sexta-feira, 10 de março de 2023

A visita


A instituição em si, no quesito estrutura física, lembra muito os relatos de um sistema institucionalizado. Foucalt descreve isso em Vigiar e Punir. Muros e grades ao redor, portões trancados, segurança para proteger os internos e as chaves sob custódia de um responsável para abrir os portões externos. Escolas, manicômios, internatos, presídios seguem a mesma linha de infraestrutura e organização, porém cada instituição com seus objetivos e finalidades.

Quando adentrei na primeira sala juntamente com meus colegas, já me deparei com algumas pessoas em cadeiras de rodas. A sensação é de comoção, de dó, pena mesmo... Imagino sempre como é perder algo tão vital quanto a liberdade, estar impossibilitado de fazer as coisas que gosta e que tem vontade e, em contrapartida estar dependente de terceiros. É a dor alheia me absorvendo, doendo em mim, e me fazendo refletir além do que vejo. Penso quantas histórias essa pessoa já viveu, o que a levou até este lugar, e o que ainda espera diante do que lhe resta. Esperança, talvez?! Ou apenas, aguarda por sua hora última, em silêncio, solidão, dores, saudades e, talvez, um tanto de consciência sobre esse tempo?

Algumas pessoas tem capacidade de locomoção, mas a maioria requer ajuda. Já na segunda sala, com cadeiras, sofás e cadeiras de roda, estava a maioria das pessoas. Em cada passo meu sinto um descompasso interior. É a minha minha fragilidade se acentuando e minha mente questionando o que posso fazer, o que posso deixar ali... quero muito e não posso nada, essa é a sensação. Um mix de impotência e inquietude que aguçam o querer ir além... Não sei o que eu pude deixar lá além de uns minutos dedicados com olhos, ouvidos, conversas e risos, mas sei muito bem o que eu trouxe aqui dentro. Sei e sinto, que num lugar assim, se não houver incômodo no que se vê, e gana por lutar por quem precisa, então, de nada valeu...

No portão de entrada havia uma senhora de semblante triste e que não media palavras para demonstrar sua contrariedade por estar ali. O que parecia, quando a escutei conversando com uma colega, era que sentia-se só, abandonada. Qualquer pessoa que chegasse até ela e puxasse algum assunto, a reclamação era a mesma. 

Impossível não se comover, impossível não se abalar, impossível calar-me... A experiência não foi nem nunca será um mero cumprimento de dever acadêmico, tampouco uma caridade regada à hipocrisia para satisfazer o ego da vaidade religiosa. Ouvir histórias e entrar na brincadeira, doar-se com o que temos de melhor para o momento, olhos e ouvidos... isso é essencial. Eles sabem, sentem, compreendem quando a atenção é fria ou encenada. 

Cada um com sua particularidade, vi ali uma colcha de retalhos de histórias recontadas. Não pude ouvir todas, mas a partilha com meus amigos e amigas deu-me uma dimensão maior desse dia, com essas pessoas. Há muito o que se fazer por este mundo, e em cada canto, que eu consiga levar além do que aprendi nas experiências acadêmicas, que eu possa ter a sabedoria necessária diante das adversidades, o profissionalismo humano e a empatia, amor e respeito para com cada um que cruzar por essa travessia através da Psicologia. 

Ailton Domingues de Oliveira
Adm ∞ 
Teo ΑΩ 
Psic Ψ (acadêmico)
Escritor & Poeta