terça-feira, 16 de julho de 2019

Possessão ou obsessão demoníaca?

Foto / Reprodução: Canção Nova

Bom, o assunto é delicado, polêmico e causa espanto e medo principalmente no público leigo. Quando se fala sobre possessão e manifestação demoníaca muita gente lembra do filme O exorcista. Eu, particularmente, não gosto do gênero, portanto não fiz questão de assisti-lo. Mas, deixando a ficção de lado, o tema esteve em pauta nas redes sociais após um episódio que marcou o final de semana dos fiéis que acompanhavam a celebração da missa, pelo Pe. Marcelo Rossi, num evento da CN (Canção Nova), no último dia 14/06/19. Uma mulher subiu ao palco e empurrou o sacerdote que caiu mas não teve nenhuma lesão grave, segundo o que ele mesmo relatou após o incidente.

Além de acompanhar pelos noticiários na TV também participei de algumas discussões na página de alguns amigos pelas redes sociais. É um absurdo ver o quanto as pessoas distorcem os fatos e dão seus vereditos sobre o ocorrido, mesmo não tendo conhecimento para tal. Muitos lacraram: "É o demônio agindo!"; "A mulher estava possuída pelo demônio, mas o padre é um ungido de Deus."

Graças a Deus o empurrão seguido do tombo não impossibilitou o padre de dar continuidade à missa no evento. Ato nobre o dele de não querer registrar B.O. e sua fala de "perdão" para com a mulher. Melhor ainda que não houve nada grave além das pequenas dores locais, conforme já mencionado anteriormente.

Por outro lado, eis a frase do padre Marcelo Rossi que deu um leque de interpretações: “Amados, vocês viram como o demônio me odeia”. Bom, não precisava estar lá para fazer uma simples interpretação ou correlação das coisas. Uma pessoa tão midiática como ele ao proferir tais palavras deixa a entender que tal ação foi motivada pelo demônio que pode ter usado aquela mulher. Manifestação demoníaca? Logicamente houve um alvoroço obsessivo para acreditar que sim. 

Ora, há um grande abismo entre transtorno psiquiátrico (o que já ficou esclarecido pelos familiares e conhecidos da mulher) e possessão e/ou manifestação demoníaca. A própria igreja tem uma vasta gama de documentos que discorrem sobre o tema. Agora, o que está em pauta é o exagero dessas grandes instituições (CN, RCC e afins) e celebridades religiosamente midiáticas em querer dar um veredito sobre o assunto, sem antes ter um respaldo legal, no caso, o de um médico.

Essa obsessão de que tudo é obra do demônio só serve para engrandecer os negócios, mas de uma outra forma. Assim como se criam certas doenças para vender os remédios é necessário inventar demônios para vender a cura e os produtos da religião. Precisa-se de um capeta para vender o desencapetamento. Sei que isso é polêmico e talvez entendam até de maneira simplista. Mas, mais simplista do que a grande massa manipulada dar um aval patológico, psicológico e religioso, mesmo sem ser psiquiatra, psicólogo ou sacerdote, não tem. 

No Doc. de Nº 53 da CNBB - Orientações Pastorais sobre a Renovação Carismática Católica - especificamente no item número 67, segue: "Poder do mal e exorcismo: Cristo venceu o demônio e todo o espírito do mal. Nem tudo se pode atribuir ao demônio, esquecendo-se o jogo das causas segundas e outros fatores psicológicos e até patológicos." Nem os próprios carismáticos, muitos deles, não se dão ao trabalho de ler e estudar sobre o assunto. É de uma irresponsabilidade tamanha afirmar sobre certas questões sem o devido conhecimento... 

