quinta-feira, 31 de dezembro de 2020

2020, o ano que não terminou



2020 poderá ficar marcado para sempre como o ano que nunca se acabou. As consequências de tudo o que vivemos e passamos serão marcas eternas em nossa vida, em nossa alma. 

Muitos distantes que se fizeram próximos, muitos próximos que se distanciaram. Enquanto fomos obrigados a usar máscaras por um bem maior, muitos seres tiraram a máscara e mostraram sua verdadeira face.

Vidas se perderam e com o distanciamento percebemos o quanto um tato, um contato, um abraço faz falta.

Se eu tiver que escolher algo em que acreditar e levar para o próximo ano, se eu puder ter esperança em algum sentido, depositarei toda a minha fé na Justiça, a dos Homens e a Divina.

Que 2021 não seja apenas o reflexo ou simplesmente a sequela do que passamos até agora, mas que realmente seja um ano de muita humanidade, sensatez, esperança, fé, e que o sonho jamais se acabe... "E que a maior revolução seja o Amor!"

Feliz Ano Novo!

sexta-feira, 18 de dezembro de 2020

Esperas ou esperança?



Na busca diante das incertezas se vive a sentenciada espera... Espera pela vitória, espera pelo alívio, espera pelo alcance de uma meta. Pouco se fala do tempo de espera que também é de tentativas, frustrações, derrotas, lona, dores, suor e lágrimas. Esse é o tempo do aprendizado, que em sua maioria é cercado de medo, dúvidas, sentimentos de desistência, escuridão e tempestades. Há um fio que permeia ambas as margens, que podemos considerar como sendo a esperança ou a falta dela. 

É preciso se apegar para não ser um náufrago em terra firme. Afundar no medo e na incerteza é não crer em si mesmo, é podar a esperança de que um dia a vitória será certa. Mas antes da esperança, o sonho se tece. E em cada pedacinho costurado nesse sonho, vamos alicerçando sua realização. Espera sem luta é vã. Desistir sem tentar é não se acreditar. 

"Todo ser humano pode. Se tem algo que o ser humano pode é poder." Há algo que está implícito nessa frase de efeito e empoderamento de gênero que é a capacidade humana além do poder, o pós poder. Há quem não saiba o que fazer com o poder alcançado e mete os pés pelas mãos. Todo ser humano pode sim, mas nem todo ser humano é capaz de lidar com a vida depois. 

"Todo ser humano morre, mas nem todo vive." Essa sim é uma frase épica, pois o que mais se vê são defuntos vivos, gente que habita um corpo mas não vive a vida. Deposita todas as fichas na conquista dos materiais diversos enquanto a balança da essência flutua sem peso. Se tem algo que o ser humano, independente do gênero, devia se dedicar era para a vida, a vivência.

Longe de embarcar nessa vibe de coaching que vagueia entre frases de efeito e insigths de auto-ajuda, terapia, psicologia e não conclui muita coisa além do que já conhecemos. Daqui deste reduto só poetizo a problemática que retumba à minha volta. 

O tocante desse contexto abordado em um emaranhado de pensamentos livres e devaneios necessários surge num momento ímpar, momento em que liberdade e libertação se alinham, dialogam e se confrontam. São apenas os ecos das vozes que coabitam entre corpo, alma e coração e buscam deliberadamente o canto em que o encanto permanece pairado no nosso recanto.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2020

Entre desertos e trincheiras

 

Entre um deserto e uma trincheira a vida se tece
Durante meus desertos carreguei o peso do meu próprio mundo
Com minhas livres decisões e também com aquilo que me foi imposto
Em minhas trincheiras reencontrei quem já partiu
E aqueles que merecem toda confiança e amizade
Lágrimas e suor limparam qualquer vestígio de dor
Aquilo que chamam de derrota eu trato como lição e aprendizado
Tombo e lona não são vergonhosos
Vergonha e desonra é para quem foi desleal
Estes, sempre serão lembrados por seus atos covardes...

Entre um deserto e uma trincheira, o pensamento e a luta
Minhas manhãs de deserto, sem brilho e sem sol
Solidão a sós, em nós, nas lutas desarmadas, desalmadas
Trincheiras da vida, da lida, da labuta
Poeira nos olhos, calor, dor, presença
Há quem nunca ouse acreditar
Há quem nunca queira sonhar
Mas há quem só quer lhe roubar
A esperança, o sonho e a vida
Sua própria travessia... 

