terça-feira, 31 de março de 2015

Cartas do calabouço - Parte IV




Jamais me entenderás amigo
O máximo que conseguirá
Uma leitura será
Dos meus devaneios escritos
Ainda assim, as entrelinhas
Não lhes serão reveladas

O tempo nos leva ao esquecimento
A memória se perdura na história
Ou vice-versa
Quero ao menos, permanecer na lembrança
Do amor que um dia tive
Ou que não soube tê-lo
Nem vivê-lo
Nem amá-lo
Nem esquecê-lo

Pergunto pro tempo: e agora?
Sinto sua resposta como vento
Pedindo para passar
Ou, sem pedir, vai passando
E já me perco nessa busca sem fim
Não sei se sou eu que corri do tempo
Ou o tempo que fugiu de mim

Quero mesmo é falar de amor
O tempo e o amor
Amar é sofrer, será?
Será mesmo que é esse o tal?
Da relação, o mistério norteador?
Amor e dor
Que relação desastrosa!
Talvez, menos penoso seja
Esquecer-se em si
Sem vivência, sem querência
Mas sem sofrência

A paga é alta meu amigo inquisidor
O tempo custa tempo
O amor custa tempo
O tempo custa ao amor
O amor custa ao amor
E cá perdido estou
No silêncio desta cela
Uma gota, uma quimera
Do que a mim se resta
É a dolorosa espera
De um tempo que há de curar
Ou de um amor que o venha sagrar-se
Pois já cansado estou
De assim ver jorrar o vermelho heroico
E o que passou, de mim levou
O que havia de melhor
Resta-me revirar o baú e a terra
Em busca de uma semente
De amor

Amigo das humanas razões
Voz das mais avessas emoções
Já faz mesmo, tanto tempo assim?
Creio que ouvira certas vozes
Aproximando-se deste recanto impiedoso meu
Não foi falta de vontade
Nem falta de forças
Apenas, não havia o que quisesse ouvir
Nem tampouco algo a responder-lhe

Despeço-me
No estanque da esperança
Ou no balanço de uma nota só
E que não cesse-lhe a alegria
Que já fora-me o esteio mas um dia 
Para mim virou pó
E agora, jaz o passado
De que não quero mais estar atrelado
E remexo a alma em busca de mudança
Aguardo-lhe, novamente, outra vez
Caro meu.

Quanto à letra,
Creio que firmei o golpe
E exigi-me uma à altura
Para que a sua leitura
Não se canse mais na decifração
Meu caro da razão

quarta-feira, 25 de março de 2015

Cartas para o calabouço - Parte III



Caro amigo, ainda infiel
Se respondestes pela vez primeira
É porque recebeste o meu sentimento escrito
Se o recebeste é porque não estais todo trancafiado
Seu calabouço não é à prova de tudo
Nossa conexão é prova disso
Existe, vez ou outra, uma abertura
Já havia tentado por vezes a comunicação
Porém, tudo em vão
Parecia que tu estavas enterrado
Vivo, porém enterrado

Meu querido infiel
O tempo urge
E tu o foges
São tantas coisas a lhe falar
Das menores às de maior importância
Não tenho noção do tamanho dessa distância
Em que tu se encontras da firme terra
Já se passaram dias, muitos dias
De sol, de calor, de brisa
De noites com chuva fria
Ou de seca e de dor
De escuridão e pavor

Infiel amigo meu
Das muitas coisas que gostaria
De te dizer pessoalmente um dia
Vou tentar aqui expor
De tudo que por essa terra passou
Há coisas que não devemos jamais desistir
Daqueles que a muito gostamos, é uma
Acreditamos, consideramos e juntos lutamos
Eis-me aqui, entre o ir e vir
A te levar um pouquinho seja
Do novo ar, dos bons tempos que tu mesmo almeja

Ah, meu caro e danado infiel
Sobre o tempo quero chamar-te, amigo
Vejo que apesar de tanto tempo neste seu abrigo
O calabouço que tu mesmo o considera assim
Ainda não perdeste de fato a razão
Nem tampouco a profundeza de sua emoção
E sua retórica traz a tona o reflexo a mim
Tempos e mais tempos
E quando estamos cansado do tempo
Tiramos um tempo pro descanso