Lembrei-me de um fato, que presenciei, e que agora já virou causo (rs). Voltava da faculdade e me deparei com várias pessoas no meio da rua em volta de uma mulher que estava deitada. Havia ali um pastor com um bíblia na mão e gritando, daquele jeito que todos já imaginam, palavras de ordem para que o demônio deixasse aquele corpo. Sugeri para levarmos a mulher para a calçada e imediatamente liguei para o Corpo de Bombeiros. Não se passaram nem 5 minutos e o pastor liberou a mulher "enferma" dizendo que ela já estava curada. Ela mal conseguia ficar sentada no chão, mas o religioso afirmava que ela poderia entrar para sua casa. Nesse momento eu disse que o Bombeiro já estava chegando e que era necessário uma avaliação. Ainda assim o homem com a bíblia na mão tentava lacrar com palavras do tipo: "eu já libertei ela"; "não tem mais demônio perturbando ela"... E por aí vai. Salientando que ele usava sempre o pronome "EU": eu fiz, eu aconteci!!! Os bombeiros chegaram e começaram os procedimentos. Enquanto isso conversei alguns minutos com a mãe da mulher enferma e o que descobri foi: "O demônio dela é cachaça, meu filho. Ela tá bebendo desde cedo porque eu chamei a atenção dela." Só informando que já eram umas 23 horas no momento do ocorrido. Enfim, ela tomou uma injeção de santa-glicose, foi para o P.S. onde passou por umas sessões de "soro-santo" e ficou curada desse capeta de cachaça, ou cachaça do capeta. O pastor, ainda todo pomposo, com sua bíblia debaixo do braço, foi-se embora afirmando que tinha expulsado o "demonho". "Questães de interpretaçães."

E depois de tudo, eis que fica a seguinte pergunta: será realmente possessão demoníaca ou mais uma situação de obsessão por demônios por parte da grande massa manipulada e induzida à tal conclusão?

No link, segue uma das matérias veiculada na mídia:

https://veja.abril.com.br/brasil/mulher-empurra-padre-marcelo-rossi-de-palco-durante-missa/?fbclid=IwAR151Von-NItkifZsYPuESU-TWTOM90Ie2BkcL_dZm6sHc6K3HBW8ccVzkE

quinta-feira, 11 de julho de 2019

Dores alheias, dores do mundo


Era um final de tarde e eu estava no supermercado apenas para comprar umas broas. Quitanda na mão, já me dirigia para a fila do caixa quando um menino de uns dez anos me abordou. Perguntou-me se eu poderia inteirar seu dinheiro para ele comprar um frango para levar para casa.

Meio sem ação diante do menino, ele mostrou-me uma moeda de cinquenta centavos e outras que carregava no bolso. Devia estar ali no estabelecimento já tinha algum tempo tentando juntar a quantia suficiente junto aos clientes para comprar o frango.

Fomos até o açougue do supermercado e aguardamos na fila. Por incrível que pareça, como um teste de paciência, a fila não andava. Foram mais de vinte minutos aguardando a nossa vez. Enquanto isso fui conversando com o garoto. Ele tem onze anos, estuda, tem mais três irmãos menores, a mãe é diarista e todos moram com a avó.

Sua missão naquele dia era conseguir levar um frango para casa. E enquanto a gente conversava olhando nos olhos o único pensamento que batia forte era: "a maior dor no mundo é a dor da fome". Nem sei de onde saiu isso mas de certa forma acabei lembrando de alguns comentários até do Papa Francisco no que se refere à fome no mundo.

Enquanto a gente conversava na fila dois fiscais ficaram de olho no menino. Aquilo já era pessoal uma vez que o garoto em nenhum momento causou qualquer tipo de perturbação. Desde sua aproximação de forma educada ele deixou claro seu desejo. Conseguir apenas um frango...

Enfim, após longa espera na fila, fomos atendidos. Partimos então para a fila do caixa sob o olhar preconceituoso dos fiscais. Juro que aguardava ansioso qualquer tipo de intervenção, mas por sorte e para o bem de todos tudo ocorreu normal.

A intenção aqui não é expor nenhum tipo de caridade como troféu, até porque fazer esse tipo de exposição além de hipocrisia e vaidade para o ego perde todo o sentido, mas entender a dor alheia que muitas vezes torna-se uma mera imagem rotineira ao cotidiano de nossos olhos.

