quarta-feira, 29 de maio de 2013

Foi um tempo


Foi um tempo. Foi um tempo que não havia tempo. E o tempo que corria não corria contra o que havia. E o tempo que passava não retirava da vida as gotas de cada dia. Foi um tempo em que o tempo não foi momento, foi tempo real...

Foi um tempo. Foi um tempo em que infância era coisa de gente grande realizada na cabeça de criança. E o tempo que se custava deixar os ponteiros darem voltas era vilão, inimigo da espera. E o tempo que então se passava era lembrança nata, era saudade recente de quem nunca fora ausente. Foi um tempo em que o tempo não deixava marcas, nem dor, foi tempo real...

Foi um tempo. Foi um tempo em que o futuro incerto era o rumo certo a ser seguido. E o mesmo tempo foi perseguidor imbatível das metas traçadas, dos planos sonhados. E o tempo que ficava, ficava retido invólucro na caixa secreta do coração para ser aberta um dia na janela da saudade. Foi um tempo que no seu saldo, nem positivo nem negativo, foi simplesmente vivido, foi simplesmente um tempo real...

Foi um tempo. Foi um tempo que virou história, memória viva da roda viva do tempo da vida. E o mesmo tempo que um dia fora perseguido, almejado, traçado, sonhado, surrado e vencido é o tempo que gostaria de ver novamente passar feito rio que corre pro mar, a refazer caminhos. Foi um tempo que ficou pra trás, fez raízes, fez poesias, plantou esperança, regou sementes. Foi um tempo cultivado no passado, regado na lembrança. Foi um tempo que foi, não volta nem nos dá a chance de trilhá-lo outra vez...

Foi um tempo bom...

terça-feira, 21 de maio de 2013

Nazi-cristão, Hitler-Felicião


Em sua concepção o pai do nazismo, Adolf Hitler, deixaria o mundo com uma raça pura a começar pelo extermínio dos judeus. Velhos, crianças, deficientes também faziam parte da lista dos pré-destinados ao objeto dessa insana ideologia. Dominar o mundo era seu objetivo final. 

As teorias conspiratórias viajaram e ainda hoje o fazem quando soltam que Hitler teve um pacto com o próprio diabo. Algumas falam que ele foi o primeiro a ter um contato imediato com ET's e que recebeu ajuda para implantar seu plano. Há os que ainda vão mais longe afirmando que ele é o próprio diabo, a besta do apocalipse. Teorias à parte voltemos ao mundo contemporâneo. Deixemos o maior ícone do preconceito, da insanidade e da perversidade humana descansar na brasa do fogo do inferno. Se ele era o próprio "capeta" então está em paz em sua morada.

Uma leva de teólogos surgida neste vasto mercado no qual a fé é a porta de entrada têm viajado bem mais longe que o besta do Hitler. Considerando-se os avanços tecnológicos e principalmente da mente humana, tais profissionais têm ido de balão pra outras galaxias, a levar em conta suas chulas teorias embasadas em fragmentos fora de contexto, principalmente no que se diz respeito ao livro mais lido no mundo: a Bíblia. Amadores que fugiram da aula de interpretação de texto e desconhecem a "Lectio Divina" acabam desse jeito, assim, originando trilhares de placas com nomes sugestivos e até instigantes: "assembleia-universal-mundial-internacional-al-al-al".

Perdoem-me os bons profissionais. Estou aqui também a defendê-los. Tenho amigos Teólogos que fazem jus ao título. Em dias atuais é muito fácil adquirir diploma de qualquer profissão sem mesmo ter sentado um só minuto numa cadeira universitária. Daí, surgem as grandes sacadas de merda que a mídia tem nos mostrado com frequência. E merda maior ainda é a que assumiu a CDH - Comissão de Direitos Humanos.

