segunda-feira, 1 de julho de 2019

Casa de vó: causo, comida e amor

* Casa da vó Landa - Piraju/SP - 2000

Falar da infância é recordar meus dias na casa das avós. Ouvir causos, brincar no quintal, deitar no sofá para assistir TV, comida simples e maravilhosa a toda hora e, o principal, uma atenção repleta de cuidado e amor. Voltar no tempo não me custa, basta olhar para o simples da vida, respirar fundo, sorrir e aventurar no pensamento pelo caminho da saudade...

Tanto a vó Cida quanto a vó Landa eram grandes contadoras de causos. Enquanto criança eu adorava ouvir as fabulosas estórias que ao final traziam uma grande lição de vida. Os causos eram sempre os mesmos e talvez nos dias de hoje nem façam tanto sentido se a gente recontar, mas a forma com que elas se expressavam olhando nos olhos, dando toda a atenção e ensinando sobre a vida, ah, com certeza é algo que me marcou muito.

Cada avó tinha sua particularidade quanto ao jeito de cozinhar e cada uma também tinha a sua especialidade. Casa de vó, comida de vó, amor de vó... avós deviam ser imortais...

Na casa da vó Cida um dos pratos que eu mais gostava era arroz, feijão, carne moída e batata frita, tudo junto e misturado, ou simplesmente um viradinho de feijão que até hoje ninguém conseguiu fazer igual. Quantas vezes, eu e meu primo dividimos o mesmo prato?! Esse era um dos lados bom de ser criança. Comer no mesmo prato era tão gostoso quanto saborear a comida. O "estar junto" dava um tempero todo especial. Acredito que aos olhos da vó era algo que não tinha preço.

Já na casa da vó Landa, além da macarronada e batata frita também, um dos pratos que me marcou muito é o famoso arroz com ovo. Não foram poucas as vezes, em época de férias escolar que eu aproveitava para brincar com um amigo no quintal, chegava a hora do almoço e ela fazia esse mexidão de arroz com ovo e colocava numa bacia pra gente comer. Coisa tão boa quanto inocente, sentados no "terreiro", como ela falava, a gente comia, conversava e já planejava a próxima brincadeira. Em muitas noites também dividi o mesmo prato com meu avô Joaquim, ele sentado à mesa e eu ao seu lado...

Esse simples que vivi na casa das avós considero como um privilégio e motivo de muito orgulho. E é através desse olhar no tempo que também sempre me inspiro pra dar o meu melhor aos meus filhos. Ciente do avanço da modernidade e da tecnologia e, entendendo isso até como uma necessidade para os dias atuais, mesmo assim, procuro não deixar de mostrar que amor está muito mais nos gestos e nas pequenas coisas da vida do que no tamanho do embrulho e do presente em si.