Dores alheias, dores do mundo, será que incomodam? Incomodam pelo fato de vez ou outra nos deparar com alguém pedindo ao nosso redor ou por nos colocar no lugar do outro e tentar entender a gravidade e o desespero daquele ato de pedir? Talvez, maior que a dor da fome, seja a dor da indiferença e pra esta não há remédio para quem sente...

Acredito que se existe o inferno para lá devam ir aqueles que se fizeram indiferentes perante a dor alheia num momento que poderiam fazer a diferença. E, se nada mais me comove, se nada mais me incomoda, se ainda me calo diante de tanta injustiça, então com certeza morreu aqui dentro o humano que um dia me habitou.

Ailton Domingues de Oliveira
Adm ∞ 
Teo ΑΩ 
Psic Ψ (acadêmico)
Escritor & Poeta

quarta-feira, 10 de julho de 2019

Vivenciando e reaprendendo: histórias de minha mãe


05/07/2019. Sexta feira. 19:45 horas. Um frio chegou de repente e pairou sobre a cidade. Pelas últimas notícias sobre o tempo, parece que essa mudança brusca de temperatura não é exclusividade uberlandense. 

Já em casa após o trabalho e aguardando o jantar, entre a leitura de uma notícia e outra, ouvia os causos da semana contados pela dona Claudete, minha mãe. 

Fazia algum tempo que ela havia comentado sobre dois irmãozinhos, um adolescente de uns doze anos e seu irmão menor de uns 8 anos, pelos quais tinha criado uma amizade. Ela só os encontrava pelas manhãs de segunda a sexta-feira. Exatamente no momento que minha mãe aguardava na porta de seu trabalho os irmãos passavam por lá em direção à escola. Ali se criou uma relação de atenção e carinho.

Segundo o que a dona Claudete conta, o menino mais novo, quando lhe avistava, dava um jeito de se esconder ou caminhar sorrateiramente até chegar próximo dela. E depois aparecia com um sorriso largo de felicidade. Notei pela força da expressão da minha mãe o tamanho do carinho que ela adquiriu por eles. Seus olhos brilham ao contar sobre os pequenos. 

Ela percebeu também que eles são de família simples e em muitas manhãs de frio os irmãos vão pra escola de bermuda, chinelo e até sem blusa de frio. Comovida pela situação ela já planejava esperar a virada do mês para comprar umas blusinhas para os meninos. Estava até conseguindo algumas roupas entre alguns conhecidos que servisse para eles.

Hoje porém ela contou que teve a triste notícia, dada pelo menino mais velho, que ele e sua família estariam de mudança para Patos de Minas até o fim daquele dia. Logo no início da semana o adolescente estava indo para a escola e ela percebeu que o mais novo não estava junto. Ao perguntar o motivo do pequeno não estar ali, o adolescente, entre lágrimas, explicou-lhe o motivo. Seu pai havia conseguido um trabalho melhor pois aqui, nessa cidade, eles estavam passando por muitas dificuldades. 

Conta minha mãe que em uma manhã chegou a perguntar se eles não estavam com frio e a resposta lhe cortou o coração: "sim, estamos só um pouquinho com frio, mas a gente não tem outra blusinha"... E mesmo assim, não houve tristeza por parte deles. O sorriso era algo natural independente do tamanho da dificuldade. 

Nesse momento, aqui comigo, ao contar sobre a mudança dos irmãos com a família minha mãe enxugou as lágrimas... E eu precisei me conter... Ela sentiu muito e eu sei o quanto porque havia tempos que ela falava desses garotos com tamanho carinho e desejo enorme de ajudar. Já estava programado para comprar os agasalhos mas não deu tempo... Infelizmente. 

Parece algo superficial, mas não é. Conhecendo o tamanho do coração da dona Claudete sei que ela sentiu com a notícia. Imagino o quanto ela sentiu e chorou quando o adolescente lhe disse o quanto gostava dela e sentiria muita falta de encontrá-la pelas manhãs. O menino chorou. Ainda assim sugeri que ela procurasse algum coleguinha dos irmãos, e parece que tem um amigo que pode dar melhores informações, para de repente conseguir o endereço para onde se mudaram. Nada é impossível. 