A partir daí o cara já se intitula pastor. Abre o seu próprio negócio e já vem com aquela ladainha que tá fazendo caridade. E a caridade se faz porque ninguém quer acabar com a pobreza. Portanto, no ciclo da vida, é necessário que haja a miséria para que haja "caridade". Havendo caridade a "igreja" é o caminho seguro do céu. Sendo a igreja caminho seguro é necessário fazer "seguro" dos fieis: $$$$$!!!


Perdoem-me os fieis. Esses também são os pequeninos que Jesus fala. Muitos são ludibriados pelas falácias dos profissionais, dentre esses alguns nomes surgiram nas entranhas das "igrejas de poder" ou "igrejas paralelas" ou ainda "igrejas de 1,99", que pregam uma "neo-segregação", um "nazismo" disfarçado em ovelha.

Na verdade tudo isso é uma pena. Pois os que deveriam ser caminho de orientação, de comunhão entre pessoas, de unidade e amor, são os que mais causam a discórdia, o ódio e a guerra. Guerra esta que leva o nome de santa ao selecionar os aptos ou inaptos ao Reino de Deus. Usam e abusam da Palavra em causa própria.

E o que me levou a escrever sobre isso mais uma vez? Advinha! Li o comentário de um profissional da fé que "imorais, idólatras, homossexuais, ladrões, alcoólatras, trapaceiros, entre outros, não herdarão o Reino de Deus!" Vixe!!! Trapaceiro??? Eu li isso mesmo??? NÃO A-CRE-DI-TOOOOOO! Então esse mercado paralelo vai acabar! É... por essa óptica, ficou mais interessante. 

Não conta pra ninguém mas os neo-pentecostais querem dominar o mundo com sua ideologia nazi-cristã, julgando, sentenciando e exterminando aos que não se curvam perante suas insanidades preconceituosas. Lembrem-se: Hitler se matou! 

Teoria por teoria eu também faço a minha:
"'Nazi-cristão, Hitler-Felicião' é o que há de mais grotesco e de mais desonroso para o povo brasileiro. É o cão chupando manga! É macumba mal feita, de quinta! É a demência de uma ala alienada por alienígenas que conspiram contra os de mente sã. Essa ala também se uniu ao povo das lavas e o das trevas que convocaram o Jason do Sexta-Feira 13 para aterrorizar o mundo. Não contente, infiltraram o agente Osama Bin Laden no sistema mundial para gerar o caos. Este também foi morto depois de não ter se tornado sócio da Disney e assumir o lugar do Pateta."

É... é bem por aí mesmo...


terça-feira, 14 de maio de 2013

O sorriso da Lua



Noite adentro,
Um sorriso no céu
Em sua singela nudez
A Lua discreta
Presente se faz...


A visão acometida
Por pensamentos longínquos
Transformados em sonhos
Onde o coração protagoniza
Impera e realiza
Ao encontrar o sorriso estampado
Na cortina escura de estrelas
Lá está ela,
Tão linda, tão Lua...


Somente a Lua sabe
No silêncio que discorre inerte
Um pedido, uma oração é lançada
Onde a mágica, em brilho é exalada
E a sintonia dos astros é o flerte
É a hora da chegada
Da partida, da vida
Sobrevida...


Do calor, do fogo, o Sol desponta
Em corrida que no tempo é rotina
É a química dos opostos
Em sinônimos, antônimos,
Encantos e mantos
Cortinas sem máscaras
Que a mística enlaça
A Lua sabe...
Porque o Sol também renasce
Em todas as manhãs
No casual desencontro
Não deixa de ser perfeito
Amantes-amigos
Cúmplices eternos
Romance real,
Que na poesia da vida
No compromisso de apenas nascer
E cumprir seu papel
Se amam e se buscam
Pela eternidade do tempo
Em sintonia de amor fiel...


domingo, 12 de maio de 2013

O que se derrama de nós



Poucos tiveram o privilégio de ter sido educado por três mães. Sim, três. Minha mãe Claudete e minhas avós Iolanda (materna) e Maria Aparecida (paterna). Jeitos diferentes, culturas não letradas, amor que se vive e recebe em dedicação. Três amores recebidos em alto grau de simplicidade e que não se transmite com palavras bonitas. No coração, a certeza de que a semente plantada, será cultivada pela eternidade pelas próximas gerações. 

