terça-feira, 24 de maio de 2016

Cartas em Tempos (XIV) - Capítulo Final


O velho do subúrbio não resistiu a cirurgia. De sua vida solitária restaram seus pensamentos anotados por sua "vxlha máquina dx xscrxvxr".

Os índios resistiram, apesar de grandes perdas. As mídias independentes conseguiram transmitir a barbárie cometida pelos fazendeiros, uma tentativa de expulsar os índios de suas terras. Nenhum poderoso foi preso. Porém, o governo teve de se manifestar e agir. 

O homem da rua continua em seu lugar, em sua rotina entre o perambular pela praça e amoitar-se do lado de fora do cemitério. Sua invisibilidade lhe permite não pagar impostos nem ter de dar explicações a terceiros. Uma vida onde ele mesmo é o fantasma.

No sertão, o homem de pele queimada pelo calor infernal do cangaço permanece em sua lida. Uma labuta constante para driblar a seca da natureza e a secura do coração dos políticos que não querem mudar aquele cenário. Apesar da descrença no homem faz suas rezas para os santos daquele chão.

O soldado retornou para sua terra. Nada mais estava como antes. Encontrou seu amor, teve filhos e leva uma vida fora da cidade grande, numa casinha branca na beira de um rio. Seus fantasmas ora o perturbam ora desaparecem. 

As cartas se corresponderam e as histórias se entrelaçaram. Ninguém se conhecia e ao mesmo tempo estiveram unidos pela esperança, pelas batalhas e pela grande luta da vida: sobreviver frente aos desafios

Cada personagem carrega um pouco do outro. Estão interligados. São pessoas desconhecidas que se cruzam através desta sessão de cartas. O que têm em comum é a guerra. Questionamentos, fé, esperança, utopia ou a falta de tudo isso que se resume em enigmas da vida. Razões e emoções.

É uma guerra muito mais psicológica do que real. As cartas partem sem destino e encontram outros semelhantes, caminhantes em aflição. Cada um é uma parte do consciente do outro... Talvez, sejam um só... Um protagonista de várias fases e vidas. Talvez seja eu... ou você.

Meus heróis deste sonho encerram-se com o despertar das horas. É hora de guardá-los, sacrificá-los talvez. Todos em um findam-se para a vida continuar... Em meio a tantas guerras, de tantos confins, sigo a vida, a rotina, aprumando pelos caminhos que se entrelaçam. Em cada estação, um pouco eu deixo, outra tanto eu carrego... 

Sou da mata, sou da rua, sou do sertão, sou da favela, sou da guerra...