A história é simples, porém real. Como lição senti que ainda é possível viver experiências profundas mesmo numa época repleta de corações frios e insensíveis ao sofrimento alheio. São valores como esse, de respeito ao próximo, que eu guardo aqui dentro e procuro passar aos meus pequenos. Triste por não ter dado tempo dela ajudá-los mas orgulhoso pelos ensinamentos que é possível vivenciar e reaprender com essa dona Claudete, minha MÃE. 

Claudete


O bem e o mal


O título remete a um clichê usualmente colocado nas mais variadas formas de discursos político-religiosos que vemos e ouvimos por aí. Apesar disso, não imaginei algo melhor para discorrer sobre o assunto.

Acompanhando o cenário político atual, e apesar de já não ter mais estômago para assistir a este espetáculo de quinta, principalmente quando os personagens atuam de forma vexatória e medíocre, como verdadeiros amadores (que são), e assim brincam e zombam com a cara do público, a única coisa que fica claro é que neste cabaré de Brasília os "caras" fazem de tudo, menos cumprir com a obrigação pela qual foram eleitos.

O povo?! Ah, esquece! Como disse o chulo presidente: "o povo só serve pra votar e mais nada!" Essa culpa eu não carrego e aproveitando mais uma frase clichê: "como é bom, nesse momento da vida, estar do lado que perdeu as eleições". A história não poupará, passe o tempo que passar.

Um gancho aqui para indicar um filme e uma série que são oportunos para o momento atual. Deixo apenas os nomes com a isenção de qualquer comentário a não ser deixar registrado que vale a pena conferir e ter uma outra visão sobre as coisas desta terra tupiniquim: "Democracia em vertigem" e "Guerras do Brasil.doc".

Indo direto ao cerne do assunto que me fez optar por esse título, "O bem e o mal", infelizmente não dá pra defender partidos mas dá pra perceber de todas as formas possíveis o que cada lado, que faz parte dessa batalha, tem apresentado de fato como resposta ao (des)governo e como proposta para o país e o povo em todas as classes.

Deixando a guerra partidária, dá pra focar no "bem" e no "mal". Essa é a verdadeira guerra. Ambos os lados possuem os dois elementos das mais variadas espécies e capacidades. Infelizmente algumas bandeiras que hoje trazem frases de efeito para defender a moral, os bons costumes, a pátria, a família e Deus, são os que mais tombam diante do veneno de sua própria hipocrisia.

De forma geral, se fizermos uma busca nas redes sociais podemos encontrar fatos como o cara que espancou a mulher até a morte porque ela o deixou, o médico que dopava e abusava sexualmente de suas clientes, o professor universitário que jogou a namorada do alto de um edifício, o cara que ateou fogo na companheira pelo fim do relacionamento, sem contar as inúmeras violências diárias contra pessoas que manifestam sua opinião contrária ao (des)governo. Dos casos de maior repercussão midiática, sabe o que essas pessoas têm em comum? Todos os acusados e envolvidos são "cidadãos de bem" que apoiam a barbárie do atual presidente. Nada estranho a não ser o fato de que o discurso político atual tem feito com que muitas máscaras caiam ao chão e assim as pessoas mostram sua verdadeira face.

Não bastasse toda a lambança, ainda temos um juiz, melhor, um juizeco parcial, partidário e corrompido que atua contra a democracia e contra a justiça para conseguir benefício próprio junto ao atual governo. É uma situação ridiculamente nojenta! Conluio!

E antes que me demonizem eu já adianto: Sim! Sou um simpatizante da esquerda política que reconhece as limitações desse lado bem como tenho a ciência de que existem os que denigrem a imagem, verdadeiros corrompidos que vendem sua própria alma para obter vantagens para si. Ainda assim, não vi nada melhor do outro lado a não ser a hipocrisia disfarçada de cristão, defensor da família tradicional e da pátria, vulgo "cidadão de bem".

