sexta-feira, 24 de abril de 2015

Cartas do calabouço - Parte VI



Meu inquisidor de nós dois
Quanto mais me entrego ao silêncio
Mais o barulho teima explodir em mim
E o estrago é grande

Não fiz escolha alguma
Ou, se fiz, não sei mais qual foi
Só sei que aqui estou
Resultado do que trilhei
Quando consigo, encontro a janela
E arrisco olhar por ela
Vejo verde, vejo azul
Ouço a água batendo na pedra
Ouço pássaro cantando
Então vislumbro a montanha distante
É lá que eu quero estar
Vejo então a esperança aproximar
É o passo ao horizonte
Um frescor de novos ares
Voltando a sonhar
Que eu não morra em utopia

Nunca pedi para ficar
Se queres partir
Que vá
Mas te peço
Não me esqueças
Ou mesmo que quisesse
Nossa história não permitiria
Corpo e alma
Razão e emoção
Foram feitos em conformidade
Tem horas que penso
Que o preso és tu
Desta vez, por fora

Tempo?!
O tempo é aniquilador
Fé?!
A fé é resposta pra desesperança
Ouses tu trocar de lugar
Viva o oposto de teus dias
Coloque-se onde estou
Hoje, simplesmente
Quero ousar não dizer nada

Em tempo ainda
Exijo respostas do tempo já vivido
E espero num tempo sofrido
Entender o futuro perseguido
Vivo numa fuga intensa da dor
Do tempo que ainda resta para entender
E livrar-me de meu algoz
É livrar-me deste calabouço
Aqui jazem e vigiam-me
Os meus piores inquisidores