sexta-feira, 27 de abril de 2018

Desatando antigos nós


Sim. Acredito em Deus. Acredito que deva ter existido um início 'mágico', 'celestial', 'inexplicável' para tudo isso. Acredito também que essa obra criacional pode ser entendida como fruto de um amor incomensurável, tal qual um pai por ser filho, ou como um pintor que se deleita de orgulho quando conclui sua pintura. 

Também não perdi minha fé com a conclusão do curso de Teologia. 'A verdade que liberta' deixou de me assombrar e passou a me encorajar. Sem medo de denunciar, de criticar (se for preciso), de expor e principalmente de questionar os modos operantes que assolam os bastidores institucionais. Discordar das regras morais que violam o bem estar e até mesmo a vida do ser humano é mais do que um mero fato, é obrigação! 

Sou católico de berço, gosto dessa religião mas não concordo com muitas de suas páginas de regras ora absurdas, ora abusivas, ora descabidas. Conheço leigos, padres e freis, entre outros, que são verdadeiros meios de libertação junto à caminhada de sua comunidade e para uma vida plena e em abundância de seus fiéis. Conheço também, infelizmente, o oposto disso que está na prática deturpada daquilo que se encontra nas tais páginas: a hipocrisia, a falsidade, a alienação que se manifestam através dos falsos profetas. Não tenho medo do que penso, do que sinto e nem tampouco de partilhar tais sentimentos e convicções. Por outro lado não me considero menos cristão que aqueles que ostentam seus joelhos calejados de tanto frequentarem a igreja. As aparências também fazem parte do marketing religioso. 

Biblicamente discordo daquele deus citado, principalmente no Antigo Testamento, que castigava um povo em detrimento de outro, que era severo e vingativo, além de dar poderes para alguns seletos homens que, julgando-se escolhidos, usavam deus para atuar em causa própria. No que diz respeito a isso, encontramos versões atuais de como atuar em causa própria nas religiões contemporâneas. É algo que nunca deixou de existir, apenas se modernizou.

Seguindo à risca a expressão bíblica 'crescei-vos e multiplicai-vos', assim as religiões o fizeram. São muitas denominações que, em seus ambientes criam insatisfações entre seus membros e a partir daí os que discordam das regras e doutrinas aplicadas se insurgem e recriam sua própria igreja, desta vez readaptada aos seus moldes de entendimento, até que o ciclo se repita e a redivisão aconteça.

E não é apenas por isso que as ruas de cada cidade estão repletas de templos, ou melhor, uma nova gama de adaptações de templos. Há lugares em que são mais de cinco numa única ruela. Como disse 'não apenas por isso', mas o motivo principal ultrapassa as questões espirituais e a busca pela tão desejada salvação eterna, tornou-se um negócio. Não duvido da fé de quem procura mas quem manipula está ciente de seu oportunismo que visa apenas o lucro sobre a fé alheia. Impossível assistir a isso calado! 

Não mais acredito na religião que se impõe acima da vida, nem naquela que valoriza o institucional em detrimento do ser humano. Qualquer religião que tem em seu legado o amor e a luta pela vida é digna de ser um caminho para a salvação. O contrário disso é hipocrisia, alienação e caminho de escuridão.

Em termos de religião, a arte, a cultura e a educação tem sido religiosamente libertadoras e comprometidas com a vida. Já a religião, há muito perdeu-se de si e perdeu sua própria fé... Desatar um antigo nó, é desatar a nós mesmos.