terça-feira, 12 de dezembro de 2023

E quem disse que deu certo?



E quem disse que deu certo? 
Temos a grande mania de julgar, se uma relação se inicia da noite para o dia e parte para um envolvimento mais sério, nós julgamos. Se uma relação demora muito tempo para se efetivar, e partir para algo mais sério, como noivado e casamento, nós também julgamos. Qual é o tempo certo? Qual é a nossa média padrão, e baseada em que? Se for aquela média baseada nos nossos familiares mais antigos, pais, tios e avós, que tiveram relações duradouras e, talvez, a única relação em suas vidas, 30, 40, 50 ou mais anos de convivência, de matrimônio, isso significa que deu certo? Sim. Mas, pode não ter dado certo também.  

Quem disse que ser duradoura significa que deu certo? 
Sabemos o quanto as relações foram sufocadas pelas regras sociais e familiares impostas, em épocas em que o conservadorismo falava muito mais que o próprio sentimento; épocas em que era muito mais valorizada a moral, os bons costumes sociais e familiar, na qual as relações eram obrigadas a se manterem em pé, disfarçadas, porém não vivas, mesmo que fosse ao custo do sacrifício e da infelicidade, principalmente, da mulher. 

E quem disse que deu certo? 
Isso não é um convite tampouco uma instigação às relações curtas e sem compromisso, ao contrário, é uma convocação à reflexão de que tudo o que não gera felicidade, não gera paz, e acaba se tornando uma prisão, está longe de ser uma relação. Portanto, partindo da reflexão, partindo da escolha pela liberdade de viver sentimentos libertadores e com reciprocidade, envolve muitas vezes, mudanças radicais, cortes com regras sociais para então ressignificar sua vida, sua existência, e se permitir viver o seu propósito, criando o seu próprio padrão de existir. 

Apesar da febre ultraconservadora, as lutas em diversas áreas e seguimentos, tem proporcionado mais voz a quem antes não tinha sequer o direito de voto. Isso não é apenas romper padrões. Isso é romper com o silêncio sentenciador imposto pela sociedade patriarcal, com base forte na religião e na política. Hoje já conseguimos saber de relacionamentos com 30 ou mais anos que romperam. Gerações mais novas estão mais fortes para essa tomada de decisão, quando necessário. 

E quando essa atitude é considerado necessária? 
Quando o respeito é deixado de lado, principalmente. Quando o desrespeito impera, o sentimento já era. Se não houver algo que interrompa esse ciclo constante e impeça a reincidência, para o bem da relação, a tendência é uma espiral descendente para um fim único, de agravos e até possíveis tragédias. 

A cultura atual, tem ajudado as mulheres e outras minorias a conseguirem visibilidade, voz e vez. Com tanta exposição de casos fatídicos de relações com fins trágicos e, outros casos em que se conseguiu quebrar as correntes da prisão tóxica e se libertar para a ressignificação da vida, têm contribuído para que as pessoas, em especial as mulheres, não se permitam mais viver sob a custódia de um pseudo-conservadorismo que facilita a vida do homem, mantém o estigma do patriarcado que, por sinal, é retirado aleatória e ignorantemente de contextos religiosos (bíblicos) e validado por uma política machista ultrarradical que deturpa o real significado do que é relação e família, enquanto a mulher ainda é mantida no cárcere da submissão, da insignificância sob a tutela de um discurso falido, medíocre e hipócrita.

Por outro lado, deu certo sim. Deu certo enquanto houve reciprocidade, enquanto durou e até o momento em que não houve danos colaterais.


Ailton Domingues de Oliveira
Adm ∞ 
Teo ΑΩ 
Psic Ψ (acadêmico)
Escritor & Poeta
*Pós Graduando em Psicanálise, Coaching e Docência do Ensino Superior
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