sexta-feira, 3 de janeiro de 2025

Rios e ventos


E agora, o agora...
Quanto tempo tenho
Quão frágil esse corpo é
Quão intensa pode ser essa vida
Insana, profana, escassa, devassa,
Minguada, sofrida, ou tão bela e vivida
Imagino um momento de inexistência nesse mundo 
Um caminhar para a insignificância dos atos
Que se pairam frente a uma imensidão de céus e mares
Para esse agora, quem sabe uma dose de sumiço
Alquimia sobre o tempo, um poema ou um feitiço
Tenho um tempo que não é meu
Não sou dono, não sou seu
Ao tempo que me resta, que me presta
Que me rouba, que me empresta
E que me faz sentir um forasteiro
Prisioneiro 
Numa terra sem lei, que não é a minha
Num lugar incerto e não sabido
Fora de casa, no céu e sem asa
Pertencente a lugar algum
Verdadeiro estranho entre alheias aparências
Sem cores, sem flores, sem alma, nem essência
O que de fato vale a pena
Deve caber no calor de um abraço
Na saudade que invade
A cela que rouba a cena
De tudo, meus feitos 
Se perduram num tempo e espaço
De sonho e manso regaço
Que acompanha o leito
Rios e ventos destinados a se tocar
Sem se misturar
Levando brisas, tempestades
Até o encontro com a eternidade