Amigo infiel
Nossa prosa é séria
O nosso tempo aqui é finito
E com tantos pesares, e falta de humanas essências
Ainda nos prostramos à infinita beleza
Tu perdes tempo
E o perdendo de si
Não construirá seus alicerces
Há um destino que podemos chamar de eternidade
Aqui, o tempo é corriqueiro, passageiro
É o tempo de se plantar, cultivar,
E cativar

Amigo infiel,
Seu abandono sofrido
Tu o repetes para si
Ao abandonar-se nesta cela
Sem querer participar do tempo de hoje
Incomoda-me tanto sua ausência
Sua falta de sentido
A vida ainda é bela
E por ela vale a pena
Tanto pelos que ainda te esperam
Sem saber que tu aí estás
Lembre-se: "A morte é tão íntima com a vida. Esteja preparado."
Só não deixe de viver

Meu caro amigo
Tu já sabes de sua infidelidade
Não comigo, mas consigo mesmo
E é este o maior perigo
Pois já perdeste a noção
Será insanidade?
Sei que ainda tu carregas um coração
Se de razão ou de emoção
De nada importa mais não
Só se dê a devida atenção
Despeço-me aqui
Com o calor te todo o tempo
Com a brisa do momento
E com o frescor do vento
E para a próxima desde já espero
Que tu mesmo queira de algo falar.


PS: Ah, melhore sua letra.

Cartas do calabouço - Parte II


Caro amigo meu
Se infiel eu fui, foi comigo mesmo, espero
Suas palavras batem forte
Me traz a vida
E a dor de morte
Nem sei mais quem eu fui
Da onde vim
Ou pra onde vou
Indiferente é onde estou
Seja aqui, seja aí,
Em vão sinto que lutei

Realmente, vez ou outra sinto essa brisa
Como se um sopro fosse
Em dias que o silêncio me permito
Talvez, tenha confundido os ópios
E ao invés de omeprazol para queimação
Tomei foi dois prozac's com Platão
Sarcasmo meu caro amigo
Ainda não tenho essa ferramenta última
Mas a brisa, o sopro
Que me sussurra ao pé do ouvido
Quando cessa, 
A minha instantânea alegria
Sem eu perceber leva consigo

Procuro o buraco
O canal por onde adentra o vento
Nada, vazio, fechado
E no meio desse oco aqui estou-me
Destoando entre notas sustenidas
Menores, de tristeza, empedernidas
Lamentando-me o lamento mais lamentável
Canso-me de ouvir-me
E não consigo escutar-me
Estou só?
Cá estou-me
Cá e só

Não é o cíclico da vida que me angustia
Por mais que eu já tenha observado essa espiral
A monotonia envolto da matéria
A cegueira alheia é pior que a minha
Ninguém enxerga nada além do que se vê?
Estou aprisionado a este ócio
Melhor mesmo, para viver dentre os imortais
Estivesse envenenado pelo ópio

Amigo meu, por que me escreves?
Já não tenho mais palavras
Nem de vida nem de graça
Bons tempos aqueles idos
No quintal de terra batida
Entre couves e hortelãs
A ameixeira era o meu divã
Mocinhos e bandidos
No final da brincadeira, todos amigos
Inventar a história,
Começo, meio e fim
Era a melhor das puras redações
E a alegria vivia em mim

Amigo meu, gostaria de visualizar tua presença
Suas cartas me reavivam
E pra vida me reativam
Mas elas cessam no meu calar
Ouço, não ouço 
Tudo se consome
Tudo se corrompe
Tudo se escoa pelo tempo
E tempo, nem sei quanto tempo ainda o tenho
Ou se é ele que me consome 
Me corrompe e me escoa em si

Meu caro amigo
Que inflama este infiel de si
Tanto quanto quero reencontrá-lo
Mas antes, devo me reencontrar primeiro
Antes que eu me torne o derradeiro
A ousar a escapada desta tormenta
Do vazio incrustado que tanto lamento
Quero, tão somente, não morrer em vão
Nem passar a vida em busca de um sentido
Quero dar sentido ao que me resta
No aguardo de tuas novas batidas
Que me surram e me acalentam
Despeço-me com, pelo menos, um novo ar
O ar de tua anônima e ausente presença.

