quinta-feira, 20 de setembro de 2012

"Fases"



Ao nos reconhecermos como gente, ao darmos conta de que temos potencial tudo começa a tomar forma e as mudanças ocorrem (...):

Já fui criança, de colo e de solo. Já esperei papel noel. Fiz promessas de melhorias comportamentais pra ganhar o presente tão esperado no Natal. Acreditava que o coelhinho da Páscoa tinha uma fábrica de ovos de chocolate. Queria muito voar na Terra do Nunca com o Peter Pan e um dia adentrar a sala da justiça dos Super-Amigos, lutar contra todo o mal e encurralar o mestre dos magos para que deixasse de enrolação e mostrasse logo a saída da Caverna do Dragão àqueles jovens...

Já fui adolescente, sonhador, tímido, pouco rebelde. Descobertas, frustrações, sensações... Um mundo à espera do meu alcance. Medo. Esperava que um dia salvaria a princesa em algum castelo e ela se tornaria o meu grande e eterno amor. Felizes para sempre como em todo filme! Amigos eternos que faziam parte da mesma sala de justiça no quintal de casa. Já brinquei de dar risada sem ter motivo. Encher a boca de coca-cola até soltar pelo nariz.

Já fui jovem, rebelde, revolucionário, cantador, fervoroso, romântico, bandido, atrevido, ousado, safado, briguento, amigo, amante... imprudente, inconsequente, eloquente! Insatisfeito com a situação social, com a rotina paranormal do ócio; inquieto com a ditadura ocultada por detrás das máscaras maquiadas e maquiavélicas de um sistema opressor que introduz um ópio alienante para que não se busque sabedoria. Já ganhei no grito! Já blefei sem cartas! Já corri morro acima pra não apanhar dos "carinhas" invejosos. Já roubei coração e já levaram o meu! Já conquistei e também já perdi! Fiz juras de amor eterno... e foi eterno até o fim, durante o tempo que durou. Senti o gosto do beijo, do queijo, da ira, da inveja, da ousadia frenética, da melancolia poética, da nostalgia profética, da trairagem camarada, da realidade dolorosa e alheia. Tomei dores que não tinha! Comprei brigas que não eram minhas!!! E, por quantas vezes, levei a fama da arte sem ter sido o protagonista do enredo. Não importa. Não mais agora. Deixei meu tempo, meu espaço, e até meus sonhos, para levar a outros, um pouquinho daquilo que acreditava ser o melhor, embasado na Fé, na crença, em Deus. E tudo valeu a pena!

Já voltei a ser criança, bem como adolescente e jovem, em todas as vezes que me foram necessárias. Sem perder a realidade que protagonizo e sem medo do que pensam. Afinal, não importa o que pensam. Não mais agora! Já defendi bandeiras e esqueci da verdadeira causa... Defendo o caminho que escolhi para, de certa forma servir a Deus. Não tem esquerda! Não tem direita! Tem um caminho de margens, esquerda e direita, que proporcionam paisagens diferentes, flores de várias cores, bem como tonalidades de terra, pedras de vários tamanhos e também espinhos.

Tudo a seu tempo acontece. O esperado e o inesperado. Não quero perder o meu espírito de criança e esperança, de adolescente e eloquente, de jovem e ousado, para a casca do meu corpo. Quero carregar comigo cada lembrança, cada fase e assim formar uma verdadeira história viva de outras tantas vividas. Não deixo jamais de encarar o presente. Ele está aqui, não há como fugir ou negar. Também não deixo de olhar rumo ao horizonte do futuro, mas já não me desespero mais... Aprendi, diante de tantas fases, que ainda posso aprender em cada dia um pouquinho mais. Agora, pelos opostos... Pra quem não se cala diante de qualquer fala, eis que busco em reluta a voz do silêncio que me obriga como a de minha mãe a fazer o que é certo. E o certo, muitas vezes dói, mas com certeza constrói um alicerce seguro.