domingo, 24 de fevereiro de 2013

Um capitalista disfarçado de cristão



E assim caminha a humanidade...

Empresário que se diz cristão, que se intitula evangélico, tipo dessas, da linhagem das recém criadas e com menos de dois anos de existência, fala com inteligência da Palavra de Deus e, como de praxe, explana com muita ênfase citando capítulos, versículos, parágrafos, negritos, pontos, editora e mais um pouco. Típico! Nada incomum!

Na experiência que tive com um dessa estirpe e fineza, durante um evento profissional, o nome de Deus era citado várias vezes em qualquer assunto e o nome do demônio em maior proporção. Assim como seus primos equidistantes e xerocados, os carismáticos, a maior ênfase é falar do submundo em volta do nome do demônio e o encontrá-lo em tudo quanto é canto e coisa do que propriamente exaltar o caminho das bem-aventuranças detalhado por Cristo Jesus.

Ainda nessa nebulosa experiência, tive a possibilidade de me encantar com o humano dito cristão. Sem barreiras institucionais o papo fluía de maneira ímpar. Mas, bastou retornar à realidade para que a água da verdade danificasse a máscara do doutor em falas bíblicas. A diferença entre o que se fala e o que se vive é gritante e isso fica nítido sem qualquer esforço para entender.

E, nessa realidade, já como empresário, cercado pelo capitalismo existente nos redutos que se esconde no dia a dia profissional, impregnado pelo desejo insaciável da vitória pessoal e vivendo escancaradamente a dita teologia da prosperidade, coisa de "primos siameses", a fera se revela à que veio. Homens e mulheres são contratados para que as vendas alavanquem. Mas, comercial tem coisas imprevisíveis, oscilações sazonais por exemplo. Por outro lado, chefia-dono-empresário não quer saber disso. Caiu a produção, baixou as vendas, já não serve mais. 

É vantajoso manter alguns funcionários mais chegados no quadro e ter outros que passam, abrem portas, prospectam clientes, fidelizam-nos e no final das contas, após um determinado tempo de casa, sejam convidados a não mais participar da equipe. Fácil assim, não acha? Pois é, os clientes ficam, as vendas continuam mas agora coordenados por uma(s) pessoa(s) dessa equipe dos chegados e o lucro para a empresa é ainda maior, ou seja, para o empresário que se diz cristão. 

Não existe a necessidade de vínculo empregatício. A promessa é linda! O jogo das palavras que empolgam e emocionam é literalmente profissional! O empresário... ah, esse é bem sucedido e dá lá sua esmola de caridade nos cultos semanais, fazendo sempre o marketing positivo para os que co-habitam em seu território ou próximos de sua zona de conforto. 

Escória do mundo! E como dizia o poeta: "a burguesia fede!" No meu conceito o empresário disfarçado de cristão, que usa o nome de Deus para sua prosperidade pessoal, que age com tamanha astúcia para aumentar seu patrimônio, que evoca o nome de Cristo para cada ato seu como se não fosse necessário mais nenhum outro tipo de questionamento ético, moral, profissional e principalmente cristão, ou seja, sua conduta é ilibada e acima de qualquer suspeita, isso sim, esse sim, não só fede mais, como também já se decompôs sua alma em vida.



E assim, entre empresários que se enricam em nome de Deus, entre inocentes que contribuem para a prosperidade desses decoradores de versículos, assim caminha a humanidade... entre classes, entre lobos, entre fábulas e em meio a muita hipocrisia.