segunda-feira, 23 de agosto de 2021

Recortes e Fotografias: fazendo a diferença



"Booom diiaaa!" Cumprimentou-nos a ciclista que pedalava numa das pistas que contornam o Rio Uberabinha. Estávamos fazendo uma caminhada matinal de domingo, eu e minha mãe, e cruzando com pessoas caminhando, correndo ou pedalando o tempo todo. O ambiente cercado de árvores que traz um ar de tranquilidade mistura-se por vezes com um certo mal cheiro que advém do rio. Várias pessoas nos cumprimentaram, mas essa ciclista, uma senhora por sinal, fez questão de nos cumprimentar olhando em nossa direção. Foi uma gentileza regada de vontade de transmitir um pouquinho de alegria. E toda alegria no mínimo tem de ser contagiante. 

Noutro dia, passeando com meu filho Felipe pelo shopping, entramos numa loja de tênis e numa livraria. Engraçado que sempre vamos aos mesmos lugares e o melhor é que temos praticamente os mesmos gostos. Quando eles não coincidem, sabemos exatamente que o que não me agrada, fica perfeitamente lindo nele e vice-versa. O que eu posso relatar desse dia foram duas pessoas, os dois atendentes que fizeram toda a diferença.

Na loja de tênis, o vendedor se aproximou e se colocou à disposição para me auxiliar, caso fosse preciso. Perguntei sobre tênis mais específico para uma caminhada e corrida. Ele perguntou minha preferência, e depois mostrou-me outra marca que eu não conhecia. Desse momento em diante, atento ao meu interesse e foco, ele explicou a diferença entre a marca que eu costumo usar e a que ele me apresentou. Posso dizer que foi uma aula sobre os tênis e a especificidade de cada um para determinados tipos de exercícios. Atentei-me principalmente quanto ao solado e o material inteligente que compõe todo o sistema de amortecimento de impacto que, segundo ele, não deforma o solado. É um material que depois de usado ele retorna ao estado natural. Por fim, não levei nada nesse dia mas quando resolvi, voltei com o mesmo vendedor. 

Já na loja de livros, uma perdição para meu vício, sempre tenho que me conter para não exagerar nas compras. Para mim, em especial, é um paraíso, um verdadeiro parque de diversões. Passaria horas na livraria olhando, conhecendo, experimentando um pouquinho de cada coisa e depois, com pesar, escolher apenas alguns para levar para casa. Nesse dia, em busca de alguns títulos específicos, me deparei com uma banca promocional do tipo "leve 3 e pague 2". Numa piscada eu já estava com 9 títulos à mão. Foi quando solicitei a ajuda de um vendedor. O rapaz, muito atencioso, não apenas me ajudou a escolher os 3 títulos que eu trouxe pra casa mas me levou para conhecer outros autores dentro da área que estava buscando. No final eu perguntei se ele havia feito filosofia. A resposta foi positiva e então adentramos em assuntos diversos sobre educação, filosofia, teologia e realidade. 

A diferença se faz não com belas palavras nem com atitudes para inflar o ego frente a holofotes. A coisa quanto mais simples, mais próxima da alma se achega. O bom dia da ciclista que expressava no seu olhar a vontade de transmitir alegria, a força de vontade do jovem e novato vendedor de tênis que passou um bom tempo explicando sobre as tecnologias de cada um mesmo sabendo que naquele dia eu não iria comprar nada e a transmissão de relevantes informações do vendedor de livros sobre temas variados que desprendeu tempo e boa vontade para me orientar na decisão de escolha foram verdadeiros recortes fotografados pelo click da sensibilidade e que de tão tocante fiz questão de registrar. Não sei se ainda os verei de alguma forma e nos lugares onde cruzamos, mas a experiência que me tocou é algo que é necessário compartilhar e trazer para os meus dias de forma que eu possa aprender mais e mais. São eventos do cotidianos que não precisam de diplomas nem de tecnologia mas de olhos atentos, olhos da alma.