Entre meus desertos e minhas trincheiras...
Ah, quanto medo derrotado, quanta dor perdoada
Entre meus mundos, eternas lições
Entre meus devaneios, anjos e demônios
Entre o sonho e a realidade, fantasmas e esperanças
É assim, é a lida, é a vida... meu saber, meu querer, meus sonhos
Ninguém rouba, ninguém tira, ninguém mira
Só quem tem a chave e conhece o desejo, o segredo
É capaz de decifrar, sentir, pulsar,
Tanta ternura, loucura, amor... 

Entre vitórias e derrotas, a vida e a morte
Há quem sabe um tanto de suor e um dedo de sorte
Mas poucos conhecem a dureza das batalhas
Foco na intensidade das pegadas, e me afasto das migalhas
Maquiagens não me distraem, imagens não me atraem
Em meu rumo e meu foco só cabem essência
Lado a lado, de mãos dadas, pés descalços
Descarto a frieza da mórbida aparência
Enterro vivo os corpos desalmados
E assim cicatrizo meus próprios machucados...

sexta-feira, 4 de dezembro de 2020

A vida, a travessia, o amor e a solidão


 A vida é estranha, mas também engraçada. Ela é difícil, repleta de desafios, surpresas, decepções, conquistas, derrotas, suor, lágrimas e sangue... Tudo isso e mais um tanto de considerações fazem parte da ação, do "viver a vida", da travessia que fazemos desde nossa concepção no útero materno até o apagar das luzes. 

Noutra óptica, ela é o oposto de morte. Lançamo-nos o desafio diário de viver intensamente porque ela é uma só. A morte é certa, é a parada final, o encerrar do espetáculo. E quando as cortinas se fecham, sobram apenas as lágrimas da plateia. 

"O tempo que escoa não permite despedida
Todo dia ecoa uma nova chance
Todo dia destoa uma eterna partida
Há quem nunca mais alcance
Viver a vida como haveria de ser vivida" ("Espelho da Alma" - Cá de dentro - A.D.O. - 2015)

Sempre ouvi histórias sobre maritacas, de que elas formam casais inseparáveis até o fim de suas vidas. Pesquisando sobre, pude conhecer a diversidade de nomes e suas variantes de cor que predominam em determinadas regiões do nosso país. Claro que existe sim um certo exagero, que alguns consideram como mito a questão da fidelidade de seus pares. Por razões diversas, a formação dos casais pode se dissolver ao longo do tempo. Como eu disse, por razões diversas que não cabe explicar aqui. O que há de interessante e romântico nisso é que em sua maioria, os casais são eternos e quando um deles morre, o outro tende a viver só.

Essa experiência eu tenho acompanhado de perto, aqui onde estou. Notei que uma maritaca tem se aninhado sob a aba do telhado na lateral da casa. Quando passo por ali ela bate as asas em disparada e voa pro alto dos coqueiros. Está sempre só. Parece esconder-se do mundo. Recolheu-se em luto num cantinho incomum. Animais também sofrem de amor e solidão...

"No repente do tempo
O tempo de repente se vem
No repente do tempo
O tempo de repente se vai" ("No repente do tempo" - Cá de dentro - A.D.O. - 2015)

A vida é um exagero... e vai da ação de cada um para entende-la como boa ou não. Prefiro crava-la como um presente único que recebo diariamente. Que, no decorrer do tempo, tenho a oportunidade de vivenciar, experimentar, degustar, saborear, lutar de forma intensa por mim mesmo, pelos que amo, pela sobrevivência, pela essência... Não serão objetos adquiridos ou construídos que deixarão memórias de quem partiu. Mas, a ação da construção, o tempo dedicado, o sorriso aberto e o pensamento calado que se eternizarão...