Saudades imensas das mães-avós que agora estão no céu... Um dia como o de hoje era pra ter o tempo dividido entre idas e vindas na casa de uma e de outra. Um pratinho aqui, outro ali, tudo para não deixar nenhuma delas sentida. Dia de domingo cada uma já tinha o seu cardápio sempre pronto. Numa data como essa, a presença dos filhos e netos era indispensável. Ao redor da mesa a gente aguardava o resultado de seus dotes. Era um tempo que elas amavam, ao seu jeito, ver passar. A alegria pela presença dos seus se transformava em total entrega que vinha servida em sabores e temperos.

Por mais que o domingo tivesse sempre o mesmo cardápio era algo que não podíamos deixar de saborear. Domingão sem uma "lambiscada" na casa das avós não era domingo. Frango na panela, macarronada, arroz... Sabores que o paladar aguça só em pensar. Pensamentos que nos fazem mergulhar na saudade dos sabores, da mesa, dos talheres tocando nos pratos, das conversas, da casa cheia e da divina maestria da Artista que não aguardava elogios, apenas cultivava e apreciava feliz a presença de cada um...

Tanto tempo e a gente não esquece! Tempo, distância, sabores, saudades... Ah, se a gente pudesse voltar lá atrás, né?! Se a gente pudesse deixar nossos filhos aos cuidados de suas bisavós! Ah... lembranças, que no compasso do coração, alegra e faz doer... 

Mãe... e, o que eu poderia dizer além de te agradecer por tudo...!? Sua presença, sua palavra sempre convicta diante de cada situação. Determinação, vitória, superação... É isso mesmo: SU-PE-RA-ÇÃO! Você é sinônimo de fortaleza, mesmo quando suas forças parecem fugir-lhe as mãos. Presença que dispensa palavras. Basta que esteja perto. Basta teu silêncio. 

E, o mais importante, o que se derrama de nós, hoje me deixa feliz e completo. Pois, é a certeza de que é o seu sangue que corre em minhas veias. A certeza de sua continuidade, a continuidade de nossa família. O que se derrama de nós, por vezes, é a semelhança que temos nos gostos, no jeito de resolver as coisas, e na forma que nos expressamos, que nos dedicamos, que nos entregamos e que também sofremos.

Por hoje, me basta saber que te tenho comigo. Não sofro a distância que nos separa. Deixo a saudade doer e a transformo em sua voz que ressoa no pé do ouvido, indicando uma alternativa diante de cada situação. Tudo o que lhe foi transmitido por seus pais, meus avós, sem palavras, sem conversas, de alguma forma chegaram até mim... Ensinamentos de sabedoria que a escola do amor transmite no silêncio dos atos.


Mãe: amor, fortaleza, exemplo, perdão, superação, calmaria, inteligência, beleza, determinação, resposta, sabor, destreza, vitória, sabedoria... Saudade! Saudade do seu amor. Saudade de sua presença. Obrigado, por tantas vezes, ter acreditado em mim, quando eu já havia perdido as esperanças. Obrigado por toda a sua vida abdicada de si e dedicada à nós. Obrigado por sua entrega... e quem se entrega, realmente ama. E o que se derrama de nós também é amor! Mãe, amo você! Saudades...


























quinta-feira, 9 de maio de 2013

"Propriedade do Senhor Jesus"



Há dias venho pensando, ou melhor, tentando desmistificar o que se passa no pensamento e no coração de uma pessoa quando prega um adesivo em letras garrafais em seu veículo com tais dizeres: "PROPRIEDADE DO SENHOR JESUS". Duas vertentes que encontrei para discorrer sobre o assunto. Talvez três.
 

A primeira seria o bem querer do cristão, ou melhor, a boa vontade em se colocar à serviço de Deus, através dos ensinamentos de Cristo e assim todos os seus bens, da mesma forma estariam à disposição. 

