhos, desejos... Jovens que foram ludibriados por uma mente perturbada e ou maligna e a seguiram para um triste fim.

Atentei-me para um fato que foi contado nessa história e que, não sei se foi perceptível por outros olhares mas, o quanto algumas pessoas se sentiram envolvidas e atraídas por Dahmer após ele ter sido preso. A quantidade de cartas de pessoas que se declaravam como fãs e seguidores era enorme. A maldade também atrai adeptos, mesmo que seja uma maldade que esconde diversos transtornos. 

Transfiro agora para a atual realidade em que vivemos uma acirrada "briga" política. Pretendo ser objetivo em minhas colocações. O bem inspira o bem tanto quanto o mal conquista seguidores. Levando em consideração o tipo de discurso que ouvimos dos candidatos e seus seguidores é nítido entender quem prega paz e quem prega guerra, quem distribui valores e quem escancara manifestações de ódio. 

A exemplo de seus líderes, os seguidores tendem a extremizar aquilo que fica explícito nos discursos e nas ações. Até mesmo a forma de se referir ao adversário, de forma pejorativa e negativa, pode estimular de crianças a idosos. Como combater o bulling nas escolas se temos candidato que trata o outro com falta de respeito? Como combater a violência se o mesmo incita seus seguidores a "metralhar" os do adversário? Como lutar pelas minorias, pelas mulheres, se o mesmo faz piadas, desrespeita e passa um péssimo exemplo à sociedade?

Dahmer ficou conhecido como um serial killer que dopava suas vítimas, praticava alguns procedimentos considerados bárbaros e depois delas mortas praticava o canibalismo. Ainda assim, diante de tantas histórias de perversidade pelas quais suas vítimas passaram, encontrou fãs e seguidores que o idolatravam. 

Hoje, diante do que vemos e ouvimos através de uma análise de conjuntura na política nacional, bem como somos vistos por entidades internacionais de renome e até por líderes de outros países, podemos comparar que o mal, em suas mais diversas formas, atrai seguidores fiéis que estão dispostos a matar em nome de sua nefasta ideologia. 

Nessa era de explícita tecnologia, a desinformação é o carro chefe de quem joga sujo. A polarização chega ao ponto extremo de inventar mentiras para confundir quem não entende e ao mesmo ponto serve para escancarar o mal que habita no lado sombrio do humano mas que agora encontrou um porta-voz que dá liberdade e proteção para seus asseclas cometerem as mais diversas atrocidades. 

A diferença entre Dahmer e um certo candidato brasileiro é que o serial killer matou 17 pessoas enquanto que o "tal" pratica crimes de todas as formas possíveis, seja por ação, omissão, incentivo ao ódio que resulta em ataques contra opositores, acobertamento de seus comparsas, e uma ditadura velada, sem contar as ameaças às mais diversas instituições de poder. O crápula deixou um rastro de mortos, simplesmente por necessidade particular de boicotar as vacinas...