quarta-feira, 22 de fevereiro de 2023

A bem da verdade, pratique o amor - parte II



Há de se lembrar do texto anterior, em que questionamentos e autocríticas nos fizeram refletir sobre as verdades instauradas pelos "fiscais da fé" através de suas bandeiras religiosas. Em contrapartida, entendemos que o amor é a ponte, o caminho, a travessia que nos conduz a um bem maior, o de praticar a caridade sem ressalvas. 

"Fiscais da fé" é um termo que foi utilizado pelo Papa Francisco, quando mencionou que quem procura a igreja precisa encontrar as portas abertas e não fiscais da fé. Jesus chamou os mesmos, os tais mestres e doutores da lei, de hipócritas. Não o sejamos e não hajamos como tais! 

Ainda sobre o texto anterior, foi deixado propositalmente uma pergunta com uma afirmação um tanto quanto duvidosa. Como disse, foi proposital. Eis o trecho: "Se pensarmos de forma global, enquanto cristãos, será que quem não é cristão não se salvará? Será que quem não é cristão não partilhará da vida eterna conosco? A vida eterna que tanto ouvimos falar nas missas, cultos e diversas celebrações só vale para quem é cristão? E o que dizer dos ateus? E os budistas? E os judeus? Opa! Mas a religião de Jesus era o judaísmo. E agora?!"

Ressalva para uma questão em particular: "Será que quem não é cristão não partilhará da vida eterna conosco?" Então, o que percebemos aqui? Espero que todos tenham percebido o erro provocado. Sim, é um erro agir com a pretensão de nos favorecer enquanto cristãos, tanto quanto é errado o sentenciamento alheio para com quem não o é.  É pretencioso a forma de imaginar que "nós", ditos cristãos, já estamos designados à vida eterna só porque o somos e, em contrapartida, supor, julgar e até mesmo sentenciar indiretamente a não participar conosco desse prêmio porque não está nesse mundo sob os holofotes do cristianismo.

E onde está a caridade nisso tudo, meus amigos? A caridade não é simplesmente o ato de ajudar a quem precisa de algo material e ou espiritual. A caridade está em servir. Servir com amor. Servir e não cobrar. Servir a quem precisa mas sem a necessidade de vincular essa atitude a uma resposta imediata por parte de quem é servido. Servir sem forçar nem obrigar que a pessoa segure nossas mãos e nos acompanhe até a igreja mais próxima. Isso é barganha. Se queremos mostrar que o caminho que trilhamos é bom, basta levar apenas o alimento pro corpo e pra alma de peito aberto, sem placas, sem propagandas.

Ninguém neste mundo é detentor da verdade. Existe uma música que diz "Tudo o que move é sagrado" (Amor de índio - Beto Guedes e Djavan). E isso é verdade! Onde existe vida existe o sagrado. Não é uma música sacra, mas diz uma verdade que muitos que se dizem religiosos não respeitam. Encerro aqui com a reflexão de outra música que foi cantada na Campanha da Fraternidade de 2002. Nos atentemos para alguns símbolos dessa letra: a mesa, terra-mãe, altar, rio, mata, natureza. A cidade é abençoada com todos esses símbolos, porém, será que podemos imaginar apenas "uma só mesa" para comungarmos com todos e todas ao seu redor? Onde está a nossa caridade? 

Ailton Domingues de Oliveira
Adm ∞ 
Teo ΑΩ 
Psic Ψ (acadêmico)
Escritor & Poeta

Ouçam: https://www.youtube.com/watch?v=oLgWCOyiAbQ

"Uma só será a mesa" - Oferendas 2002 (CNBB)

1. Quando os pés o chão tocarem
Para a dança começar
Quando as mãos se entrelaçarem
Vida nova há de brotar

2. Toma, ó Pai, o amor perfeito
Pelo rio, a mata, a flor
Que o índio traz no peito
É louvor ao Criador!

Uma só será a mesa
Terra-mãe será o altar
O sustento, a natureza
Em milagres, vai nos dar!

3. Eis aqui, Senhor, as dores
Deste Cristo-Povo-Irmão
Sejam hinos seus clamores
Na defesa de seu chão

4. Nova Terra nós sonhamos
Onde todos têm lugar
Os direitos nós buscamos
Vida, pão, respeito, lar

5. Povos todos, terra inteira
Te pertencem, ó Senhor!
Que os males e as fronteiras
Deem lugar ao Pleno Amor