terça-feira, 12 de abril de 2011

Pode ser



"Um dia, abri os olhos. Era mundo. Aqueles seres, ora estranhos, tornaram-se referências. Ele, o herói, o trabalhador, sinônimo de responsabilidade, exemplo a ser seguido. Ela, a guerreira, sincera, responsável por toda ordem e o bom andamento, o pilar que sustenta a casa. 

Um dia, ele se foi. Ela permaneceu e mesmo diante das rachaduras que os seus pilares apresentavam manteve-se firme. Suas explosões de tristeza sempre aconteceram no silêncio de seu coração. Jamais algo transpareceu que a deixasse vulnerável perante a nós.

Cresci, crescemos. Mudanças e amadurecimento. Deslizes, tombos, machucados, cicatrizes e mãos que nos levantavam. Falta de respostas e de palavras. Apenas o silêncio e a presença de quem torcia pelo bem e pela superação da dor. Tinha em mim apenas o sentimento de fazer e dar o melhor quando eu fosse e estivesse na posição que vocês ocuparam.

Chegou a minha vez. Um dia, eu vi os olhinhos se abrindo. Éramos o mundo pra ele. Eu fazia parte do seu mundo estranho. Procurei ser o seu herói e sua referência. Exaltei nossa amizade, companheirismo. Senti muito a sua falta durante minha ausência. Resolvi mudar o rumo da vida. Voltei para perto de você. Troquei a minha vida...

Pode ser que isso não seja nada para você quando crescer, amadurecer e entender. Pode ser que no seu pensamento não fiz nada além da minha obrigação. Pode ser que a casa da árvore, você a reconstruirá aos seus filhos com mais engenharia. Pode ser que as aventuras que vivemos no quintal não passem de teatrinhos do mundo da imaginação. Mesmo assim eu apenas te direi que foi por amor...

Pode ser que minhas maiores tentativas de acertar e fazer o melhor não tenham passado de atitudes ultrapassadas e sem valor. Pode ser que eu quis te dar toda a minha atenção e no final você não percebeu minha intenção e a presença tenha se tornado vã. Mesmo assim eu apenas te lembrarei que não me arrependi de nada e a cada chance que houvesse de fazer e ser melhor, faria com garra. Pode ser que minhas broncas tenham te levado a pensar que sou insensível e que por ora tenha nos causado distância. 

Pode ser que minhas cobranças por você fazer sempre o melhor tenham se tornado massantes e periódicas. Mesmo assim eu te direi que gostaria de vê-lo fazendo o melhor, o bem; que alcançasse um amadurecimento com responsabilidade para que mais tarde não sofresse e não desonrasse aos seus.

Pode ser que nada disso tenha servido ou valido a pena mas eu estarei sempre ao seu lado, sempre lembrando o valor da nossa relação, da nossa amizade, e o quão grande e precioso é o nosso sentimento. Que, independente dos tropeços que dermos nas estradas da vida, nada mudará o que Deus escreveu nas linhas de nossa história: somos Pai e Filho.

Com você também tornei-me aprendiz. Muitas vezes peguei-me a pensar na sua inocência de ser filho e no significado que esta palavra trás. Então, voltei-me para os meus pais de forma amena e repleto de disposição para mudar e ser melhor e resgatar os elos que outrora foram abandonados.

Pode ser que o tempo me impeça de correr com você mas eu estarei te esperando quando você correr na minha direção. Somos mais que pai e filho, somos a sintonia do amor, as Graças e Bênçãos de Deus em nossas vidas, a vontade de acertar e fazer o nosso melhor.

Ah, eu quero também te lembrar, assim como você me pediu, será um prazer brincar de vovô com seus filhos. Espero que eles gostem de casa na árvore. Por hora, apenas tenha certeza de que te amo.

Meus pais, obrigado. Saudades."

Ao meu filho, presente de Deus.

"Todo azul do mar"

Ailton Domingues de Oliveira
12/04/11