quarta-feira, 4 de outubro de 2023

Sobrecargas que não me pertencem mais

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Das dores que ficaram pelo caminho 
Da saudade do que não se viveu
Existe um corte temporal que delimita meu papel 
Diante do que era meu herói, amigo e protetor. 
A distância machuca, mas cicatriza 
E a dor vira companhia costumeira 
Até o dia que o analgésico das lágrimas de saudades se torna dispensável.
É bom não precisar recorrer à caixinha dos paliativos. 
Evolução, independência, amadurecimento...
Passado encaixotado num álbum de fotos imaginário
Que só reprisa em minha mente o que poderia ter sido
O que se poderia ter vivido, sentido...
Carrego culpa?
Não mais!
Já busquei meus erros diante de uma relação que não tive relevância.
Já chorei dores de saudade, da falta de uma presença importante.
Mas, olhando essa trajetória
Fica as lacunas na travessia dessa história
Onde a figura jaz perpetuada na memória
De uma infância até muito tranquila 
E dali, só ficaram resquícios
Interstícios de estações
Lacunas de inverno a verões
Versos desconexos sem melodia
Sem outonos, sem a inocente fantasia
O tempo não apenas passou, mas me abraçou
E fui me descarregando das tralhas durante a viagem
Não conseguiria sobreviver com tantos fardos
De uma presença que nunca se fez presente.
O que ficou disso tudo, entre esperas e primaveras
É a visão de que não se paga uma ausência
Recriando versões de uma vida não vivida
Com aqueles em que você se permitiu.
Não fez questão de uma história subtraída
Sem o seu papel.
Importou-se porém em aplacar sua consciência
Recriando versões de uma vida, conosco, não vivida.
E por tal, sem sua benção matinal
Sem sua companhia fundamental
Velejo no mar dos meus dias e da vida 
Entre brisas, tempestades
Horizontes e calmarias
Com sua figura numa longínqua paisagem
Num sonho, num plano em que você não faz parte.
Você divide seu ego num espaço que não me pertence.
Justifica seus erros comigo e conosco
Em gestos paternais com sua então família.
Já não dói
Já não sinto
Já não espero
O milagre da sua presença.
Só não me cobre jamais pela minha despretensiosa ausência.
Essa herança, foi você que testamentou.
Não carrego mais, jamais, a sobrecarga de suas escolhas
Lamento, mas o tempo, ah! o tempo...
Foi meu bandido, mas também meu herói.
Ciclos se encerram, se fecham
Se findam...
O tempo passa
O tempo leva
O tempo lava...

Ailton Domingues de Oliveira
Adm ∞ 
Teo ΑΩ 
Psic Ψ (acadêmico)
Escritor & Poeta
*Pós Graduando em Psicanálise, Coaching e Docência do Ensino Superior
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