"Vida na memória...
é o som que reverberará por toda a história" (A.D.O. - 2019)


segunda-feira, 16 de novembro de 2020

Malabares da vida

 


"Se você tivesse acreditado nas minhas brincadeiras de dizer verdades
Teria ouvido verdades que teimo em dizer brincando
Eu falei muitas vezes como palhaço
Mas nunca desacreditei da seriedade da plateia que sorria"
Clarles Chaplin

O semáforo avermelha para os motores
Enquanto que na contramão das cores
Alguém se exibe com seriedade e atenção
Como se fosse sua última apresentação

Num piscar de olhos bolas giram pelo ar
A sincronia perfeita dos objetos coloridos a desenhar
Traços elípticos que se formam pelas mãos da artista
Para alguns artista, para outros pessoa não quista

Na calçada um carrinho de bebê espera parado
O filho repousa enquanto a mãe faz seu trabalho
Vidros que se fecham, mãos que se estendem
Entre um passo e outro o sorriso sincero que não mente

Quase uma súplica por uns trocados
E quando os motores partem acelerados
A mulher retorna seu olhar e atenção
Para onde bate forte seu coração

Penso que entre seus sorrisos e suores
Há muitas lágrimas camufladas de dores
Sem serem notadas pelos olhares motorizados
O equilíbrio maior é se manter firme e focado

Pessoas que vivem se equilibrando entre os dias
Na linha tênue impostamente margeada pela hipocrisia
São vítimas de uma invisível guerra
Do poder que contaminou esta terra

Quem condenou com o olhar da intolerância
Demonstrou que abundante é o veneno da ignorância
Extirpou o pouco de humano que ali existia
Enrijeceu seu coração e tornou sua alma fria

Entre os malabares da vida
A maior luta não é por comida
É não se abalar pelo olhar indiferente 
E ser tratado com respeito, como gente

sexta-feira, 13 de novembro de 2020

Retratos do meu interior

"Ter uma casinha branca de varanda
com quintal e uma janela só pra ver o sol nascer"


Eu vim de lá do interior, duma casa simples de chão com vermelhão, terraço adornado com primaveras e um jardim repleto de variedades: roseiras, samambaias, copo de leite. E uma horta bem diversificada, com couve, quiabo, alface, limão, laranja, acerola, cebolinha, abóbora, alecrim, hortelã... Era o meu reduto, meu mundo, meu recanto sagrado... o meu interior.. a casa de meus avos. 

Este quadro tem uma conotação diversificada. A elaboração, a visualização gerada na mente até a construção de cada detalhe, tudo feito com materiais naturais. O simples, o rústico, a leveza de um retrato interiorano que traz memórias de um passado vivo, saudoso e repleto de amor. 

Numa outra óptica, a paisagem retrata um sonho, o sonho da paz e do amor vivido com profundidade na infância, adolescência e juventude, na casinha simples com terraço, jardim e quintal. As lições de sabedoria deixadas por meus avos. A capela, símbolo de fé, que remete ao sagrado, das lições de vida às cobranças sobre conduta e religiosidade que minha avó mantinha firme e acesa. O poço, a água, a natureza, que me remete à luta, às grandes lutas da vida travadas diariamente. A água, que contorna seus obstáculos, que vence sua batalhas e modifica a paisagem ao seu redor. 

Histórias e lições que trago vivas no coração. Lembranças de um tempo que não volta mais. A imagem do quadro é diferente do retrato da casa de meus avós, ainda bem fresco na memória. Há uma mística nisso tudo que ainda levo tempo e silêncio pra compreender e decifrar. Serve para lembrar do passado, do alicerce, da saudade, do amor, e muito mais para alertar que um dia, um dia tudo se tornará pó ou memória.

A cada tempo, em cada estação, em cada travessia após uma longa jornada, me pego de volta nesse interior. Por hora, é o meu refúgio, guardado num lugar especial e exclusivo, onde o acesso se dá de tempos em tempos ou quando se faz necessário. Já fiz esse caminho diversas vezes, ora feliz e vencedor, ora derrotado e destruído. E quando me pegava a desanimar era ali, aí nesse reduto de interior que encontrava o meu descanso, o meu alento. Aonde minhas lágrimas eram secadas, meu suor enxugado e minhas feridas curadas no tempo e na saudade.  

