segunda-feira, 29 de abril de 2013

E o que há de ser



E o que há de importar 
é não desperdiçar 
a oportunidade de viver 
aquilo que se pode viver, 
por menor o tempo que seja...

Mais valerá o segundo bem vivido 
do que a eternidade lamentada. 
Mais valerá a experiência frustrada 
do que a incerteza de algo 
que poderia ter sido e acontecido...
Então, sendo assim, viverei...
sem medo, sem pressa...

Só sei que meu mundo está fechado
diante daquilo que parece dominar.

 Só sei que meu mundo está vivo
num lugar onde ninguém alcança.

 Somente a quem eu permito
e quero que esteja comigo...
neste labirinto de pensamento.

Só sei que estais neste lugar
e ninguém adentra...
Só sei que nada, 
nada no mundo externo me perturba mais...
O que importa é o que habita dentro de mim...


quinta-feira, 11 de abril de 2013

Acalenta-me a alma


Acalenta-me a alma
P
ela magia que exalas no silêncio
O fitar dos olhos que se enamoram
em raios do coração
A demora que no tempo escora
e anseia pela chegada...

Acalenta-me a alma
Pelo ensejo do desejo que se sonha
Na espera sem quimera
que no horizonte vislumbras e alcanças
Caminhar em lentidão, sem pressa, sem promessa,
irrigada de paixão

Acalenta-me a alma
O sorriso tão sublime, inusitado, desprovido
O toque do impossível
que se esbarra no invisível
Inimigos da emoção, disfarçados de razão,
vencedor é o coração

Acalenta-me a alma
No cenário, ordinário, entre nostalgia e poesia
Em partidas e chegadas, o momento,
o sofrimento, o tempo
Na espera tão sofrida,
no silêncio da dor embutida 

Acalenta-me a alma
O semblante tão vibrante da mulher transformada
Coração de menina, tão traquina,
Te perdeste nos passos
Na alma que te encontra,
agora deslizam em compassos 

Acalenta-me o brilho
Acalenta-me o fulgor
Acalenta-me o que não se vê
Acalenta-me o que se sente
Acalenta-me a alma, o despertar que te fez tão forte
Pelo norte do corpo, do coração e da alma...



terça-feira, 2 de abril de 2013

Proibido realizar milagres em dia de sábado!



A regra dos homens X O amor de Deus.

Imaginem que só fosse considerado cristão aquele que soubesse e também respeitasse as regras estabelecidas por sua igreja, por sua religião. No meu caso, como Cristão Católico, existe o CIC - Catecismo da Igreja Católica - com quase 3.000 páginas para nortear, levando em conta a necessidade do respeito à comunidade, à localidade, à realidade e à cultura. Não deve nem pode ser um mecanismo engessado. Isso acabaria por sentenciar a diversidade a uma massa falida e não pensante, ou seja, totalmente alienada.

Jesus, ultrapassou as regras para o bem comum. Ponto. Soltou o chicote no Templo quando os ambulantes faziam daquele lugar sagrado uma verdadeira feira livre. Os doutores da Lei é que deveriam cuidar desse detalhe mas não! Quem revirou as bancas, esbravejou, gritou foi o simples Nazareno, filho do carpinteiro José. 

Ao se criar um extenso livro com itens e sub-itens, creio eu, a intenção seria muito mais para que a Igreja como um todo pudesse caminhar com proximidade. Mas, o que ocorre é que estudiosos e entendidos usam as regras da igreja para classificar quem é digno e está de acordo com a doutrina e quem é herege por descumpri-las. 

A regra de Deus: o Amor! Pronto. Ponto. Seguindo as pegadas do Nazareno, que foi considerado um blasfemador, um herege, um possuído por espíritos malignos, entendemos que tudo se resume no amor ao Pai, o Deus criador, e ao próximo, imagem e semelhança do Pai. 

"A Lei de Moisés manda que apedrejemos essa mulher pega em adultério e tu, o que dizes?" Perguntaram os homens da lei ao revolucionário Jesus. "Quem não tem pecado que atire a primeira pedra!" Respondeu o Nazareno. O desfecho dessa história todos sabem. Dos mais velhos aos mais novos, cada um foi soltando sua pedra e retirando-se do local. Ficaram apenas Ele, o libertador, e a adúltera sentenciada. A lição foi o amor. O amor acima da regra. O amor acima da lei. Na verdade pode ter sido uma conspiração armada pelos doutores para pegar Jesus e o contradizê-Lo na frente do povo. O amor venceu! 

"Este homem desobedece a Lei de Moisés, pois curou um homem em dia de sábado!" E mais uma vez, os importunados e orgulhosos escalonados da Lei, mestres e fariseus, destilavam sua ira e conspiravam numa trama que teria seu desfecho na prisão, condenação e morte de Cruz ao "classificado" agitador que para nós é o Filho do Amor. Amor e perdão. O Filho de Deus, Jesus. 

Jesus em sua essência, viveu a regra do amor-obediência ao Pai e amor-perdão ao próximo, os irmãos. Se Jesus chegasse agora e agitasse nosso meio revirando bancas, questionando regras impostas que mais servem para classificar e excluir que à instigar uma caminhada coesa em unidade e respeito para com a diversidade, com certeza seria novamente crucificado e em praça pública. A condenação seria inevitável! 