Cartas para o calabouço - parte I


Aprisionado estás amigo infiel
Num cárcere erguido, destruído e reconstruído
A visão que te turva a alma é cega
Não enxergas mais além daquilo que se vê
O ópio em teu corpo surra-lhe a essência alheia
A matéria que te cerca, te impede o caminhar
Os ossos de teu corpo em teu corpo ossificado estás
É rígido e deturpado o seu querer
O resto que lhe sobra enxerga nos pequenos detalhes

Entregue estás amigo infiel
À jornada eterna do porvir
À busca desenfreada da felicidade
Ao encontro do colo de Teu Pai Criador
Quem sabe Ele te alivie a dor
Quem sabe Ele te permita o amor
Quem sabe você não se extingua
E no raiar reencontre a brisa santa
O sussurro inspirador
Da alma o libertador

Condenado estás amigo infiel
No canto empedernido deste calabouço
Sem janelas nem portas
Onde o pulsar mais forte
Não se escuta do lado de fora
A tranca é de dentro
O mundo é de fora
O corpo é a grade
O coração é a cela
A alma sua prisioneira

Levante-te de si amigo infiel
Rasgue-se as vestes
Existe aresta pois a brisa se faz chegar
Encontre e alargue a passagem
Esvazie-se
Permita-se
Alongue-se
A prisão é interna
A entrega é opção
A condenação é sua
O sentido que procuras
Nem no dia nem no escuro do silêncio hás de encontrar

Ai de ti amigo, ai de mim, ai de nós
Levanta, anda e corre
Vês, o rio ainda não morre
Segue o leito e se mistura ao mar
Sem se importar se sua água vai mudar
É o ciclo, é a vida, a morte é certa
O calabouço que te enclausuras
Não tem paredes nem fechaduras
A árvore que sombreia a terra
Foi semente e impotente,
Dor sofreu e sobreviveu
Perdeu a casca, se entregou
Para um bem maior se renasceu
Onde estás meu caro infiel?

Ah, meu bom caro infiel...
Não te cales
Na opressão de teus longos medos
Não teimes em se fazer refém de seus segredos
Nada há de maior que o peso que teimas carregar
Nada há de mais insensato que o querer se entregar
Se amar é sofrer
Que tu sofras amando
Se sofrer faz doer
Que a dor seja por amor
Por mais que a vida seja cíclica
Jamais passará pela mesma medida
A espiral que se gira
Nos permite um olhar sobre a história
E um outro para o horizonte

O calabouço te sucumbe bom amigo meu
Que de si, tornastes infiel
As algemas não existem
A luz que não enxergas
Se escondem ao fechar dos olhos seus
A guerra que travaste
E tão épica a tornaste
Petrifica sua alma
Congela o teu sangue
E aprisiona a tua vida
És de si, o único libertador
Com sua fé no seu Senhor
Hás de vencer o medo
A morte, a história, e sua dor
Destranca-te e vem para a vida...


terça-feira, 24 de março de 2015

O Pássaro e a Solidão




O pássaro e a solidão
Por onde passas com tuas asas
Por sob o céu, por sobre brasas
Ao teu alcance o infinito
Na imensa finitude o mais bonito
És de longe a esperança
És de perto a real mudança
Foges para cima, escancaras a imensidão
Voas para ti, para o além da solidão

O pássaro da solidão
Que persegue a imensidão
No calor do deserto a razão
Desbravado e perseguidor
Não perturba a tua dor
O vazio que angustia
É o reflexo da ousadia
Sua sombra está bem perto
Voa para si, ao céu aberto

O pássaro é a solidão
Avoa em busca afugentado 
Procurando angustiado
Quer espantar o que lhe dói
É invisível a causa que lhe corrói
Sai do bando e sem rumo
O silêncio é o seu companheiro oportuno
Nada vê no horizonte
A esperança, talvez, por trás dos montes

O pássaro solitário
Viajante do céu sem fim
Tudo vê mas não enxerga a si
Mesmo em bando ou sozinho
Já não é mais um passarinho
Sabe bem o seu destino
Voar, caçar sem desatino
A fonte e as respostas encontrar
Curar a dor, a solidão e para o céu voltar

O jogo dos 7 erros





Aêêêê! É nóis na fita!
Amém, Axé, Auerê!

