segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Re-descrevendo a redação.

(...) Agora crianças, quero que escrevam, façam uma redação de como é a vida de vocês em casa. Em que o papai e a mamãe trabalham? Quantas pessoas moram na mesma casa? O que vocês fazem a noite quando se reúnem? E, nos finais de semana como é estar reunido com todos? O que você mais gosta de fazer? Com o que gosta de brincar? O que gosta de assistir na TV? Qual o tipo de comida que mais gosta? O que quer ser quando crescer? Enfim, descrevam. Deixem a imaginação acontecer sem medo de ser feliz! (...)

A professora, da segunda-série, época em que tinha 8 anos de idade voltou para sua mesa e assentou-se na cadeira. Todos os alunos da sala estavam empenhados na tarefa que mais parecia um conto de fadas real, sobre si.


Minha vida em casa


               "Eu não tenho irmão nem irmã. Tenho alguns amigos na rua de casa. Tem o Waguinho, o André, o Ademir e mais outros que não são tão amigos. A gente brinca de esconde-esconde (o último salva todos), polícia e ladrão, piratas, de carrinhos e de fortaleza com os hominhos e soldados. Meu pai trabalha com vendas de consórcio e tem um bar. Minha mãe é dona de casa. Nos finais de semana eu fico na casa dos meus avós.     
              Quando to na casa da Vó Landa e do vô Joaquim eu brinco com meus amigos. Quando to na casa da Vó Cida e do vô Dito eu brinco com meu primo Kleber. De vez em quando eu e o Kleber dormimos na vó Cida, só que a gente tem que deitar cedo porque o vô dito não gosta de barulho depois das 9 horas. A gente fica rindo a toa até tomar uma bronca... 
              Eu gosto de macarronada, frango frito e batata frita. Só um pouquinho de alface. Aprendi a comer peixe frito com limãozinho, com meu avô Joaquim. Na casa da Vó Landa todo mundo almoça la no fim de semana. Na casa da Vó Cida também. 
            Eu gosto de assistir os Super-amigos e Caverna do Dragão. Eu gosto mais de dormir na casa dos meus avós. A Vó Cida sempre me leva pra Ourinhos na casa de uma tia. Com a vó Landa e o vô Joaquim eu já fui pra Aparecida do Norte e ganhei um violão deles. Eles querem que eu aprenda pra tocar na igreja. Tem um menino na igreja que fica imitando que ta tocando violão... O moleque feio e metido! Não acho ele legal! Mas minha vó acha... Se eu aprender a tocar violão não quero ser igual aquele moleque... 
           Eu tenho um ferrorama. Brinco com ele de vez em quando. Dá trabalho pra montar. Meus pais iam muito na igreja. Hoje eles vão de vez em quando. Meu pai não tem muito tempo, porque ele trabalha muito... Eu gosto de ir na igreja. Tem um padre que faz pergunta e quando a gente acerta ele dá um santinho. Mas tem horas que eu tenho sono.  Agora vai ter o culto só pras crianças. Tem muito jovem na igreja. Quando eu tiver idade quero participar dos grupos de jovens. Eles são muito felizes.  
               Quando eu crescer quero ser bombeiro pra salvar vida das pessoas. Eu só queria que meu pai tivesse mais tempo em casa..."




"Dias atrás fiquei imaginando como seria re-descrever aquela redação, justamente aquela do tempo em que tinha apenas 8 anos, a idade do meu filho Felipe... É um viajar no tempo e no espaço como se as coisas não tivessem mudado, como se ninguém tivesse partido ou chegado. É estranho, triste, mas ao mesmo tempo é bom. Faz-nos amadurecer sem perder a essência. Um ano mais tarde começaria a tocar violão, meus primeiro acordes. Dois anos mais tarde chegaria minha irmã Cinthia. Uma diferença de 10 anos entre nós. Fui compreender o sentido e o valor de nossa amizade quando ela por si só aprendeu a caminhar. Se voltássemos no tempo, quanta coisa poderíamos refazer? E, com uma diferença: a experiência de quem já pisou em falso e agora busca um caminho seguro. Recordar é viver..."