Eu vim de lá do interior...




quinta-feira, 12 de novembro de 2020

A alma, o interior e o amor

Há quem diga que o sorriso é o reflexo da alma...
Calma!
Nem toda alma se mostra 
nem todo sorriso é real 
nem toda pessoa é humana...
Não é de todo mal acreditar no que se vê,
por mais que seja meramente superficial.
Afinal, o erro não está em não perceber a superficialidade
E, que não haja autocondenação,
pois quem camuflou a verdadeira face
é que perdeu a chance e o crédito da autenticidade
O mundo é assim, repleto de pessoas frias,
egoístas, calculistas, oportunistas, e totalmente infelizes...
pois não existe felicidade no interior de quem vive de aparências
Aliás, quem assim vive desconhece a essência, o interior
Aparência e essência não se misturam!
E o resto,
ah o resto é azar da maquiagem de quem camufla a falsidade. 
Porque o interior é para quem sabe amar
E é lá, só lá que se é feliz.



domingo, 13 de setembro de 2020

O dia que precede o amanhã


Após um longo e obsequioso tempo de silêncio e reflexões, enfim resolvi aparecer para simplesmente agradecer. Tempos difíceis de espera mas também de muita gratidão. E ter o privilégio de agradecer às pessoas que te acompanham de perto ou de longe, mas sempre presentes, é algo que não pode ficar guardado apenas no pensamento. 

Desde 2009 em Uberlândia guardo comigo uma frase ou melhor, uma experiência e uma lição de vida. Na primeira casa onde morei aqui nessa cidade, precisei do serviço de um senhor, meu vizinho, para consertar um cano quebrado. Após o serviço concluído eu perguntei o valor e ele se recusou a cobrar. Insisti para pagar por seu serviço, uma vez que tomou tempo e mão de obra, mas a única coisa que ouvi foi: "Estamos aqui uns pelos outros". A cada dia que passa essa frase tem mais peso e mais sentido na minha vida. Sim, estamos aqui uns pelos outros...

Carrego também desde sempre, os ensinamentos dos meus avós e consequentemente dos meus pais: "honrar sua palavra". Entendo hoje que honrar com a palavra, mesmo que isso lhe cause certo prejuízo, é também honrar seu nome, sua família, seu trabalho, seus amigos e todo o seu legado. 

Sem mais delongas, nesse tempo de agora, quero apenas agradecer. Foram momentos intensos e difíceis vividos de forma contida. Na maneira de cada um, em conversas demoradas ou apenas poucas e objetivas palavras, tudo me serviu para estar onde estou e da forma como estou. 

Obrigado:
Felipe e Joaquim, meus filhotes, razão, emoção, explosão de sentimentos que não cabem em palavras.
Cinthia, minha irmã, amiga, confidente, eterna companheira.
Mãe, por sua prontidão e sentimento de proteção.
Pai, mesmo longe, seu exemplo de simplicidade e honestidade é causa da minha admiração.
Heloise, ex-patroa, eterna amiga e irmã.
Jane, minha grande amiga.
Fábio, amigo, irmão e compadre.
Patrícia, Juliana e Márcia, obrigado pela oportunidade de fazer parte dessa Família Localider. Hoje, mesmo longe e sem saber, vocês contribuíram para minha vida e crescimento em todos os sentidos. Obrigado pela confiança e é motivo de orgulho fazer parte dessa equipe, dessa Família!

E a tudo o que é vivido nas entrelinhas de cada dia e por detrás das cortinas desse palco chamado vida!








quinta-feira, 3 de setembro de 2020

Encontros, desencontros e reencontros



A história por trás da música "Amigos, passe o tempo que passar". 

Comecei a escrever essa história em setembro de 2020. Estávamos na pandemia. Reunimos num grupo de whatssap, os participantes do grupo de canto da comunidade de Nossa Senhora Aparecida, na vila Cantizani. Já fazem mais de 30 anos... Reunimos a maior parte dos integrantes da época, gravamos uma música e homenageamos a nossa coordenadora, Ivone.

Para falar da música é preciso contar um pouco dessa história e voltar no tempo. O ano devia ser 1988 ou talvez 89. Uma das coisas mais almejadas na Comunidade de Nossa Senhora Aparecida, ou Comunidade de Cantizani, era participar do Grupo de Canto que, na época era coordenado pela Ivone. A bandeira de cor verde, que representava nossa querida comunidade, era algo que transcendia nossas emoções. Era motivo de orgulho fazer parte dessa comunidade e continua sendo orgulho fazer parte dessa história.

Nesse ano (88/89) no corredor da Igreja de Nossa Senhora Aparecida, após o término de uma missa de domingo, recebi o convite da Ivone para fazer parte do grupo de canto. Justamente nesse exato momento, o Fábio passava por nós, e num impulso eu pedi pra Ivone deixá-lo participar também. E assim, lá estávamos nós. Esse foi nosso primeiro grupo. Os anos seguintes seriam uma espera para podermos participar dos grupos de adolescentes, uma vez que só podia entrar quem concluísse a Crisma. 

