sábado, 11 de junho de 2016

Das almas inquietas


A poesia me permite rezar sem nada dizer. Ela me permite também contemplar o místico do mundo. Viver uma espiritualidade libertada de amarras e libertadora por si só. Posso com ela questionar os doutos da fé ou de qualquer outro sistema e contrapor suas metáforas desvairadas. Apesar do risco da medieval excomunhão eterna dada pelos homens do poder religioso, que se consideram no direito de fazê-lo, e acreditam que são detentores da verdade absoluta, e que este poder lhes garante a dádiva de salvar ou simplesmente condenar a quem contrapõe suas ordens, apesar desses pesares eu assumo tais riscos diante das minhas escolhas.

Perguntaram-me se me tornei ateu ou se briguei com a igreja. Nem "a" nem "b". Continuo cristão. Porém, não compactuo com alguns critérios do sistema institucional, tampouco deixo de manifestar meus pensamentos por conta das classificações que podem me dar. Geralmente quem se encoraja para aplicar algum sermão desmedido e sem fundamento apenas repete o que ouviu algum dia. Nada que possa me colocar numa fogueira santa ou num apedrejamento em praça pública.

Viver a inquietude de não se contentar com as coisas impostas é algo para poucos. Não significa estar "de mal com a vida". Pelo contrário, o gosto da vida sem a imposição das suposições condicionadas é melhor e mais apurado. Questionar o inquestionável e ser taxado de subversivo ou herege é um mero preço pela liberdade do pensamento. Minha auto libertação não depende das mazelas regradas pelos homens e seus sistemas entorpecentes.

Quem vive feliz na submissão, sem questionamento, e obediente às regras, se é o que há de melhor para si, que continue. O livre arbítrio deve realmente ser levado ao pé da letra.

Do mais, posso apenas reafirmar que Jesus foi um cara inquieto, subversivo e considerado um blasfemador, pois sua luta foi contra um sistema religioso e político que oprimia as determinadas classes de pessoas, as grandes mazelas excluídas pelo poder.

Outro cara, acusado de ateu por sua liberta forma de pensar, e inquieto em seu tempo, que até hoje nos ressoa com sua ousadia foi Nietzsche. Os puritanos, os tradicionais e os radicais com certeza estufarão o peito para gritar palavras de ordem, em nome de sua arcaica fé. Afinal, classificar Jesus Cristo e o filósofo Friedrich Nietzsche como pessoas inquietas pode ser uma mega heresia. De qualquer forma o pensamento é livre e cada um tem o seu.