segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Guerra dos mundos - parte II - : O Palácio


A notícia se espalhou. Os espiões se manifestaram e conseguiram adeptos entre as pessoas do reino e estas se rebelaram. As rinchas internas aumentaram. Boicote ao rei era a proposta dos inimigos. Eles estavam em toda parte. O palácio, antes totalmente preservado, agora tinha ares frios, sombrios. Medo e suspense no ar.
Na altura das circunstâncias, em quem confiar? Era uma guerra fria, estratégica, calada, pensada. O ataque ao inimigo deveria ser perfeito.
Cansado de se aventurar o rei segurou o seu cetro deixado por seus ancestrais. Com a mão esquerda colocou sua coroa sobre a cabeça, sentou-se novamente no trono e pôs-se a pensar sobre o poder incomensurável que havia em tais objetos.
Desligado dos valores materiais, o rei não se importava com a preciosidade das jóias, mas sim pela representatividade em sua vida, deixada por quem lhe amou e lhe educou.
Num gesto brusco tirou novamente a coroa e pôs junto ao cetro em sua frente. Viu ali, em pensamento, as diversas gerações que os usaram e empunharam, Levantou-se rapidamente do trono e recolocou a coroa, sentiu seus olhos marejados de lágrimas, sua consciência inovada. Correu em direção à sala onde se encontrava o sábio, que, no momento lia o livro das regras do reino.
O sábio, sentindo a ansiedade do rei, apenas mostrou o livro. Ele leu e nada disse. Calados, apenas se entreolharam. Chamou para perto de si os conselheiros e todos os que exerciam funções no reino e principalmente os representantes do povo. Reuniu-os numa grande sala.
Sem entender o motivo daquela reunião, a primeira do rei, e talvez a primeira naquele reinado. Nunca, antes, acontecera algo do tipo. O silêncio pairava no ar.
Ansiosos, aflitos, repletos de dúvidas, os olhares se cruzavam naquela sala, até que o rei se levantou e disse:
- Esta coroa sobre minha cabeça, foi-me confiada, bem como este cetro e, de geração em geração, todos os que a puseram e o empunharam governaram este reino com muita garra. Notei que nenhum de meus antecessores se prontificou em saber as reais necessidades do reino, do povo. Nossa muralha, também, nunca fora ultrapassada, muito menos sucumbida. Estamos agora numa encruzilhada, uma crise generalizada ou uma solução vitoriosa, mas essa escolha não depende somente de mim, depende de nós. A crise que nos ameaça vem de fora e simultaneamente nos abala aqui dentro. Fui omisso, irresponsável, imaturo e com isso permiti que nosso reino fosse abalado.
O rei andava por entre as pessoas, falando e encarando-as nos olhos.
- Ausentei-me, lá fora, vislumbrando pelas coisas que vi, conheci e vivi. Hoje, estou ciente disso, reconheço meu erro, minha culpa e quero que cada um aqui multiplique essa idéia, cada um aqui se sinta co-responsável por fazer a nossa história, a história do nosso povo, diferente. Se unirmos, deixarmos as coisas pequenas e irrelevantes de lado e trabalharmos unidos, poderemos fazer deste reinado um palácio a céu aberto, um palácio para todos e não somente para o rei. Quero estar unido à vocês e não mais distante da realidade. Quero partilhar tudo o que há de bom em nosso reino, plantar e colher. Para isso, precisamos primeiramente lutar por um só ideal, o ideal da comunhão, da paz e do amor; precisamos fortalecer nossas muralhas, pois lá fora os inimigos são muitos, são fortes e se aproximam. Sabemos que existem alguns no meio do povo, dispostos a gerar desunião e discórdia. O espaço deles não mais existirá quando tomarmos a consciência da importância do nosso papel aqui dentro.
            Neste instante, todos se levantaram, gritaram, aplaudiram e aclamaram ao rei. Até mesmo os críticos comoveram-se pela sinceridade e humildade do rei. Todos, sem exceção, se dispuseram a trabalhar na reconstrução do reino.
            O amor venceu o ódio. A paz reinou. A união foi ponto decisivo no alicerce do reino. Sobretudo, a humildade do rei fez a diferença. O auto-reconhecimento como homem e falho, fez dele um ser que merecia ouvidos, méritos.
            O palácio, que outrora só servia para o rei, foi desfeito e todos os materiais re-utilizados no re-fortalecimento das muralhas. O rei refez sua morada de forma modesta, sem exagero e nada arquitetônico.
            Ele foi aclamado por seu povo, odiado por seus inimigos, plagiado em outros reinos e lembrado por seus feitos, principalmente por ter mudado a história do seu mundo, a história de seu povo, a história de sua vida.

Ailton Domingues de Oliveira
15/08/10