O grupo de canto da Ivone, como era chamado recebeu um nome, "Grupo de Canto Irmãs Cristiane e Iolanda", uma homenagem a essas irmãs que se dedicaram à nossa Comunidade com muita humildade e amor. Foi nesse grupo que crescemos, amadurecemos, vivenciamos crises típicas da idade, enfim vivemos muitas coisas e a mais bela foi a amizade. Passeios, retiros, festivais, bailinhos, Missas, procissões, vivemos o esplendor de nossa adolescência, aproveitando ao máximo os momentos de cada encontro. Amizades que foram o alicerce de nossas vidas. 

Uma das coisas que mais me consumia era o fato de saber que muitos ali daquele grupo iriam trilhar seus caminhos fora de Piraju, fora da comunidade, distante daquele grupo: "Nunca te esquecerei e as nossas brincadeiras". Eu não queria deixar aquele grupo, aquelas amizades. Na minha mente, ninguém deveria sair. "Sentirei saudades se for mesmo embora". Eu sabia dos planos futuros dos meus amigos e amigas. Infelizmente em algum momento todos partiriam para algum canto. 

Aquele grupo de canto e de amigos, era algo motivador, inspirador. A música marcava as relações, os dias, e também o nosso crescimento. Coisas típicas da adolescência, tínhamos uma espécie de superproteção um pelo outro. 

Da Cantizani para o whatssap, assim foi o nosso reencontro, que de fato aconteceu na melhor hora. Foi ótimo reencontrar os amigos, recordar momentos, matar a saudade.

Penso que toda a inspiração da música "Amigo" só foi causada devido a tudo o que vivemos e da forma como vivemos. Se não fossem amizades sólidas da época talvez a música nem existisse e se existisse talvez não faria sentido algum. 

"Passe o tempo que passar
Pinte o clima que pintar
Você sempre vai estar no meu coração
Porque amigo és tu que me amparou quando eu mais precisei
Do meu lado, te encontrei... AMIGO"

(03/09/2020)

terça-feira, 12 de maio de 2020

O valor de todas as coisas

Foto: Por do sol - A.D.O. - 2015

Tenho uma certa mania de olhar para coisas descartadas à margem das ruas, nas calçadas, em qualquer lugar e logo imagino no que aquilo pode se transformar. Acostumado desde sempre a guardar objetos sem valor e até sem serventia, tenho acumulado ao longo dos anos um verdadeiro arsenal de futilidades ora deixadas pela natureza ora descartadas pelo ser humano. É certo que qualquer coisa deixada pela natureza acaba se transformando em parte da própria natureza. Em outras palavras "Na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma", afirmou Lavoisier (1743-1794)

Trago comigo algumas lições que aprendi com meus avôs e faço questão de sempre lembrar aos meus filhos e amigos. Meu avô materno, Joaquim, num certo episódio quando eu tinha uns 16 anos, ao me ver com dificuldades para atravessar uma corda por dentro da fita de uma rede de vôlei, arrumou um galho de árvore, afinou a ponta e fez ali uma espécie de guia. Em menos de 5 minutos a corda estava passada de ponta a ponta. E pensar que antes dessa mãozinha genial do meu avô, eu levei mais de 40 minutos para passar apenas uns 2 metros de corda... 

Já com meu avô paterno, Benedito, por diversas vezes cheguei de surpresa em sua casa e presenciei ele consertando trincas na parede, colocando amarrações de ferro, arrumando encanamento. Verdadeiros homens não letrados mas de uma sabedoria ímpar. Ensinaram-me, muitas vezes sem dizer uma palavra, apenas com o olhar atento e repleto de afeto, saberes que nenhuma escola me proporcionou. Essa é a escola da vida, da minha vida!

Talvez, diante de tanta lição de vida que me foi deixada no silêncio do olhar e na saudade, é que faço questão de cultivar o simples, o improviso, olhando para as coisas deixadas e descartadas e vendo ali uma possibilidade de mudança, de transformação. Posso dizer que não vejo coisas, eu vejo arte!