Por onde começar? São tantas emoções e razões que... que... que... Que na real preciso tomar cuidado para não acenderem uma fogueira santa aos meus pés antes da devida hora. 

Numa das páginas que criei no Facebook, para os devidos fins de informação e formação da Comunidade onde participo, uma pessoa postou um convite incentivando a participação no Grupo de Oração. Beleza! Bem redigido por sinal. Começo, meio e fim! Começo "ok", fim "ok"... mas o meio, esse lascou!

Vamos lá. Sei que de certa forma vou contribuir com as lenhas para a minha santa fogueira, mas enfim, rendo-me ao absoluto desejo de escrever com os devidos ingredientes para apimentar e as eloquentes razões para argumentar. O caldo vai ficar picante!

Eis o "X" da questão, ou melhor, o meio propriamente dito: "(...) O Senhor tem um desejo imenso de amar a cada um de nós (...)". O convite é feito com a saudação inicial e referências sobre local, data e hora do encontro. Em seguida vem a questão da frase acima seguida por "(...) e nós temos a imensa necessidade desse amor (...)." Então, li, reli, e até respondi na página tecendo um comentário mas voltei atrás e apaguei, mantendo-me no silêncio não obsequioso. Foi uma questão de hora e lugar impróprios para a resposta. E, talvez, a percepção do sentido da frase foi somente minha. Melhor mesmo é escrever no meu espacinho aqui.

Lembrei-me daquela brincadeira que a gente encontra em alguns gibis e revistinhas infantis: "O jogo dos sete erros". O sete é um número interessante mesmo: "Setenta vezes sete devemos perdoar os nossos irmãos"; "de Maria Madalena saíram sete demônios", dentre outros mais. Aí, inspirei-me no sete para o título dessa bagaça. 

Voltando para o "sete" da questão: "O Senhor tem um desejo imenso de amar a cada um de nós." Não! Ele não tem desejo, porque ele simplesmente ama incondicionalmente. Isso diz e resume tudo sem precisar entrar em questões mais profundas. Desejo está mais para o ser humano. O Senhor, filho de Deus, que deu sua vida por nós não tem um desejo imenso de amar a cada um de nós porque Ele amou e ama. E pronto! E ponto!

A impressão é que somente atendendo ao convite para participar do G.O. é que "o Senhor" realizará o seu imenso desejo de amar a cada um de nós. Então quem não participa não é amado? Mas Deus não nos ama incondicionalmente? E quem não é adepto do Catolicismo? E quem não participa do movimento carismático? 

No fundo eu entendi o "sete" do sentido mas considero tais formas de se achegarem aos demais uma característica de consciência meramente mágica. E o mágico quando alimentado de forma ingênua pode se tornar trágico. Uma vez que a fala do dirigente ou coordenador tem um certo poder de alcance o cuidado com as palavras deve ser redobrado. Dizer por dizer até satanás diz. É preciso não apenas esperar pelo agir do Espírito Santo. É preciso mesmo mergulhar em águas mais profundas do estudo e da oração para então se ter uma prática alicerçada. É preciso ultrapassar as barreiras do ócio do auto-entendimento e tirar os tapa-olhos para que a "brisa suave" se achegue. Levar as coisas no impulsão é praticamente fomentar o ópio.

E assim caminha a humanidade. Não escrevi na página onde o convite procedeu-se para não fazer de lá um palco de discussão e desentendimento. Aqui, porém, não tive a mesma humildade. Nem preciso confessar isso porque se você leu até o final já concluiu por si próprio. 

