quarta-feira, 28 de fevereiro de 2018

Deuses e desertos



Deserto, meu deserto sem Deus
Deserto, meu Deus, meu deserto
Deserto, meu Deus, sem deserto
Deserto, sem deserto, meu Deus
Deserto, sem Deus, sem deserto
Deserto, sem Deus, meu deserto

Deus, meu Deus sem deserto
Deus, meu deserto, meu Deus
Deus, meu deserto sem Deus
Deus, sem Deus, meu deserto
Deus, sem deserto, sem Deus
Deus, sem deserto, meu Deus

Talvez, Deus mesmo, não tenha feito nada
Nada além de sua brilhante criação
E distribuiu suas obras sobre o tabuleiro do mundo
E continua descansando desde o primeiro sétimo dia

Talvez, tantas palavras foram colocadas em seu nome
Por aqueles que encontraram no poder sua forma de sobrevivência
E desejaram controlar essa obra criacional e dominar esse mundo
E então, se sentiram como deuses de seu Deus

Talvez, Deus mesmo, esteja preso em seu próprio deserto
Feito refém de sua tão amada obra
Sem forças para remanejar suas crias
Entristecido no vale de lágrimas dos seus

Talvez, seja o deserto, o único lugar sem vida que Ele habita
Escondido, desarmado, amargurado com tanto sangue derramado
Tão calado quanto culpado em sua própria história 
Onipotente mas ciente de que o mundo quer ser deus

Talvez, tudo seja apenas um deserto de imaginações
Sonhos e lutas, utopias e emoções
Talvez, a razão seja o deserto e mais do que certo
Somos areia em sua memória, ou, meros peões