Não me aflige nem incomoda a demonização pelo fato de ter escolhido tal lado. Me assusta mesmo é ver cristão enchendo o peito pra dar apoio ao governo e ao ministro da justiça, o primeiro por querer implantar políticas que exterminam minorias e o segundo por se preocupar apenas com sua vaidade. Me assusta também as pessoas que não querem enxergar a atuação e o envolvimento do presidente e sua família em episódios polêmicos que envolvem assassinatos, milícias, tráfico de drogas, sem contar os assuntos que ficam sem resposta, pois algumas pessoas estão protegidas pelo alto escalão da quadrilha. Queiroz que o diga!

E antes que me venha algum pseudo cristão dar pitaco, faço questão de mencioná-los aqui também e deixar uma mensagem de autoajuda. Alguém disse: "Jesus é um cara legal, o que fode é a torcida." Fato! Têm uns catolibãs, extremistas, intolerantes, cidadãos de bem, "mestres da lei" (sim, aqueles a quem Jesus chamou de hipócritas), que no uso de suas funções, e talvez por conta do glamour de suas vestes, se acham no direito e dever de palpitar em qualquer hora e lugar. Sem argumentos básicos, sem fundamentos, sem conteúdo e nada de conhecimento, simplesmente querem causar certo furor com comentários em tom de deboche. Aqui não "mané"!!! Por outro lado nem dá pra esperar nada melhor do que esse tipo de pensamento ínfimo, intolerante, medíocre e vazio de quem desconhece a história.

E pra finalizar: "Nem todo cidadão de bem é filho da puta, mas todo filho da puta é um cidadão de bem." 

segunda-feira, 1 de julho de 2019

1000 x foda-se



Enfim chegamos à marca dos 1000 escritos, ou 1000 postagens. E sabe o que isso significa? P***a nenhuma! 

Dentre as várias ideias de como prosseguir com este blog pensei em deixa-lo morrer aos poucos, sem postagens futuras, na certeza de que já cumpriu o seu papel e agora é chegada a hora do repouso eterno dos justos. 

Escritos em Tempos é um verdadeiro diário de bordo,  pois guarda desde os primeiros poemas do antigo colegial (1993) até os escritos em meados de 1999 e depois entrou num sono profundo de dez anos, ressurgindo em 2009. 

É certo que antigamente todas as anotações eram feitas em agendas e cadernos ou, no máximo, numa pastinha no computador, e demorou muito tempo para transpor cada texto aqui para o blog. Fiz questão de manter até mesmo os erros ortográficos da época. O primeiro título desse blog foi "Escritos: Cantos & Encantos da Vida" (2009). Passado algum tempo foi rebatizado de Escritos em Tempos.

Outra possibilidade seria criar um novo blog, outro espaço, porém, dando uma refinada no layout, nos temas e principalmente nas postagens. 

Tudo certo mas nada resolvido! 

O fato é que escrever é bom, muito bom. Terapêutico, por sinal. Um vício bom, um passa tempo, momento de extravasar, espaço de confidências, entrelinhas que são percorridas com lágrimas, suor e sangue, dores que refletem na alma, gritos e silêncios, fé e desesperança, amor e ódio... Tudo cabe, tudo pode, mesmo o mais gostoso dos pecados (seja qual for o seu) é permitido. As linhas não mentem nem escondem os sentimentos, tudo depende da óptica que se lê e de onde se enxerga. Não basta ver apenas... 

As posições aqui são claras. Encontrar os que se agradam com a mensagem é bom. Ouvir que as pessoas se identificam é ótimo. Mas, também não me impressiona, nem me deixa desanimado encontrar os que não comungam de algumas ideias e ideais. Que bom que existem posições contrárias, que não somos iguais em tudo. Imagino que seria chato se todos gostassem das mesmas coisas. 

A única coisa é que não abro mão de pensamentos para agradar a terceiros. Uma outra coisa é fato: transparência! Exceto, em casos que me dei conta de ter feito comentários que não acrescentaram em nada, e ao contrário, causaram certa incompreensão entre alguns espaços em que convivo. Teve um caso que, passado alguns anos de uma postagem a qual teci críticas aleatórias e sem embasamento, fiz questão de escrever um pedido de "desculpas" formal. Mantenho ambas as postagens, a da crítica e o pedido de desculpas. É bom estar em paz e de consciência tranquila.