E só mais um detalhe: se for oferecer madeira para a fogueira no dia da minha inquisição, por favor, seja um bom cristão e um exemplo de cidadão protetor da natureza. Certifique-se de que não está cortando árvores indevidamente.


quarta-feira, 18 de março de 2015

Pra ser livraria e católica falta um cadinho bão



Passei numa livraria Católica e como não achei o que queria perguntei a atendente se tinha livros do Leonardo Boff. Havia um título específico desse autor que me interessava. Ela levou-me para um cantinho e mostrou-me uma meia dúzia de livros ao lado de outra meia dúzia do Pe. Zezinho. Pensei: que descaso! Enfim, não bastasse, a moça velha de casa indagou-me se eu gostava de ler livros deste autor, o Boff. A pergunta saiu meio atravessada e eu não pude deixar de sorrir de forma amarelada e irônica. Óbvio! "Parece que ele é meio, meio (...)" disse ela. "Meio o quê? Conclua!". "Sei lá, meio confuso na escrita." Mais um sorriso e minha resposta direta: "geralmente os carismáticos não conseguem entender e compreender o teor teológico deste autor. É nível para poucos." Também não pude deixar de perguntar-lhe: "você não é daquelas que acredita que ele foi ex-comungado ou é?" E por incrível que pareça ela consentiu que pensava justamente dessa forma. Só pra encerrar o diálogo deixei-lhe meu pensamento: "Numa livraria católica onde há uma estante inteira com livros do matemático Aquino, que não entende merda nenhuma de Teologia, e não há praticamente nada de bons Teólogos, aff, é de questionar sobre a empresa enquanto livraria e enquanto católica. Bom, levando-se em conta o poder midiático por detrás do pseudo-escritor (Canção Nova) e o que isso deve render de lucro para todos, diante dessa visão não importa o conteúdo desde que se venda muito." Visão capitalista. O ópio alienante é interessante porque não questiona nada, apenas impõe doutrinas alucinógenas que efervescem no vazio do ser que assim permite. Disse mais: "eu tinha dois livros do Aquinóide." Deixei um suspense no ar, de propósito para que a vendedora perguntasse se eu havia lido. Dito e feito. Não se aguentou e perguntou. Encerramento com chave de ouro: "Não. Queimei os dois!" A carinha de paisagem ou de dois de paus, e de pura interrogação, condenava. É mais uma que vive desenraizada do mundo e com a cabecinha a "las alturas". Eco! Meu grau de tolerância está cada vez mais zero. 



terça-feira, 17 de março de 2015

O jargão da hipocrisia



Eis que um novo ópio surge e, como na maioria das vezes, de cima para baixo. O que vimos e assistimos nos últimos dias na imprensa áudio-televisiva e escrita, e principalmente nas redes sociais é o maior dos absurdos. Nada concreto, apenas uma anarquia generalizada. A cara que se mostra não é de um nível de intelectualidade superior e que sabe o porquê e para quê se manifesta. As pessoas entrevistadas durante o estardalhaço, em sua maioria, nem sabiam o que responder aos repórteres. 

Um pequeno grupo resolveu insurgir-se dando um tiro no escuro para ver se atingia algum alvo. Acabou dando certo. As redes sociais, a imprensa golpista, e muitos oportunistas de plantão trataram de disseminar as mazelas da desinformação. A oposição insatisfeita que representa a classe elitizada fomentou e financiou a tentativa de golpismo. Saldo: a cara da riqueza apresentada nas manifestações foi a que mais lucrou com esse show pirotécnico. Não fizeram nada mais nada menos que apertar o botão do "FODA-SE" ou em outras palavras "não quero nem saber em quem estou batendo, quero mais é dar porrada!" 


O tom dos discursos dos organizadores dos M.O.P.s (Movimentos Oportunistas de Plantão) era de ódio e por consequência a violência era inevitável. As agressões ocorridas sempre partiram da ala manifestante. Além de tentar intimidar a quem se opusesse faziam seus ataques verbais no naipe do calão mais baixo possível. Muitas faixas com frases discriminatórias foram fotografadas. Bonecos que representavam lideranças do Governo sendo enforcados. Um belo exemplo de movimento golpista.


