quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Rascunhos: deserto e solidão


Mãe,
No inscrito ora escrito que sempre será proscrito
Deixo mais que carinho, deixo meu grito
Contido, entalado, que a voz não ressoa
No coração que não voa
No meu choro que ecoa
Uma dor que tenho e tu sentes
Mesmo de corpo ausente
Seu calor em amor que se faz presente
Mãe, te preciso
Como a planta da água
Como a dor do remédio
Como a solidão da presença
Basta que estejas...

Filho,
Companheiro, tesouro
Precioso, mais que ouro
Flor do jardim de minha vida
Perfume que refresca
Saberás um dia, mais que lhe posso ensinar
Ouvirás, sentirás dor
Mas aqui estarei, talvez longe...
Jamais distante, a te dar amor
Entenderás no orifício de cada entrelinha
Que um dia me parei a dedicar
Ali, bem ali, está uma lágrima
Muitas alegrias, alforrias, nostalgias
Verá que vale lembrar
Que vale amar, mesmo que custe feridas
E que amar, por vezes, faz doer
Que vale cultivar cada flor
E que flores contém espinhos
Que vale cativar bons amigos
E que mágoas fazem parte deste enredo
Mas os verdadeiros permanecerão, firmes ao teu lado
Que vale sempre levantar após o tombo
E mais que isso,
Vale a pena, vale a vida
Seguir um caminho seguro, o caminho de DEUS...



Irmã,
Na distância que nos separou um dia
Não pude diversas vezes te amparar
Perdi-me no tempo e no espaço
Em busca de conquistas e do mesmo espaço
Perdi também tempo...
Da herança da vida
O que és já me basta pra orgulhar de ti
Menina que virou mulher
Mulher que se tornou mãe
Me revolto diante da dor
De não te ter por perto...
Mas, mesmo neste deserto,
Busco fonte para um descanso
E em meio a pranto, vejo na paisagem
Ou miragem, teu rosto que me acompanha
E assim sempre será...
Aqui, ou acolá...



Pai,
O que dizer?
(...)
Tantas reticências, tantos espaços
Tantas ausências, falta de afagos
Me desoriento ao olhar para trás
E ver a distância percorrida
E o tamanho do vazio que virou solidão
Em busca de respostas me perco
As perguntas me norteiam
A não descansar de procurá-las
O choro vem, pelo que não vivemos
Talvez um dia,
Talvez...
Um dia...
O que dizer...
Apenas que amo você
Que sem saber como fazer
Foi meu herói,
Como foi também bandido de minha história
Mas, hoje continua a ser meu pai...



Um dia, será fim...
Para uns mais cedo, outros mais tarde...
É uma tendência, não uma regra.
Por fim, no fim,
Bastará saber que estivésseis comigo
Bastará saber que comigo estarás
No tempo,
No espaço
No deserto que nos separa
Na solidão que aprisionará a dor da ausência eterna...