A segunda seria a falta de informação por parte de quem usa uma frase desse naipe, pois ao se falar de Jesus, não dá pra pensar em bens, não dá pra pensar em aquisições, em propriedades, veículos, e outras coisas mais. Ele se despojou de tudo, de Si principalmente. O único burrinho que Jesus montou fora emprestado!

Uma terceira linha seria a do marketing pessoal que pode muito bem se misturar com a primeira. A necessidade de expor a figura do pensamento, de se auto afirmar perante aos seus no meio em que convive, o faz pensar que é alguém acima dos que ainda não compraram a mesma ideia. Percebendo ou não, torna-se um auto-segregador, colocando-se num patamar de destaque. 


Não vou esticar o chiclete. Não precisa. A trajetória de Jesus na terra foi regada de sabedoria, simplicidade, obediência a Deus, o seu Pai Celeste, e cumplicidade aos seus pais Maria e José. Despojo, partilha, comunidade, comunhão, igualdade, fraternidade... Em nenhum momento o acúmulo de bens foi necessário para a expansão de seus ensinamentos... Por isso tais frases de "rabeira de caminhão" passam longe de ter um sentido cristão. É uma ínfima controvérsia. Falta de esclarecimento.
Jesus, questionador das leis, opositor aos doutores da lei, revolucionário que estalou o chicote sobre aqueles que comercializavam no Templo, afirmou ao jovem rico que para alcançar a felicidade eterna, o Reino dos Céus, era necessário apenas doar seus bens aos pobres. Este não o aceitou.


"Nem ouro nem prata..."

"Não carregueis duas túnicas..."

"...É mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha do que um rico entrar no Reino dos Céus!"


"E era um o coração e a alma da multidão dos que criam, e ninguém dizia que coisa alguma do que possuía era sua própria, mas todas as coisas lhes eram comuns." (Atos 4,32)
Propriedade do Senhor Jesus é o coração, o Templo onde o Espírito Santo de Deus faz morada sem ter que adesivar, sem ter que pagar, sem ter que mostrar. Basta apenas o Sim e isso é pessoal. Fé. É algo entre você e Deus, que dispensa marketing, imposto e vitrine: máscaras da hipocrisia. 


Pura "teologia da prosperidade", uma farsa implícita nas pregações dos profissionais da fé em busca de massas pagantes mas não pensantes.

sábado, 4 de maio de 2013

Só sei que nada sei




E sei que o caminho se faz
Se faz pelas estradas da vida,
Com terras, com pedras
Flores, espinhos... frutos
Cantos, encantos,
Prantos, desencantos...

E sei que o brilho do encanto
Aos olhos da alma
Fazem morada no verde recanto
Que já fora castanho, escuro ou claro
Que já fora no brilho do preto
Tão lindo, tão vívido, tão negro...

E sei que nas terras de cada estrada
Nas estreladas noites de lua intensa
Bate forte peito adentro
No batido sofrido, querido, latido
Por vezes esquecido
Solitário e solidário 
Guerreiro coração...

E sei que nos mares da mansidão
Na paisagem, no regaço, o leito intenso
Onde descansa o lutador
Por tempos, tão somente, 
Um mero sobrevivente
Navegador, nem perdido nem achado, 
Pelos ventos levado
Pelas brisas acariciado
Pelo tempo surrado
Pela vida... amante e amado...

E sei que nas lonas que já beijei
Cara ao chão, que na dor sofrida
Em prantos a terra molhei
A aurora que precede o nascer 
Acalenta, encanta e seduz
E em esperança o sonho se traduz
Em espera de um fulgor e arrebatador
Tão único, tão mágico Dia
Que mais uma vez, sorriu em cores
Em sabores, em poesias e flores
Em pressa de não querer
Ver o tempo correr...

Mas sei ainda, 
Em última instância
Que sou aprendiz
Eterno aprendiz
Das coisas simples
Sabedoria da alma
E que no tempo
Na verdade 
Eu nada sei...