sexta-feira, 20 de maio de 2011

Um olhar crítico sobre a realidade religiosa em tempos atuais

            Em alguns meses atrás, caminhando por algumas ruas do bairro, notei a quantidade de igrejas recém-criadas, com os mais diversos nomes. Em algumas quadras com até três nomes diferentes.
            Preocupação com o nascimento desordenado dessas instituições até existe, mas a maior é pelo número de adeptos que se prostram diante das mais variadas falcatruas escancaradas. Muitos deles são conhecidos nossos ou parentes.
            Quem procura algo para se firmar na fé geralmente toma essa atitude em momentos de fraqueza, desânimo, esgotamento, descrença e justamente aí o marketeiro de plantão atua com seu poderio ofensivo. Uma verdadeira guerra fria. Infelizmente.
            Ser pastor e ter uma igreja tornou-se uma profissão e um negócio. E mais uma vez digo: infelizmente! Qualquer um que apenas não tenha receio nem vergonha de falar usando o nome de Deus, simplesmente já se coloca ápto para assumir tal função. Não há estudo, não há preparação, não há respeito. Claro que há controvérsias e que em alguns lugares exista um fundamento cristão.
            O número de jovens adeptos a tais igrejas cresce. Crescem também as formas de comunicação, as armas de propaganda e marketing. E muitas igrejas estão atentas a esse novo formato, estão atentas as necessidades das pessoas. Neste mundo de crescimento rápido e desordenado, as pessoas se tornam individualistas ao extremo. E diante de tanto individualismo, o aumento dos casos de estresse, fadiga, depressão, também tem aumentado. É a doença de quem vive somente e tão somente o mundo moderno.
            De maneira desordenada, sem limites e sem regras, o mundo avança tecnologicamente rumo ao desconhecido. A única certeza, particularmente, que tenho é que alguma atitude precisa ser tomada. Unindo pensamentos, idéias, força de vontade, com nossos talentos, pela nossa fé, com ideal cristão, diálogo, planejamento e prática, acredito ser um caminho, não impossível mas também nem tão fácil.
            Dentre as igrejas evangélicas existe uma migração das pessoas em busca do melhor lugar, da maior emoção, da maior proximidade com DEUS. Eis o momento crucial em que atuam as igrejas novatas, melhor dizendo, seus pastores.
            Relato diante da realidade que vivo, que a maioria das pessoas buscam um Deus extremamente transcendental, um Deus que está apenas nas alturas, um Deus que apenas assiste a tudo e que diante das preces e súplicas de seus filhos acata ou não os pedidos de cada um. Isso é o que há de mais comum entre as religiões de maneira geral. Sem exceção.
            O ser humano, de maneira geral, tem buscado um encontro com Deus através e tão somente diante de celebrações (reuniões, místicas, encontros, rituais, etc) que interajam emoção, comoção e lágrimas. Este é um caminho percorrido que, de certa forma, contribui para o individualismo. Pensamos em Deus lá em cima, esquecemos de Deus presente em nossa vida, no dia a dia, no trabalho, na escola, no próximo.
A tão sonhada Civilização do Amor, projeto da juventude das décadas de 80 e 90, foi deixada para trás. Hoje o projeto é simplesmente “eu e Deus, eu e meus problemas interiores, a minha preocupação é unicamente comigo mesmo”. Buscamos o nosso bem. Egoísmo, talvez.
A velocidade do mundo impõe a necessidade de buscarmos este Deus que ameniza nossos problemas (estresses, depressões), nossas correrias que resultam em solidão, nossa falta de tempo para com a família, para com o próximo, para conosco, para com o próprio Deus...
Em busca de um bem-estar do corpo e do espírito, as pessoas, jovens principalmente, acreditam que o contato único com Deus se dá no individualismo da oração, das súplicas e tão somente aí. As orações e súplicas fazem parte de nossas vidas e de nossa fé, e são de extrema necessidade e importância, porém não podemos viver somente nas alturas, pois a realidade está aqui, na terra.
Uma conversão dada, “fisgada”, pela emoção, num primeiro momento funciona. Existe porem a necessidade de fixar os pés de volta ao chão e trabalhar a realidade, encará-la com olhos cristãos, discernimento, sensatez.
Ir alem das últimas fronteiras do ser humano e plantar algo não é fácil. Cada um reage a seu modo. Cada um tem o seu jeito de entender e botar em prática. Uns entendem e não põem em prática, outros não entendem e muitos menos praticam, mas há os que entendem e realmente saem na chuva pra se molhar.
Quando se busca e se identifica com Deus apenas nos momentos de emoções e comoções, corre-se o grande risco de estar vivendo fora do contexto da vida, fora do real, pois a vida não é feita de emoções somente. Existe a necessidade do trabalho árduo, mãos na massa, com todas as dificuldades e desentendimentos que possam surgir e é justamente aí, nesses momentos que nossa verdadeira fé é testada.
Hoje, mais do que em outras décadas a Teologia para a Libertação se faz necessária; a libertação do individualismo, do eu, do mundo do Deus das alturas...
Resgatar origens, histórias, planejar, reestruturar, inovar a metodologia de ensino-aprendizagem, à Luz do Evangelho, eis aí a oportunidade para todos nós, eis aí a necessidade da prontidão ao trabalho ...


Ailton Domingues de Oliveira