E por isso, quando posso, dispenso a facilidade de comprar o pronto. Me nego a aceitar que só exista a opção do já pronto, até porque a maioria é descartável. As coisas não são duráveis. Entendo que a lei do mercado seja essa "vender algo que não dure". Objetos como a mesa e as cadeiras que meus avós maternos ganharam de presente de casamento e hoje estão comigo, perfeitos, intactos, não destruídos pelo tempo, dificilmente são comercializados. Quando se encontra algo assim, de qualidade duradoura, o preço é praticamente inacessível.

Novamente, prefiro a opção imaginada e criada, da construção que se torna única para cada objeto. O caixote que virou mesa, o pneu que virou assento, a casca do coqueito que se transformou em abajur, a tábua de passar que virou carrinho de rolemã, e por aí vai. Sem contar os inúmeros improvisos para consertar coisas, usando apenas objetos desse arsenal de futilidades descartáveis. 

Transformar, construir, lapidar, são ações que provocam mudanças não apenas no objeto em si, mas no cenário, no olhar de quem se presta a enxergar a arte no simples e principalmente no pensamento. Precisamos de tão pouco para essa vida mas acabamos lutando ou brigando por conquistas materiais, que por vezes servem apenas para satisfazer o nosso ego de ter. 

Encontrar valor nas pequenas coisas, transformá-las e dar vida, é mais que arte, é poesia. Sou um verdadeiro amante do simples, da vida... Sou apenas um sonhador do tempo... Nas palavras do grande cantor Vander Lee, na música "Alma Nua"

"A magia de nunca perder o brilho
Virar os dados do destino
De me contradizer, de não ter meta
Me reinventar, ser meu próprio Deus
Viver menino, morrer poeta"




sexta-feira, 8 de maio de 2020

Carta para a próxima vida


O mundo me cansou... Por muito tempo não o reconheci mais como o meu lugar. Até porque as pessoas que sempre foram minhas referências, partiram cedo demais e deixaram aquele vazio, que por vezes parecem sombras no meio do caminho... 

 Me esforço para reencontrá-los entre as flores, os versos, as melodias... mas tem dias que não são dias, são pedacinhos de um inferno inimaginável que teimo em sobreviver como a uma guerra. Me esforço e me reencontro com seus rostos pairados à minha frente reverberando frases, pensamentos, conselhos... e muita saudade.

Meu violão também sucumbiu ao cansaço de um tempo pálido e frio. Sem acordes sofreu com a ausência da vibração de suas cordas e vez ou outra soava tristemente quando algumas notas lhe eram tocadas... Sua madeira, também já cansada pelo tempo, lamentava o tempo sem DÓ.

Meus versos, se perdiam entre os espaçamentos do tempo. Vez ou outra brotavam faíscas de esperança, em olhares que me refletiam amor, amores... que de tão sem jeito, se tornavam perfeitos. 

Minha voz deixou de gritar... Mãos sem lutas e pés sem caminho levaram o corpo ao desequilíbrio do coração. Meu avesso tornou-se refúgio e somente poucos e loucos recebiam o convite do olhar, a sentar-se comigo no alpendre da alma... território íntimo, simples, selvagem, seleto, intenso e verdadeiro.

O mundo sempre foi o palco mais habitado da vida. Cortinas, holofotes, improvisos, risos e lágrimas... A plateia? Ah, do palco do meu coração só permiti os olhares benditos e amorosos. Descartei e expulsei do meu cenário tudo o que não condizia com o enredo... Matei meus próprios demônios. Enraizou o que sempre foi real, único e, novamente, intenso e verdadeiro.

Certas cenas eternizaram-se pela janela da alma e no lugar dos olhares já partido, plantei flores. Fiz o meu próprio memorial com versos de suor, lágrimas e sangue. Reguei a saudade do que ficou oculto entre os brilhos de cada olhar, bem lá no horizonte, onde a fonte do verbo amar jamais deixou de derramar...

Olho pelo retrovisor e vejo que sim, o mundo me cansou, mas encontrei na poesia do amor, o descanso para os olhos, o coração e a alma.


Isolamento mental


O que já estava ruim ficou pior. Momento crítico que a humanidade vive. Não bastasse todo tipo de atrocidade natural já existente, ainda somos obrigados a aturar aquelas geradas no útero humano, ou em certos casos, no intestino que ocupou o lugar do cérebro. 