Até mesmo o Aécio Forever Bebaço Neves postou um vídeo explicando sua ausência no dia "d". É muito repugnante um cara desse desnível fazer uma "chacota" assim. Como esse "ser", que ferrou com Minas Gerais, teve tamanha audácia? Esqueceram que ele bate em mulher! Foi pra encerrar com chave de "fenda". 


Mas quem está por detrás dessa cretinice toda? Tem gente grande sinsinhô! Políticos, grandes organizações midiáticas, empresários, um bando de oportunista, outro tando de golpista, um monte de otário, e uma maioria sem senso-crítico que adora agitação. Disso tudo dá pra salvar uma meia dúzia que manifestou conscientemente por melhorias. 


Agora, a frase que não param de falar em cada vídeo babaca que os revoltosinhos postam: "Juntos somos mais fortes e com Deus à nossa frente somos imbatíveis." É, Deus virou partidarista, apoia a miséria, apoia a lei do rico cada vez mais rico e o pobre cada vez mais pobre, gosta do discurso de ódio, da incitação à violência, da anti-democracia. Meu Deus! Perdoa, eles não sabem o que dizem!


Outro dia li um artigo muito bom, o PIB: "Perfeito Idiota Brasileiro". Trata da corrupção independente de classe social ou partido político. É interessante porque as pessoas veem a corrupção apenas no Governo vigente sendo que foi o que mais a combateu. Esquecem que ela é herança presenteada pelos colonizadores. O jeitinho brasileiro é um exemplo típico e moderno. Furar a fila, estacionar em lugar exclusivo para deficientes ou idosos, não devolver o troco quando recebê-lo a mais, dentre tantas outras cositas, especificam melhormente os modelitos de corrupção que pouca gente se atenta. Os protestadores passaram bem longe desta aula de cidadania. 


Bom, chega! Cansei de escrever sobre golpistas, oportunistas, políticos bebaços e cheiradores de pó, porque a maioria errante está no climax do êxtase causado pela efervescência do mais novo ópio: a hipocrisia renovada. A cara da riqueza não luta mas briga, não pra ter melhorias ao país mas sim privilégios exclusivos à sua classe. VÃO SE FERRAR OTÁRIOS!!! 


segunda-feira, 16 de março de 2015

Há um tempo em que o tempo não para



Há um tempo em que o tempo não para.

Continuar a vida sem a presença de um ente querido que partiu é tarefa árdua, penosa. Sofridão inexplicável. Dor incurável em que o próprio tempo torna-se paliativo companheiro e traiçoeiro. Não há respostas porque não há o que se questionar. É o ciclo da vida que nos dá e nos tira de cena. Deus, como autor e diretor deixa-nos o livre arbítrio para protagonizarmos nosso caminho e nossas escolhas. A vida é o palco e nós os meros responsáveis da atuação.

Seria possível não considerar a ausência da pessoa uma perda? Se não entendemos como perda é porque existe esperança de um reencontro na eternidade do paraíso, seja este aqui ou não. Ao contrário, se considerarmos como tal, então estamos reféns da derrota eterna. Teremos o amargo gosto do fim em doses homeopáticas nos dias que a nós restarão.

Quantas mortes existem? Diria que apenas uma. E mais, há quem tenha sobrevivido à ausência de quem partiu mas abdicou-se de sua própria vida por não suportar o deserto do solo caminhar.

Reorganizar a vida, a casa, os móveis, a rotina e o próprio tempo passa a ser a pior de todas as tarefas. Em cada canto visualizamos a imagem da pessoa que partiu. Enterramos o corpo mas a história permanece na memória. Não dá pra mantê-la ao centro da sala, velando-a todo dia. É preciso permitir que se cumpra a ordem natural das coisas. É preciso despedir-se da matéria e orar pela alma.

