terça-feira, 21 de dezembro de 2021

Convenção nos autos da praça IV: memórias da praça

(*)Foto: Clube Notícia


A praça é a Praça, é o mundo, é o fundo, 

é o circo, é o recanto do justo, 

do sábio e do vagabundo

paraíso e deserto do sem teto

Filosofia da vida, dos dias, das horas 

o tempo não passa, e a vida indo embora

Dias de luta sem glória

a droga é a festa, todo dia, toda hora

Retiro do mundo, 

vazio existente na alma sem fundo

Que aos olhos do povo, a sociedade perfeita 

não tem bem, só o mal, quem ali está é só marginal

Esquece que ali, aquele que habita tem a sua história 

sua guerra sua vida, seus traumas, suas lutas sofridas 

uma família talvez

A praça é o elo perdido, último dos paraísos 

de quem se perdeu nesse plano de vida 

nesse mundo tão sujo

de batalha egoísta

No meio da praça tem a regra, a moral, 

a ética de todo marginal

cada um no seu canto, enxugando seus prantos 

ninguém rouba ninguém, todos se protegem

Tem cachorro e gato que habitam juntinhos 

ambos respeitam até o passarinho 

todos sem comida, sem casa, sem abrigo

Banho de chuva no frio, noites mal dormidas

Corpos bem colados pra se manter aquecidos

Presos por dentro, julgados por fora 

a vida é um tempo que passa e demora

esperança sem vez

Um dia quem sabe, 

um pouco de asa 

vai me levar de volta pra casa