Os mestres da lei vivem por conta da classificação. A sentenciação acontece nas bancas de cada Templo. A condenação é destilada pelos lábios dos que se põem a serviço. Do encontro com os olhares, entre sentenciadores e sentenciados, as cusparadas, pedradas e zombarias continuam até o calvário. As vozes cessam quando a morte parece vitoriosa. Excluídos pelas regras e pelos olhares, as pessoas deixam de caminhar rumo à Comunhão com o Cristo, que já percorrera e pagara o preço por todos nós. 

O Amor de Deus sempre vence! Cristo venceu a morte! Jesus é o Filho de Deus! Deus é amor! Jesus é o amor! No caminho que os pés percorrem até o encontro maior com o Cristo, o crucificado, morto e ressuscitado, cabe a cada um a entrega e o comprometimento de querer, no raiar de cada manhã, ser alguém melhor do que fora outrora. Como imperfeitos pecadores, os erros, as falhas, tudo acontecerá e por vezes poderemos tropeçar na mesma pedra. Vale-nos a conversão diária que nos instiga a ser e viver esse amor e a não correr o risco de morrer sem ter havido alguma mudança em si. 

Religião: justificação ou contradição? Nem uma nem outra. Ela tem que ser o caminho, as próprias pegadas do Cristo, o Jesus, o Nazareno, filho do carpinteiro, agitador, revolucionário, libertador enviado por seu Pai, o Deus do Amor para viver e morrer por esse Amor...

Enquanto as regras dos homens forem usadas para uma classificação de falsa moral que resulta na exclusão de pessoas, detona a dignidade alheia e transforma o sentenciado em pobre diabo, a Igreja estará longe de ser caminho de libertação e salvação.

"Proibido fazer milagres em dia de sábado" ainda é lei vigente em tempos atuais. Que Francisco não se curve aos homens e suas regras! Que ele solte o chicote no trono e na realeza e caminhe conosco rumo ao horizonte do Amor. Que o Templo esteja aberto e se torne fonte de Libertação! Jamais de exclusão! E, que os resquícios farisaicos, a começar dos mais velhos, joguem suas pedras e retornem aos seus lugares!


segunda-feira, 1 de abril de 2013

Sabores, temperos e saudades




"Vóóó! Faz um viradinho pra mim?!"
Levantava-se "correndinho" e em menos de dez minutos estava já no prato aquele mexido com feijão e farinha, que só a Vó Cida tinha a arte em fazer. Receita que ninguém conseguiu copiar. O sabor do tempero ficou na saudade...

Domingo. "Nego, tira o "arroiz" pelos ladinhos porque o seu pai gosta de tirar ele mais soltinho por cima!" Onze horas da manhã já estava praticamente tudo pronto. "Não coloca limão na salada porque o Berto gosta sem tempero. Liga lá na casa deles que eu quero saber se eles vem pra comer aqui!" 

"Oi! Cêis vem logo porque senão a comida esfria!" Dois frangos refogados num sabor também inigualável. Uma baciada de macarronada e uma pratada de bifes ou bistecas. "O Derci gosta mais de frango, mas o Berto gosta de bife." Esse era o ritual sagrado de cada domingo. 

Caso alguém passasse lá durante a semana e fora de hora, em questão de minutos a mesa estava posta. Se fosse por volta das duas ou três horas da tarde seria um café feito na hora. Rapidinho ela corria até a padaria mais próxima e trazia pães e mortadela. Mas, se o relógio beirasse as dezessete horas seria uma jantinha básica com direito a uma carne moída fresquinha, batata frita para as crianças e uma coca-cola, sempre reservada na geladeira para momentos inusitados. Deixava as visitas lá e já corria comprar e preparar os comes. 

"Tem doce de côco na geladeira!" Era um dos poucos que o Vô Dito gostava... De poucas conversas, foi se abrindo mais desde que a Vó Cida se foi. Ambos, gostavam de músicas sertanejas de raiz, conhecidas pelo casal como "caipiras". Vó Cida sempre que podia escutava essas melodias que a instigava a dançar com sua  vassoura na cozinha. Vez ou outra ela tentava me ensinar mas além de achar muita graça não tinha então o gingado que ela esperava. Preferia a vassoura mesmo, que podia conduzi-la conforme o ritmo da música.

"Vó, dá dinheiro pra gente comprar um sorvete?!" Lá ia ela pegar umas notas, sempre guardadas em diversos lugares. Tinha até um copinho de moedas na prateleira da cozinha reservado para os netos. "Toma aqui! Traz um de côco pra mim!" Côco, era esse o único sabor que ela gostava.

Cada momento desses que ficou na dor da ausência tornou-se imortal na memória. Lembrança sagrada eternizada no tempo, no sabor de cada tempero e na saudade...

Ao redor da mesa, os netos mais velhos, eu e meu primo Kleber, aguardávamos as batatas fritas que acompanhavam um prato de arroz com feijão e carne moída. Tudo junto e misturado. Cada qual com sua colher partilhava no mesmo prato o sabor da simplicidade transformada na melhor comida do mundo...

Sabores, temperos e saudades... 
Por vezes, pensamos em dar aos filhos aquilo que não tivemos e esquecemos que crescemos e nos tornamos homem ou mulher em meio à simplicidade, ao amor, ao exemplo... e em família!...


"Eu vô dancá no arraiá feijão queimado
Eu vô dançá quadrilha do pé avermeiado!"