Existe também a morte de quem preferiu partir de nossa vida sem deixar um elo de contato. Julgo como o "doce abandono". Quem se foi muitas vezes nem lembra do que deixou, do que plantou e não cuidou, ou do espaço que teve para cultivar e nada fez. Creio que seja a pior de todas as mortes. É a morte de quem continua vivo. É a morte do sonho e o rompimento do elo de ligação. É a morte de quem não morreu mas deixou de co-existir em sua vida. Quem fica é como se permanecesse sentado no balanço aguardando as mãos para o empurrar. Não há mais quem embale o balançar. Talvez, a morte real seja de quem permaneceu sofrendo e ainda não encontrou forças para superar a ausência.

Os possíveis reencontros que ainda hão de ocorrer é como um sonho que te traz a lembrança e a saudade da pessoa em questão e depois quando se acorda a realidade te leva diretamente ao vazio da existência, ao deserto. Mais uma noite, um novo dia em que resta apenas amargar o desarranjo. Os móveis, as fotos, as lembranças, tudo desorganizado. A vela parece reacender na sala do velório, o coração.

Quem assim partiu, o fez consciente. É a pior de todas as perdas. Perder, não para a morte natural a qual todos estão sujeitos, mas para a morte cotidiana da relação que nunca firmou-se. Assistir o tempo passar é um velório eternal que perdura e acompanha cada cena, cada ato. Um romper é preciso, mesmo que seja o golpe de misericórdia. É preciso criar forças para embalar o balanço da vida. A sensação e o sentimento só serão experimentados se houver o primeiro ato. E que este seja para sua redenção e superação. 

"Todo homem morre mas nem todo homem vive!" Morrer é o ciclo natural da vida. O contrário não é verdadeiro. Viver é... sentir a brisa do balanço que vai e que volta... é encontrar, após o doce e amargo abandono, o doce e suave ombro, o sentimento de estar vivo, e as pessoas por quem vale a pena toda a vida.

Há um tempo em que o tempo não para: nunca!


sábado, 14 de março de 2015

Trabalhar pra quê?



"Não dá pra negar o aumento da participação leiga nas manifestações políticas. Um bom sinal de que as pessoas estão mais interessadas e ativas. Mas, como nem tudo são flores, pena que o número de oportunistas e golpistas que transformaram as mesmas em uma empresa de negócios e falcatruas praticamente triplicou. Trabalhar pra quê se se pode investir num merchandising, barato e repugnante por sinal? Fazer discursinho medíocre e postar nas redes sociais tornou-se o método mais fácil para atingir o posto de celebridade. E neste patamar, além reles mortais, já não há a necessidade de laborar honestamente. Quem mantém o ópio está coligado ao poder paralelo. Simples: é só olhar a cara 'revoltada' dos folgados 'online' e os imbecis súditos que tentam escandalizar a democracia. Babacas, vocês são o próprio escândalo!"

sexta-feira, 13 de março de 2015

Cachaça ganha novo nome: "Capeta"











Cachaça, goró, pileque, quando se entranha no sangue alheio, de forma negligente pelo autor do fato, ganha uma grande justificativa, ou melhor dizendo, um sinônimo que simboliza o regaço causado pela ingestão excessiva de álcool. O capeta deve estar se ardendo de raiva e cansado de tanto levar a fama!

Vinte e duas horas e trinta minutos do dia doze de março de dois mil e quinze. Quinta feira. Voltando da Faculdade e adentrando o bairro em que resido, alguns metros antes de virar para a rua da minha casa, percebo uma movimentação estranha no meio da avenida. Carros e motos desviando de um círculo de pessoas apavoradas. Cheguei mais perto e identifiquei uma mulher ao chão. Um rapaz a segurava fortemente e um menino de uns doze anos mantinha a cabeça dela em seu colo. Ela se debatia, se contorcia, alterava sua voz e falava "ele ta vindo me buscar". Segundo os comentários ela havia se jogado na frente de alguns carros que por sorte conseguiram desviar.

Sem muito o que poder fazer, apenas liguei para 193 - o Corpo de Bombeiros. Enquanto aguardava a chegada do resgate conversei com algumas pessoas que estavam ali desde o início do episódio e me inteirei do fato. Uns diziam que ela havia tomado um golinho de cerveja. Uma senhora disse que ela passou "nervoso". Informações que aos poucos se costuravam para o desfecho.