Exato! Tem muita gente que só diz e só faz merda! E continuam fazendo porque encontram público fiel que, não apenas é conivente com a situação, ficando em silêncio, mas apoia literalmente ações que vão contra a razão e a natureza humanas. 

Não tem como torcer para isso crescer e dar certo! Merda não cresce e não dá certo, apenas fede! 

Ainda me deparo, no dia a dia, com pessoas que criticam o passado político do país para justificar o apoio a este retardado eleito. Injustificável! 

E, em meio a essa pandemia, enquanto nos protegemos com procedimentos e cuidados, máscaras, álcool gel e isolamento social, percebo com maior clareza que muitos rostos sempre utilizaram máscaras para realizar aquele discurso com requintes de falsa moral na tentativa de justificar seus atos. Falsa moral que está enraizada em canteiros religiosos. 

Hoje, entendo que o maior isolamento que precisamos realizar é o mental. E isso se dá de forma curta, direta e, se necessária, grossa, principalmente. 

Blindar a nossa mente e colaborar com as pessoas que amamos, que estão à nossa volta, para que não entrem no transe dos retardados que dizem amém e acham graça diante das desgraças do idiota no poder e seus asseclas, é um grande passo. 

Não dá pra pra bancar o inocente e fingir que o problema não é meu. Não dá pra se fazer de ignorante e dizer que a culpa não é sua. Não dá, principalmente, pra tolerar quem é conivente. Conivente com retardado, retardado é! E ponto! 

Se você gostou, ótimo! Se não gostou, foda-se!!!

quinta-feira, 7 de maio de 2020

E o que restará de nós?



E o que restará de nós?
Presos por fora de nós mesmos
Preocupados com o aquilo que conquistamos
Seguimos pautando nosso tempo
Em controversas decisões alheias
Aguçando o ego frio da falta de essência

E o que restará de nós?
Mazelas de raças insensíveis
Guardiões da história, da (falta) memória e do mal
Autor e vítima de seus atos e desgraças
Com juízos aguçados na pseudo-moral
Com interesses terceiros e obscuros
A perder-se nas sombras das aparências

O mundo perdeu o juízo
O ser humano perdeu a alma
E a vida deixou de ser plena
E então o amor virou ódio
A paz virou guerra 
E, novamente a vida ficou sem valor
Sob as mãos de quem deveria cuidar
E o que restará de nós, 
sem alma, sem amor, sem vida...?


De repente, a poesia o libertou


De repente o menino cresceu...
Os meninos, amigos de tantas lutas 
branquearam seus cabelos, 
assim como os pelos de minhas barbas
Vieram dias e noites e tudo ficou lá atrás 
Mas, quando a vida proporciona o reencontro 
de velhos companheiros de caminhada e travessia, 
eis que nos ressuscita também dos bons tempos a alegria.
O melhor desse mundo é viver, 
mas tem sentidos vazios que tornam a existência um fracasso
e quem era pra ser protagonista 
torna-se coadjuvante de suas vãs escolhas. 
Perde-se tempo e liberdade 
seguindo aprisionado em padrões impostos...

De repente o menino já não anda apressado, nem correndo...
Segue o fluxo na velocidade de sua respiração 
Perde-se no encanto dos detalhes que a natureza inspira 
E recria em seus pensamentos 
a poesia silenciosa que lhe alimenta a alma 
Encara a dor alheia como sua 
e sofre as consequências... 
O melhor desse mundo 
é distanciar-se dos padrões e limites 
A vida não requer perdas de tempo...

De repente o menino sonhador
Cresceu poeta
Perdeu-se em poesia
E libertou-se do mundo

terça-feira, 28 de abril de 2020

Sobre o tempo, sobre nós



Sobre o tempo que passou
Perguntas que esse mesmo tempo se encarregou de responder 
Dúvidas e respostas que vieram em seu tempo determinado
De um tempo não medido, não correspondido
Ora derrotado, ora perdido
Ora bandido...

Sobre o tempo que restou
Esperança de uma eternidade pulsando no peito
Sentimento infinito, sem trégua, sem janela, sem jeito
De um tempo tardio, mas em tempo, no tempo perfeito
Ora demorado, ora molhado
Ora bagunçado...

