segunda-feira, 8 de abril de 2024

Crítica: Dexter - "o retorno"



Recentemente essa série retornou à plataforma Netflix. Havia sido retirada, foi parar em outra mas acabou retornando. Dexter é um mix de psicopata, com requintes de crueldade, e justiceiro bonzinho, pois canaliza toda a sua força e aptidão para um único propósito, o de sentenciar e executar todos os assassinos que conseguiram se safar da luz da Lei. Ele faz parte da polícia científica em Miami, um especialista em sangue e através disso, consegue atuar no submundo sem ser descoberto.

No início da série conseguimos ter repulsa em cada ato do psicopata justiceiro, mesmo que suas vítimas mereçam aquele fim. Mas, é incrível, pois, no decorrer dos episódios de cada temporada, acabamos normalizando tais atos e então, o justiceiro psicopata, se torna um mal necessário para limpar a sociedade da escória que sai impune pela porta da frente da justiça. 

Dexter narra seus conflitos desde sua infância, período em que foi recebido em um lar adotivo, com pai, mãe e irmã. Cresceu e foi educado mas não conseguia fugir daquilo que era. Seus traços antissociais foram detectados por seu pai adotivo que, para protegê-lo de si, da sociedade e vice versa, foi criando um código de sobrevivência para o menino. Assim, quando o pai não estivesse mais presente nesse mundo, Dexter teria um manual para saber em que momento deveria usar seus instintos para satisfazer os desejos do "passageiro sombrio". 

Passageiro sombrio, é o nome utilizado por Dexter para falar sobre suas vontades, desejos, instintos, aquilo que de fato aguça sua necessidade de matar. E suas mortes exigem um ritual, um cenário, e uma metodologia que foi sendo aperfeiçoada em cada caso, em cada ato, em cada vítima criminosa.

Dexter é um personagem, bandido e herói, que, a partir de sua narrativa em primeira pessoa, possibilita ao telespectador ver e analisar a mente de um psicopata, supostamente com seus instintos controlados, ou melhor, canalizados numa direção que julga ser coerentemente necessária. Suas falas são filosoficamente poéticas, repletas de solidão, vazio, sem sentido existencial. Ele, vive um disfarce, pois ninguém o conhece de fato como é. O único que sabia de sua personalidade já morreu, seu pai. Mesmo assim, as lembranças de seu pai adotivo estão sempre presentes, confrontando seus passos. Nessas lembranças, ele escuta a voz, um diário vivo que ressoa em seus pensamentos.

Familiarizados com a evolução dos episódios, a torcida da plateia é sempre para que o Justiceiro faça o que faz de melhor: limpar a sociedade de todo o lixo que se livra da lei e da justiça. Sim, validamos, pois como acontece na vida real, as cenas e o cenário, que, antes eram incomuns, se tornam comuns em nosso cotidiano. Fico pensando, caso fosse real, e fosse brasileiro, com certeza muitos famosos bandidos que venceram, ou melhor, corromperam o sistema e saíram ilesos, devido à sua fortuna e status, já estariam literalmente cancelados.