quinta-feira, 26 de julho de 2012

"Pai, quando eu tiver meus filhos, você cuida deles pra mim?"

É...
Essa frase foi do Felipe. Foi num dia em que construíamos, juntos, um estaleiro para a parreira que crescia. Juntei alguns bambus e lá estávamos nós. Como não se emocionar com aquela pergunta? Saiu de uma forma tão displicente, inocente, mas com uma verdade e pureza inigualáveis naquele sorriso.

O fato de fazer buracos nos bambus mais grossos para que os finos transpassassem e assim se fixassem uns aos outros, e pedindo o auxílio dele para umas boas marteladas onde fora serrado, deixou-o feliz e sentindo-se útil. Ao fazer os buracos no chão percebia em seu olhar a dúvida sobre como ficaria aquela coisa.

Ele prontamente preenchia com a terra em volta dos bambus que seriam a base. Ao interligar os bambus e amarrá-los com arame ele se deu conta do projeto. Seu sorriso se abriu e aquela frase, tema deste enredo, saiu com a naturalidade e o amor de uma criança satisfeita e repleta de sonhos.

"É claro meu filho! Com certeza!!! Sempre que você quiser deixar seus filhos comigo será uma imensa alegria!" Essa foi a resposta dada naquele momento, disfarçando e segurando para que as lágrimas não rolassem na ribanceira da face. Naquele momento, ele já me alertava da responsabilidade e a tarefa maravilhosa de ser avô. Fui perceber isso bem mais tarde.

Claro que sempre tentamos acertar o máximo com os filhos. Usamos como parâmetro tudo aquilo que vivenciamos com nossos pais. Tentamos melhorar o que foi bom e não repetir os erros que consideramos que conosco cometeram. E, já temos a consciência de que na concepção desses eternos bebês então já maduros, neste futuro que a todos aguarda, em diversas vezes deixaremos a desejar.

Não só nesta data comemorativa que é o dia dos avôs e avós, representados pelos santos Joaquim e Ana, avós de Jesus Cristo, mas em cada dia, a importância destes personagens em nossas vidas e nas de nossos filhos tem uma significância abençoada. Eles tem a chance de acertarem ainda mais com os netos levando em conta a experiência que tiveram conosco, enquanto filhos. Tem a missão de mostrar a vida num tom bem mais educativo e amoroso, sem contar o auxílio que nos prestam em todos os momentos.

Hoje, longe daqueles que foram alicerce e exemplo em minha vida, carrego na lembrança aquelas formas carinhosas de dizer "não" ou de dar um puxão de orelhas, bem como o colo que cada um dava a seu jeito. Não fosse meus avôs e avós, acredito que minha vida não teria tanto sentido e sabor. Elas, mulheres, esposas, mães, avós, exemplo de cuidado e cuidado com amor. Eles, homens sem escrita e sem leitura, mas de uma cultura ímpar, honestidade, dedicação, responsabilidade, tantos adjetivos que nem sei como cabiam todos em seus corações.

Relembrar suas vidas é não deixar a história se romper no tempo e nem se apagar da memória. Faço questão. Faço gosto. Muitas vezes, busco aquietar o coração, em meio ao silêncio, trazendo a lembrança de episódios vividos com cada um destes super-heróis. E são tantos episódios, aliás, é uma vida de episódios... Penso como seria para cada um, olhar meu filho, então bisneto, e contar os mesmos causos repetidas vezes... Penso como seria a emoção deles ao olhar nos olhinhos desse bisneto e contar das peripécias que eu aprontara...

Histórias, lembranças, memórias... Ah, quanta saudade! Agradeço a Deus pelo privilégio de ter convivido e aprendido tantas coisas com meus bons velhinhos. Tenho a certeza de que sou uma pessoa abençoada com esta graça que hoje carrego apenas no coração. Faço muito gosto e questão, que meu filho sempre se atente para seus avôs e avós. Vez ou outra chamo-lhe a atenção para o carinho e o respeito que se deve ter com estes super-heróis. E, ele sabe e entende... sente e vive.

Feliz dia dos avôs e avós, esta classe de super-heróis que nos abençoa e nos transmite amor e paz incondicionais em tempo integral! Aos meus, rogo a Deus em oração, para que descansem em paz nos céus e que um dia, com certeza, nos reencontraremos.

PS.: Seu neto... que carrega com orgulho e saudade nas veias e no coração o nome e a memória de suas vidas.

Ailton Domingues de Oliveira.

26/07/12