sexta-feira, 20 de novembro de 2015

"Eu me recebo muito mais do que me faço"


Um reencontro com o que há de mais profundo, íntimo, sacramentado e desconhecido, eis a tarefa mística do ser humano ao dar-se conta da necessidade quase lógica de que somente em si terá, não só respostas para as questões mais incertas e descabidas, mas como também a luz na medida necessária para o caminho proposto a seguir. 

As experiências nos possibilitam uma avaliação cada vez mais apurada da trajetória e um olhar mais criterioso e destemido do horizonte. Desnudar-se das roupagens e embrenhar-se na natureza interior, sem temer riscos, intempéries e verdades não ditas é sinal de amadurecimento. Compreender que o sagrado e o profano, inerentes ao ser individual, é muito mais humano que sobrenatural e apocalíptico também faz parte das dádivas adquiridas pelos longos tempos idos.

Destorpecer. Desintoxicar. Destemer. Desamarrar. São inúmeras as palavras que me evocam a libertação e me refrescam com a sensação de liberdade. O que diferencia entre uns e outros é a coragem de ousar conhecer além do que os olhos veem. Há quem desteme os riscos do novo e há os que optam por não cortar cordões umbilicais.

Ninguém encontra a si se não se romper. Rompimento gera desconforto, dor, questionamento, dúvida, falta de sentido, mas é tudo passageiro quando a busca não se finda nesses sintomas. O que vem depois dos movimentos de agitadas águas de mares desconhecidos são novas paisagens, maresias, e infinitas possibilidades de novos frutos, saberes, autoconhecimento.

Na rota das passividades, seja de crescimento ou de diminuição, conforme ressignifica Teilhard Chardin, não há como escolher e santificar uma em detrimento de outra. Ambas participam do imenso universo desconhecido de cada ser. Uma mera semelhança entre causa e efeito ou também um equilíbrio natural entre as forças que atuam em nós, conforme a filosofia chinesa bem explica no Yin Yang: energias opostas, positivo e negativo. Resta a cada um buscar-se. Do mais, "Deus seja louvado"!

Escrito apresentado na disciplina de Teologia Sistemática V: Pneumatologia e Escatologia, 5º período de Teologia - FCU - Ailton Domingues de Oliveira - 19/11/15.