Por outro lado, têm coisas que não me tiram a tranquilidade: tecer críticas de viés religioso, os exageros de maneira geral, principalmente sobre a minha religião, e também sobre política. Apenas penso que, de maneira laica e sem envolvimento político, se o assunto em questão traz benefício para todos então merece elogios, do contrário, não poupo críticas, tampouco o uso de qualquer palavra, por mais pesada que seja. Foda-se!

Ah, quantos "foda-se" estão aqui, soltos pelas águas desses 1000 escritos!... Mas, quantos momentos de descontração, de emoção, de perdão e principalmente de libertação que essas águas me trouxeram, não foram poucas. Já fiz monólogo, diálogo entre meus "eus", pedi explicação pra Deus, enxerguei a covardia de alguns humanos enquanto culpavam o pobre diabo para se isentarem de suas merdas... E viva la hipocrisia! Essa, com certeza é uma das piores características do tal humano. 

Bom, diante de todas as incertezas quanto a este espaço, penso que ele ainda será eterno por mais que o tempo entre uma postagem e outra seja grande, repleto de desertos, montanhas e rios... Uma hora a gente se esbarra, se reencontra, têm um dedo de prosa e coloca os assuntos em dia. 



Casa de vó: causo, comida e amor

* Casa da vó Landa - Piraju/SP - 2000

Falar da infância é recordar meus dias na casa das avós. Ouvir causos, brincar no quintal, deitar no sofá para assistir TV, comida simples e maravilhosa a toda hora e, o principal, uma atenção repleta de cuidado e amor. Voltar no tempo não me custa, basta olhar para o simples da vida, respirar fundo, sorrir e aventurar no pensamento pelo caminho da saudade...

Tanto a vó Cida quanto a vó Landa eram grandes contadoras de causos. Enquanto criança eu adorava ouvir as fabulosas estórias que ao final traziam uma grande lição de vida. Os causos eram sempre os mesmos e talvez nos dias de hoje nem façam tanto sentido se a gente recontar, mas a forma com que elas se expressavam olhando nos olhos, dando toda a atenção e ensinando sobre a vida, ah, com certeza é algo que me marcou muito.

Cada avó tinha sua particularidade quanto ao jeito de cozinhar e cada uma também tinha a sua especialidade. Casa de vó, comida de vó, amor de vó... avós deviam ser imortais...

Na casa da vó Cida um dos pratos que eu mais gostava era arroz, feijão, carne moída e batata frita, tudo junto e misturado, ou simplesmente um viradinho de feijão que até hoje ninguém conseguiu fazer igual. Quantas vezes, eu e meu primo dividimos o mesmo prato?! Esse era um dos lados bom de ser criança. Comer no mesmo prato era tão gostoso quanto saborear a comida. O "estar junto" dava um tempero todo especial. Acredito que aos olhos da vó era algo que não tinha preço.

Já na casa da vó Landa, além da macarronada e batata frita também, um dos pratos que me marcou muito é o famoso arroz com ovo. Não foram poucas as vezes, em época de férias escolar que eu aproveitava para brincar com um amigo no quintal, chegava a hora do almoço e ela fazia esse mexidão de arroz com ovo e colocava numa bacia pra gente comer. Coisa tão boa quanto inocente, sentados no "terreiro", como ela falava, a gente comia, conversava e já planejava a próxima brincadeira. Em muitas noites também dividi o mesmo prato com meu avô Joaquim, ele sentado à mesa e eu ao seu lado...

Esse simples que vivi na casa das avós considero como um privilégio e motivo de muito orgulho. E é através desse olhar no tempo que também sempre me inspiro pra dar o meu melhor aos meus filhos. Ciente do avanço da modernidade e da tecnologia e, entendendo isso até como uma necessidade para os dias atuais, mesmo assim, procuro não deixar de mostrar que amor está muito mais nos gestos e nas pequenas coisas da vida do que no tamanho do embrulho e do presente em si.