terça-feira, 6 de dezembro de 2022

De almas e de rios, encontros



E quando me recobro da realidade
Sentindo-me deslocado da sociedade
Que padroniza religiosamente seus seguidores
Que crucifixa descaradamente seus opositores 
Escondendo suas fraquezas em recalques e tabus
Mantendo firmes suas regras, suas guerras 
Exalando preconceitos em nome de pseudorreligiões 
Condenando a pecados de dor, sem amor
Tudo o que não se enquadra em seus hipócritas padrões

E quando me reencontro dessa dura realidade
Sem padrão que me enquadre
Sem religião que me prenda
Sem senso que me cale
Sem preconceito que me oprima
Sem sombra que me pese
Sem dogmas que me ceguem
Sinto apenas o saldo das labutas
Sangue, suor e lágrimas de tantas lutas

E me vejo um forasteiro privilegiado
De tantas amarras libertado
E o que sobrou é tudo o que carrego
Aquilo que sou na minha mais íntima essência
Recortes de alegria, de sorrisos, de amigos
Amor, amores, cheiros e sabores
Porque o sentido desse mundo é sermos
Especialmente, uns pelos outros
O que seria dessa travessia sem a devida empatia?

Do mais, não quero ter aquilo que possa me definir
Nem status nem poder, nem matéria nem miséria
Principalmente aquela que mata de fome a alma
Quero continuar sendo o que sempre fui
"Nem melhor nem pior, apenas diferente"
Ser voz onde falta vez
Dar vez onde falta olhar
Ser olhos onde as palavras cegam
Verbalizar onde tentam calar a voz

Sou partida e sou chegada, mas antes de mais nada
Sou travessia e estripulia, intensidade e movimento
Sou deserto, sou paisagem, sou montanha, sou passagem
Sou verbo, de ação e ligação
Sou razão mas, emoção e coração
Encontro constante, de rios e de almas 
E de tudo o que já fui, só quero continuar sendo
Eterna construção do melhor que eu possa ser
Sou poeta e menino protagonizando meu próprio tempo