Não sei de onde surgiu, ou melhor, de onde brotou um pastor que já estava ajoelhado com a mão sobre a cabeça da mulher gritando pro "capeta" sair. Gente! Isso é terra sem lei! Se fizermos uma estatística será constatado que já são "DEZ" desencapetadores para cada tinhoso. Como manda a lei da demanda: será necessário inventar novas modalidades de "caos" para os profissionais do altar não perderem o posto!

Tive pena do filho de doze anos que chorava ao ver a mãe daquele jeito. Perguntava por quê que ela estava daquele jeito. Num determinado momento, enquanto o oportunista dava seu show, chamei o garoto e com jeitinho expliquei que aquilo, no máximo seria uma crise nervosa. Não precisava ser especialista pra entender os fatos, nem tampouco "capetologista".

Realizado o cerimonial o show-man se levanta e diz em alto e bom tom: "Podem levá-la para casa! Ela já está curada!" Colocaram-na numa cadeira ali mesmo na calçada. Ela estava fria e tremia muito. O próprio senhor, nada modesto, quisera ajudar a recolher a mulher. Intrometi-me na conversa e disse que os Bombeiros já estavam a caminho e que o mais sensato seria esperar ali mesmo. Liguei novamente e nem bem desliguei o celular a unidade móvel chegou.

Enquanto os bombeiros conversavam com a enferma sua mãe aparece para acompanhar o resgate. Perguntei-lhe se ela havia passado por algum "nervoso" ou ingerido alguma bebida de álcool. A senhora abriu o jogo: "Ih meu filho, ela é cheia de querer e não gosta de ouvir as verdades! Tá bebendo desde as cinco da tarde!" Bingo! Chamei um dos bombeiros de canto e repassei as informações.

Pronto. A situação agora estava devidamente encaminhada. As pessoas que mais precisavam de oração e conforto naquele momento não era a moça que encheu a cara e teve uma crise nervosa, mas sim a senhora sua mãe e os filhos que assistiram tudo. Óbvio que no momento oportuno um acompanhamento espiritual e religioso serão necessários. Agora, porém, apenas uma santa dose de glicose expulsaria o causador dos males.

Vivemos num momento em que uma mega onda pseudo-religiosa tem requerido veementemente um "demo" para pagar a conta pelos serviços prestados. Marketeiramente várias denominações religiosas tem exposto em suas vitrines verdadeiros absurdos, os quais chamam de milagres. Este tornou-se um sub-produto da fé que os falsos profetas utilizam em seus shows e dramatizações. O que deveria ser fonte de libertação é na real de alienação. Tudo em nome de Deus, inclusive o oportunismo financeiro-religioso.



terça-feira, 10 de março de 2015

Folhas secas


Vês, o tempo chegou.
Passou mas também ficou.
Vieram os verdes e recobriram os galhos.
Chegou a noite e cobriu-os de orvalho.
Nas manhãs irradiantes alegrou-nos as flores.
Serviram-se os bichos dos frutos os sabores.
Chegou a brisa, mudou-se o tempo.
Recaiu o gelado depois do forte vento.
Secaram-se as folhas e caíram.
Os galhos também se atingiram.
E o ciclo novamente se refez.
Trouxe, floriu, frutificou mais uma vez.
Quantos ciclos ainda virão?
Quantas folhas ainda secarão?
Quantas vezes ainda verei?
Quantas flores ainda colherei?
Não sei.
Não sei!
Não sei?
Não sei...
Quer sei onde chegarei!
Quer sei se realmente sei!
O tempo passa, a vida morre se revivendo.
O tempo passa, a gente vive aprendendo.
Entre galhos e folhas secas, a vida no tempo passa.
Entre flores e espinhos, a vida, a gente encontra graça.
O que secou virou lembrança.
O que ficou foi vontade e mudança.
Andarilhei pelo deserto com minhas cruzes.
Entre folhas e vidas secas sobrevivi sob luzes.
O ciclo da vida no tempo espera, jaz.
O ciclo do tempo na vida se refaz, em paz.