quarta-feira, 18 de julho de 2018

Cenas do cotidiano


Cena 1: Adentrei ao supermercado como sempre para comprar aqueles pãezinhos feitos na hora. Fila pequena, apenas um senhor na minha frente. Num espaço pequeno em que duas pessoas por vez podem escolher seus pães, ele iniciou um assunto que aos poucos me fez atentar. "Um dia meu pai tirou um dente meu no tapa. Ele me chamou e ao invés de responder 'sim senhor' apenas falei 'oi papai'. Eu tinha 5 anos de idade e quando cheguei perto dele levei um tapa na boca que meu dente voou longe. Tudo porque não respondi 'sim senhor'. Nunca me esqueci dessa lição..." disse o senhor. Peguei meu pacote de pães, passei pela fila do caixa e fui para casa, pensando...

Cena 2: Parei de moto aguardando o semáforo liberar para eu prosseguir rumo ao meu destino e enquanto isso observei, no canteiro central da avenida que atravessaria, um rapaz que faz malabarismos em troca de alguns trocados brincando com um filhotinho de cachorro sobre a grama. Cachorrinho bem cuidado, de coleira, pacote de ração do lado e muita atenção de seu dono. Uma verdadeira distração aos motoristas que param para aguardar sua vez de prosseguir. Abriu o sinal, minha vez de acelerar e seguir adiante, pensando...

Cena 3: Fui até um posto de combustível para calibrar os pneus da moto. Enquanto o fazia vi ao fundo um funcionário sentado ao chão do local onde realizam troca de óleo, almoçando de marmita na mão. Concentrado em sua refeição que não arredava os olhos para lugar algum. Parecia pensativo sobre a vida durante o tempo que saciava sua fome. Mais uma vez parti, pensando...

Cena 4: Homens da prefeitura recolhendo pertences de pessoas que dorme sobre papelões nos canteiros das avenidas. Homens em bando, de crachás e luvas nas mãos, óculos escuros e pouca conversa, cumpriam ordens e obrigações. Sua tarefa? Retirar tudo aquilo que polui o ambiente visual da cidade. Eu? Sigo juntando as peças de cada cena, pensando... 

Pensando sobre tempos severos de pessoas que sobreviveram à rigidez e brutalidade da educação de antigamente. Pensando sobre o amor daqueles que nada tem podem dar a outros seres muitas vezes abandonados por seus antigos donos. Pensando no sacrifício daquele que se sujeita a muita coisa para dar o melhor aos seus. Pensando que somos escravos e senhores, vítimas e culpados, cegos, inocentes e coniventes com todo tipo de sistema opressor que paira sobre nossas vidas... Apenas, pensando...