Sobre o tempo que virá
Pesar por não controlar, no olhar a incerteza
Sorriso enaltecido no retrato escondido de sua beleza
De um tempo de alegria, esperada alforria, a debruçar-te sobre a mesa
Ora atrevido, ora ousado,
Ora abusado...

Sobre o tempo que se vive
Noz de esperas 
sobre o tempo que demora
Tristeza quando finda o tempo e já deu hora
Renova-se o ciclo, novo dia, novo tempo, o de agora
Sinais e silêncios, céus e cenários, 
Tempos sobre o tempo
que não se apaga
e se vive a esperar...
Ora bandido,
Ora bagunçado,
Ora abusado...
Jamais esquecido!





quarta-feira, 1 de abril de 2020

Retratos e canções



Caminhando sem destino pelos becos da vida
Em busca de um sentido já esquecido no canto
Na face oculta em que derramei tanto pranto
Eis que um brilho acalenta a alma partida

Instinto selvagem de um coração em fuga
Que reluta contra o tempo em busca de mais tempo
Perseguindo o sonho de um possível momento
Eis que um sorriso uma lágrima enxuga

Cada retrato de um sonho narrado 
Uma pintura se tece sem contato
É a esperança e o desejo irrestrito
Eis que desponta um amor destemido

Espera de outras vidas já sonhadas
Canções que se tornam recantos
Poemas que devolvem o encanto
Eis que a melodia é toda bagunçada

Um olhar, um sorriso, um toque, a magia
Razões e emoções que se tornam melodias
Enlaces espontâneos no tom mais que perfeito
Eis que amor se perpetua por direito

Amar-te como se fosse o último suspiro
Retratos e canções de uma intensa lua
Que testemunhou o encontro da alma nua
Eis que seu coração é o meu recanto e seu corpo meu cativeiro

Seguindo sem plano



Na ausência e no silêncio
Se perpetua a saudade e a lembrança
Do olhar e do andar sobre o tempo
Da chegada ao encontro
Um misto de sensações
Mistérios que dispensam explicações
Na incerteza de um amanhã
Resplandece em brilhos de esperança
A única certeza que nos enlaça 
Até a chegada da noite escura
Em que a magia do encontro
Sob a luz do luar
Que transpassa os corações 
Destinados a se amarem
Desde outras vidas
Para além da eternidade

No plano que o desejo tece
Sigo sem planos quando a vida acontece
Nem de mais nem de menos
A vida é perfeita do jeito que é
Sonhando quando a realidade é dura
E dançando sob o ritmo da nossa dança 
Sob aquele espaço no tempo que burlamos
Para resgatar e reafirmar o compromisso 
De sentimento, de alma e coração
Tão perto do céu do seu olhar
Mesmo quando não posso tocar
A mistura do cheiro e de cada ato
Que se emoldura em minha mente 
Eternizado, feito um retrato 
De pouquinho em pouquinho seguimos
Até o encontro das estradas,
Que nos guiará para além da eternidade

Celebrando a dádiva de cada dia
Em cada tempo dessa nossa estadia

Na espera de um novo dia, um novo tempo...



terça-feira, 3 de março de 2020

O amor não tem lógica



Na esperança de uma explicação
Só me deparo com a sem-razão
Do perigo que se esconde no amor
Que sorri, me encanta, e me arrasta para onde for

Do tempo de esperas, o eterno companheiro,
Que num silêncio gritante
Me reencontro sempre aqui, desconcertante
Fechando os olhos e sentindo a brisa do teu cheiro

Do tempo de sonhos e reencontros
Eu sigo daqui, fazendo poesia com o tempo,
Dançando com o vento,
Ao encontro do pensamento que te traz até mim...
Cantando pras pedras, pras pétalas... regando o amor do nosso jardim...

Na sem-lógica do amor
Da saudade que exala dor
Eu continuo aqui, procurando em você minha paz
E pecando por te amar demais


Pecado: amor

Pecado?!

Pecado, talvez seja essa gula que eu tenho por você

Pecado, talvez seja esse desejo louco,
que me deixa inconsequente
sem ter medo do perigo,
que no intervalo do tempo pouco
faz do abraço o nosso abrigo
e aquece o coração da gente

Mas não, não é, nem pode ser pecado
É amor mesmo, livre e bagunçado
E desse mal de não amar a gente não morre
Ao contrário, só nos faz transbordar em altas doses

Pecado?!

(...) só se for por te amar demais...